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Manifestações

Coluna Conflitos: julho tem atos de solidariedade e contra demissões na pandemia

Confira os protestos ocorridos em Curitiba e Região Metropolitana

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Trabalhadores votam pela continuidade da greve na Renault - Divulgação SMC

Esta é a coluna do Observatório dos Conflitos Urbanos de Curitiba, que apresenta o resumo dos principais protestos ocorridos em Curitiba e Região Metropolitana. O Observatório é composto por professores e pesquisadores da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Com a curva crescente de casos de coronavírus no Paraná, os protestos têm se reinventado em novos formatos. Com os efeitos da pandemia, a precarização dos direitos, demissões em massa, e a falta de políticas públicas, grupos modificam as formas de fazer manifestações, ocupar as ruas e redes de solidariedade se formam para combater a crise social e econômica.

Com quatro meses de restrições, diversas empresas reivindicaram medidas para evitar falência de estabelecimentos ou adotaram demissões em massa. Enquanto há pedidos de reabertura, outros grupos compreendem a necessidade de apoio do Estado ao demandarem créditos, prorrogação da quarentena e outras medidas que visem não só a economia, como também a preservação da vida.

Solidariedade e resistência em tempos de pandemia

Marcando a semana em que se comemorou o Dia Internacional do Agricultor e da Agricultura Familiar, ocorreu, na quarta-feira (22), na ação solidária "Marmitas da Terra", a doação de mil marmitas que vieram do trabalho de agricultores e agricultoras familiares e da reforma agrária. Por iniciativa do MST e de organizações parceiras, a ação ocorre em todas as semanas e já distribuiu 8.800 refeições.

As doações foram entregues para as pessoas em situação de rua do centro da capital, trabalhadores de aplicativos de entrega e moradores da Vila Uberlândia, do bairro Portão. Junto de cada marmita, havia frascos com composto de mel com açafrão para a melhora da imunidade, máscara, frasco de álcool em gel e água.

Para além da distribuição das marmitas, a ação cobra o avanço de políticas públicas de combate à fome e de incentivo à agricultura familiar e à reforma agrária e denuncia os efeitos nocivos dos agrotóxicos. Ainda, como parte da do ato, ocorreu um “faixaço” no Viaduto do Capanema, no bairro Cristo Rei, com frases como “Pelo Direito à Vida, Fora Bolsonaro, “Agrotóxico Mata”, “Agricultura Familiar pro Brasil não passar fome”. Além disso, 5.300 kits de alimentos foram distribuídos por assentamentos do MST para famílias em situação de vulnerabilidade social em Laranjeiras do Sul, Rio Bonito de Iguaçu, Quedas do Iguaçu e região em comemoração ao dia internacional da Agricultura Familiar.

De um lado, faltam planos emergenciais de apoio à grupos vulneráveis, neste momento da pandemia, e de outro o total descaso com o congelamento das políticas de reforma agrária no país.

Greve na Renault

Na terça-Feira, 21, a fábrica da Renault em São José dos Pinhais anunciou o fechamento do terceiro turno de produção e a demissão de 747 funcionários. Com a notícia, trabalhadores de todos os turnos se reuniram em assembleia na porta da fábrica com o Sindicato de Metalúrgicos da Grande Curitiba (SMC) e decretaram greve por tempo indeterminado a partir do dia 24.

De acordo com a empresa, desde o início da pandemia, em março, houve a aplicação de soluções de flexibilidade como férias coletivas e a MP936 para o enfrentamento da crise da Covid-19. Com o agravamento da situação, queda das vendas em 47% no primeiro semestre, e a falta de perspectiva de retomada do mercado, a Renault buscou negociações com o Sindicato. Segundo a empresa, eles vêm, nos últimos 50 dias, trazendo propostas para a necessária adequação da estrutura fabril, como a Proposta de Demissão Voluntária (PDV), no dia 17, que foi negada pelos trabalhadores.

Na quarta-feira, 22, o diretor do Sindicato, Nelson de Souza, foi até a Assembleia Legislativa buscar apoio dos parlamentares para reverter as demissões. Para os trabalhadores, é possível encontrar outras saídas, como o “lay-off”, banco de horas, suspensão temporária, redução de jornada. Mas não houve sinalização por parte da empresa de aceitar essas opções. Em 5 de agosto, a Justiça do Trabalho determinou a anulação das demissões, mas a empresa ainda pode recorrer.

Repúdio ao fim do isolamento no Paraná

Nove centrais sindicais do Paraná emitiram nota pública em que repudiam a não prorrogação do decreto de quarentena restritiva. A decisão de Ratinho Jr. permitiu a abertura de serviços não essenciais. Para as entidades, os governos precisam tomar decisões que beneficiem a sociedade como um todo, e não apenas uma parcela, que tem como objetivo lucrar. Reforçam que tal decisão não é meramente econômica, mas uma decisão humanitária.

