Ceará

Pandemia

Para o epidemiologista cearense Antônio Lima ainda é necessário evitar aglomerações

Em entrevista, o pesquisador comentou sobre as recentes aglomerações em praias, shoppings e outras áreas de lazer

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
Antonio Lima faz parte Comitê Estadual de Combate ao Coronavírus - ALCE

Confira a entrevista de Antônio Silva Lima Neto ao Programa Central do Brasil, doutor em saúde coletiva pela Universidade Estadual do Ceará e pós-doutor pela escola de saúde coletiva de Harvard, membro do Comitê Estadual de Combate ao Coronavírus no Ceará, sobre o atual momento da pandemia de covid-19.

Aglomeração descontrolada
Eu acho que a gente vive uma situação que é muito heterogênea ainda, você tem momentos diferentes em que a pandemia está se desenrolando, nos mais variados estados, inclusive nas mais variadas cidades, regiões. Em alguns locais já se passou por um pico importante, já se construiu em alguma medida uma imunidade elevada populacional e em outros você ainda está em uma tendência crescente. 

De toda maneira, quando você aglomera, quando há grandes aglomerações, em qualquer lugar que há circulação viral com participantes de áreas distintas que se encontram, por exemplo, em um balneário, em uma área turística, ou seja, tem a possibilidade de você encontrar o vírus, encontrar ali um grupo mais suscetível e provocar aquilo que a gente chama de surtos localizados. Foi mais ou menos o que foi visto nos balneários espanhóis, em Ibiza; também em toda aquela região das Astúrias, foi visto também no retorno de turistas por consequência, tanto na Inglaterra, quanto na própria França, ou seja, é um aglomerado de pessoas de regiões diferentes, onde se encontram e, eventualmente, não obedecem ao rigor da necessidade do isolamento e do uso da máscara, sobretudo quando se fala em aglomerações em praias.

Propagação do vírus no Brasil
No caso do Brasil, a gente vivenciou há algumas semanas e meses atrás um fenômeno, que era realmente esperado, é muito difícil quando a gente não tem uma coordenação nacional robusta, de resposta. Você não consegue ter a dimensão, o olhar mais abrangente do território nacional como um todo, que vivia momentos distintos da pandemia. 

Quando você tem um país de dimensões continentais é esperado que uma pandemia dessa magnitude, viva momentos distintos e que você se prepare, porque você sabe que vai haver um deslocamento e, de fato, nós passamos por muitas semanas com um platô muito elevado de mortes e de casos, e agora que a história seguiu seu rumo natural é que a gente começa a ter um decaimento importante em praticamente todas regiões, com algumas exceções.

Naturalização das mortes 
Infelizmente tem ocorrido essa normalização, normalizar esse evento morte, normalizar a ocorrência da doença, depois de tantos meses. Em muitas cidades com grandes desigualdades onde o evento fatal é muito mais frequente, seja pela violência, seja pela dificuldade de acesso, seja pela maior vulnerabilidade epidemiológica em geral, tende-se a normalizar algo que não era para ser normalizado. 

A responsabilidade do Presidente da República e do governo federal foi não ter dado o seguimento a um trabalho interessante que estava sendo feito, inclusive com participação efetiva de alguns pesquisadores, epidemiologistas, servidores públicos, naquele início com o Ministro Mandetta, onde tentou dar uma resposta robusta, como foi dada, inclusive, na época do zikavírus, o Brasil se notabilizou, foi reconhecido internacionalmente como um país que desenvolveu uma ampla capacidade de seus pesquisadores, seus servidores de responder a epidemia, isso é uma coisa antiga, que foi desfeita agora.
 

Edição: Monyse Ravena