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“Muitas vezes a gente tira da boca pra pagar o aluguel”, afirma manifestante no Ceará

Famílias se organizam e cobram do poder público acesso a moradias dignas em Fortaleza

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
A ação visa beneficiar duzentas famílias. - Foto: Arquivo MLC

A pandemia de coronavírus contribui para o aprofundamento da crise econômica no Brasil, muitas famílias  perderam rendas e não conseguem pagar aluguéis ou parcelas da casa própria, diante dessa situação, o Movimento de Luta Comunitária (MLC) e Associação de Moradores da Granja Lisboa realizaram ato na última quinta-feira (6) reivindicando moradias dignas para as famílias organizadas nos movimentos e que, no período da pandemia, tiveram suas rendas diminuídas.  Kélvin Cavalcante, da direção do MLC lembra que muitas das famílias não têm renda, e por conta disso, não têm condições de pagar aluguel. “A gente organiza essas famílias para cobrar uma política de habitação popular”. A ação visa beneficiar 200 famílias, mas no ato esteve presente 80 famílias para evitar grandes aglomerações por conta da pandemia.

De acordo com ele, participaram do ato famílias organizados nos bairros da Sapiranga, Alamedas das Palmeiras, Passaré, Conjunto Palmeiras, Maria Tomásia e Granja Lisboa. O ato aconteceu em frente a Secretaria de Habitação de Fortaleza (Habitafor). “Ao chegar na Habitafor tinha alguns guardas municipais à frente com arma. A gente reivindicou que o movimento fosse recebido para tratar das pautas, apresentar a nossa demanda em relação a moradia e, se possível, tratar também dos alugueis sociais, caso a demanda não seja atendida”, informa Kélvin. 

De acordo com Kélvin, a ideia do ato surgiu pela questão econômica e a falta de uma política de habitação popular. “Muitas das famílias estão cadastradas no Programa Minha Casa Minha Vida, no Programa de Habitação de Fortaleza há três, cinco, dez anos e não tem uma resposta do governo sobre a sua demanda de moradia”. Estão previstas novas ações com o intuito de pressionar o poder público para o atendimento às demandas apresentadas, assim como, também estão previstas ações de diálogos com a população sobre a luta por moradia nesse período de forte crise econômica, social e de saúde. A importância da moradia para a saúde plena da população, que não dá pra gente ficar em casa sem ter casa, sem ter casas dignas para o isolamento social.

A realidade de quem não tem casa própria

“Por exemplo, eu. Eu sou operário da construção civil, né? Construo casas e não tenho casa. Moro de aluguel há bastante tempo”. O relato é de Cícero Bento da Silva, que também é integrante do MLC. Ele esteve presente no ato realizado e afirma que para a sua família, a casa própria representa uma grande vitória. Para ele, quem tem a casa própria já pode pegar o dinheiro que serviria para pagar o aluguel para colocar o alimento dentro de casa. “Muitas vezes a gente tira da boca da gente pra pagar o aluguel”.

Cícero fala sobre as dificuldades causadas pela pandemia como desempregos e a falta de acesso ao auxílio emergencial. Além disso, lamenta ver tantos imóveis abandonados na cidade e muitas famílias sem moradia. “Então fica bem difícil das famílias sobreviverem, sem ter onde morar, sem ter o que comer. Porque você sabe que hoje em dia aluguel praticamente é um luxo. Não tem um aluguel de menos de R$400 aqui em Fortaleza. Qualquer casinha em Fortaleza é R$400, R$500. E a gente luta por isso, por esse aluguel social, para incluir o movimento nesses empreendimentos que estão abandonados. É difícil ver tanto empreendimento abandonado e a população sem ter onde morar.”

Edição: Monyse Ravena