Reafirmam, assim, que a decisão do governo vai na contramão da proteção à vida e que o momento é de aprofundar as medidas e orientações de isolamento social, de gerar ações propositivas e solidárias para garantir manutenção da renda, empregos e direitos trabalhistas, para que as trabalhadoras e trabalhadores possam enfrentar o isolamento com dignidade e segurança.

Demissões em instituições privadas de ensino causam manifestações

Diversos professores das instituições UniCuritiba, Universidade Positivo (UP), Uninter e UniBrasil foram dispensados sob o pretexto da pandemia da Covid-19. Frente ao cenário, estudantes da UP fizeram manifestação no sábado, 11, num movimento chamado "ResisteUP", contra o “sucateamento da instituição”. A carreata reuniu estudantes em buzinaço em frente à sede da instituição, no bairro Campo Comprido. Em nota, a UP/Cruzeiro do Sul informou que as recentes demissões de docentes fazem parte da rotatividade normal de funcionários da instituição. O Sindicato dos Professores do Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana (Sinpes) afirmou que a categoria pode entrar em greve para tentar frear essa onda de desligamentos.

Segundo Valdyr Perrini, presidente do Sindicato, a pandemia tem servido apenas como pretexto para as demissões, já que estas universidades são parte de grupos econômicos que visam ao lucro e que outras universidades da capital não estão reagindo à pandemia da mesma forma. A Universidade Positivo foi comprada pelo Grupo Cruzeiro do Sul, que está transformando os cursos em EaD (ensino a distância).

Paralisação nacional de entregadores de aplicativos

Em 1º de julho, foi realizada greve nacional dos entregadores de aplicativos por melhores condições de trabalho. Em Curitiba, a manifestação ocorreu por meio de um buzinaço, com cerca de 200 motoboys e entregadores nas ruas centrais da cidade. Os manifestantes também pediram apoio da população para não haver entrega por aplicativos nesse dia. O movimento pede aumento do valor mínimo da corrida e da remuneração por quilômetro rodado, seguro de vida que inclua cobertura de roubos e acidentes, sala de apoio para aguardar o chamado dos aplicativos e fornecimento de equipamentos de proteção individual contra o coronavírus.

Manifestações em prol de comércios e serviços

Devido às restrições do isolamento social, foram realizadas manifestações para amenizar a crise financeira. No domingo, dia 26, feirantes realizaram panelaço na Praça Anita Garibaldi pelo retorno da feirinha do Largo da Ordem, uma vez que shoppings e feiras livres já receberam liberação. Representantes de academias realizaram protesto, no dia 20, em frente à Prefeitura de Curitiba, reivindicando a reabertura por conta de crise financeira no setor.

Outras três reivindicações foram feitas pela liberação de créditos e pelo Programa Juro Zero. No dia 13, o dono do Bar Torto se acorrentou em frente à agência da Caixa, após não ter crédito liberado. No dia 10, o coletivo Fechados pela vida fez projeções em dez pontos da cidade pedindo a aprovação do Programa Juro Zero. Também realizaram atividades nas redes sociais com a mesma proposta. No dia 4, a Associação Brasileira de Bares, Restaurante e Casas Noturnas (Abrabar) realizou manifestação em frente a hospitais de Curitiba. Foram colocadas cruzes para representar a morte dos estabelecimentos. Reivindicavam abertura de créditos e adiamento do pagamento do 13º aos funcionários.

Confira outras manifestações que ocorreram no mês de julho:

* Integrantes do Movimento Brasil Livre de Curitiba, Curitiba Contra a Corrupção e outros manifestantes a favor da Lava Jato realizaram ato em frente ao Ministério Público Federal, no dia 29/7, após declarações do procurador-geral da República contra a operação.

* Estudantes de Curitiba lançaram a campanha “você nunca estará sozinha”, em 28/7, para incentivar denúncias de casos de violência doméstica.

* Militantes de movimentos, partidos de esquerda, torcedores dos times do Athlético, Coritiba e Paraná realizaram ato antifascista na Praça Santos Andrade, no dia 26/7, contra as políticas arbitrárias do atual governo e a favor da democracia.

* Manifestantes bloquearam a BR 277, sentido litoral, próximo ao quilômetro 77, em São José dos Pinhais, no dia 4 de julho, para reivindicar o restabelecimento da energia elétrica. A interrupção no abastecimento ocorreu no dia 30 de junho, devido ao vendaval que atingiu o Paraná.

Edição: Frédi Vasconcelos