Paraná

DIREITOS HUMANOS

“Parece que indígena não vale nada”, diz mãe de guarani assassinado no Oeste do PR

Cristian Martins morreu em março. Mãe relata descaso e omissão de investigação

Curitiba (PR) |
Assassinato ainda não foi desvendado - Arquivo Pessoal

Em abril, o Brasil de Fato Paraná noticiou o assassinato de Cristian Tupã Pepo Martins, de 20 anos, em Itaipulândia, Oeste do Paraná. À época, indígenas guaranis da aldeia Aty Mirim, onde vivia, denunciaram descaso na solução do crime. Cinco meses depois, sua família relata omissão e falhas na investigação. 

Cristian foi assassinado a facadas. O acusado do crime é o ex-marido da mulher com quem estaria envolvido amorosamente. O crime está sendo tratado como homicídio simples, com motivação passional. Para dona Maria Lucia Tacua Peres, mãe de Cristian, os últimos cinco meses foram perdidos em busca de respostas. Ela relata que a investigação está recheada de inconsistências e omissões.  

No dia do crime, Cristian saiu da aldeia rumo à casa de sua irmã, em Itaipulândia, e voltaria no dia seguinte. Levou uma mochila com uma muda de roupa. Às 20h46 dona Maria conseguiu o último contato. Depois, as mensagens já não tinham confirmação de recebimento. Por volta das 23h, seu pai recebeu ligação do Hospital informando a morte. 

Na casa da irmã, o pai encontrou a mochila que ele levara, com parte das roupas, além e uma panela com a comida que estava preparando. O corpo de Cristian foi encontrado a cerca de 2 quilômetros dali, próximo à casa da mulher com quem estaria envolvido. O depoimento do acusado relata uma “luta corporal”, na qual teria desferido uma facada em Cristian. O laudo pericial, porém, informa cinco facadas no peito e uma no pescoço. 

O local do crime não foi isolado e a perícia aconteceu um mês após, já tendo lá um novo morador. Segundo a Polícia Civil, “não há câmeras de segurança” e a única testemunha presencial, a mulher com quem Cristian estaria envolvido, “fugiu do local e mudou-se da cidade para lugar incerto e não sabido”. 

Dona Maria Lúcia conta que na região tem sido comum crimes contra indígenas sem solução. Em 2015, um sobrinho seu foi morto. Sem investigações e sem culpados. Em 2018, um parente guarani da Aty Mirim foi esfaqueado por um não indígena. Também sem punição. “Agora mataram meu filho e ninguém investiga”, diz. 

A mãe acredita que, se o crime tivesse sido cometido contra um não-indígena, seria diferente. “Com certeza iam vir correndo. Como é indígena eles não estão nem aí pra investigar. Parece que só porque é indígena a gente não vale nada”, afirma. O acusado do assassinato confessou o crime, mas continua em liberdade. A audiência para oitiva das testemunhas de acusação está marcada para 29 de março de 2021. 

Edição: Gabriel Carriconde