Em uma quinta-feira de julho, no dia 9, no meio da tarde, por volta das 15h, uma vendedora ambulante de balas foi vítima de tentativa de homicídio no Centro de Curitiba, nas proximidades da Rua Mariano Torres com a Avenida XV de Novembro. M.*, de 41 anos, travesti, foi atacada com tíner (solvente utilizado em tintas e vernizes, altamente inflamável) e teve seu corpo e rosto queimados.
No dia 13, o Hospital Evangélico de Curitiba, que atendeu à vítima, fez a notificação de violência à Delegacia de Homicídios e Proteção a Pessoas (DHPP). Como M.* não vivia com familiares, nem tinha qualquer rede de apoio, o serviço de assistência social do hospital entrou em contato com o Grupo Dignidade, organização voltada para a promoção de direitos a lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, intersexuais (LGBTI+). Desde então, o grupo tem acompanhado o caso, com suporte legal e psicológico à vítima.
Rafaelly Wiest, diretora de Informação do Grupo Dignidade e diretora Administrativa da Aliança Nacional LGBTI, conta que casos como o de M. têm sido recorrentes na cidade. Nos últimos dois anos, ela atendeu a outras cinco pessoas trans que foram vítimas de atentado com fogo. No dossiê “Mapa dos Assassinatos”, elaborado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais, o Paraná aparece na sexta posição entre os estados que mais matam população trans: nos últimos três anos, foram 24 pessoas assassinadas por serem trans.
Weist explica que, em um país acostumado com a violência, tais números podem não parecer alarmantes. Porém, o fator comum em crimes contra a população trans é a marca do ódio. “São crimes com 50 facadas, 30 tiros, mutilações... é o que vimos com M.: atear fogo na pessoa viva. O nível de agressividade e violência é absurdo. Além do ato criminoso e odioso que é matar uma pessoa, isso vem com requintes de crueldade”, afirma.
M. teve alta do hospital no dia 23, prestou depoimento à polícia na sexta (24). Ela vivia em pensionato, pago com o dinheiro da venda de balas. Após o atentado, sem condições financeiras e sem poder voltar a trabalhar, ela está, agora, na casa de uma amiga. Por meio das câmeras de segurança do local do atentado, a DHPP conseguiu identificar um suspeito e segue investigando.
O Grupo Dignidade está recebendo doações de roupas, remédios, gás para ajudar M., em sua sede: Av. Marechal Floriano Peixoto, 366. Conj. 47. Para mais informações sobre como ajudar, entre em contato: (41) 3222-3999 ou (41) 99651-4204.
*Para proteger a vítima, o nome foi ocultado
Edição: Frédi Vasconcelos