Paraná

MORADIA

Despejos em todo o país poderiam ser evitados

Nesta semana houve reintegração de posse na ocupação Monte União, em Almirante Tamandaré

Curitiba (PR) |
Mais de 6 mil famílias foram atingidas por despejos no país - Giorgia Prates

Na manhã de 11 de setembro, moradores da ocupação Monte União, há pouco tempo instalada na cidade de Almirante Tamandaré, divisa com Curitiba, tiveram que deixar o local, a partir de notificação de reintegração de posse, com a presença de grande contingente de policiais no local. 

A ocupação foi organizada pelo Movimento Popular de Moradia (MPM). Em outros dois episódios durante período de pandemia, na Ilha do Mel e em Araucária, a execução do despejo resultou em violência e ferimentos.  

Diante desse cenário, nacionalmente foi lançada a campanha Despejo Zero, uma articulação de mais de 100 entidades que conta com uma base de dados do Observatório das Metrópoles. 

De acordo com a campanha, foram identificados mais de 30 casos de despejos durante a pandemia, atingindo mais de 6.373 famílias. Mais de 50% dos casos ocorreram em São Paulo, com despejos contabilizados também em outros 13 estados. Até o momento, a campanha contabiliza ainda 85 casos de ameaças de despejo, impactando mais de 18.840 famílias. Tratam-se, muitas vezes, de ações violentas, no campo e na cidade. E os dados são menores do que a realidade.  

Daisy Ribeiro, advogada popular, assessora jurídica da Terra de Direitos, e que integra a Campanha Despejo Zero afirmou, no programa BDF 11h30 desta semana, que despejos forçados poderiam ser evitados, de acordo com o conceito de função social da propriedade. “É uma campanha de luta pela suspensão dos despejos e remoções forçadas. Temos muitas ameaças de despejos, no Paraná temos mapeado 6 casos em relação a 700 famílias, número menor do que a realidade. É fundamental uma rede de solidariedade.” 

Sobrevivemos dia após dia 

Juliana dos Santos Inácio, integrante do MPM e moradora da ocupação Nova Esperança, relata a situação de carestia e limitação de renda que obriga as pessoas a lutarem por moradia. De acordo com ela, as pessoas que estão na comunidade Nova Esperança e estavam na Monte União são: “Pessoas desempregadas, que não têm lugar para morar, idosos e idosas, que têm aposentadoria negada, pessoas que vêm atrás de uma luta a favor de moradia”, afirma. Para criar os oito filhos, produz doces e pães para sobreviver. “Todo mundo aqui luta para ter o seu ganha-pão, para sustentar seus filhos, sobrevivemos dia após dia”, afirma. 

Julian, membro do MPM, morador da ocupação Tiradentes, na Cidade Industrial, reforça que o despejo desrespeita o direito das pessoas, que não têm muitas vezes para onde ir, e o terreno por sua vez segue sem uso social. “As pessoas voltam a morar de aluguel ou de favor, ou para o alojamento da ocupação Nova Esperança”, relatou. 

Despejos na pandemia

Mais de 30 casos  
Atingindo 6.373 famílias
Em 14 estados  
85 ameaças de despejo 
Impactando 18.840 famílias 

Edição: Gabriel Carriconde