Paraná

ENTREVISTA

“Empresários não devem ditar medidas de flexibilização”, diz empresária curitibana

Janaina Santos, empresária, e uma das líderes do movimento ''Fechados pela Vida'', falou sobre as demandas do grupo

Curitiba (PR) |
Janaína Santos é uma das lideres do movimento ''Fechados pela Vida'' - Foto: Arquivo Pessoal I Diagramação: Vanda Morais

“Fechados pela vida” é um movimento criado por donos de bares e restaurantes de Curitiba que defendem o fechamento de estabelecimentos comerciais enquanto os dados da saúde não mostrarem que o cenário é propício para a reabertura. Para que possam se manter fechados, operando apenas no sistema “delivery”, pedem socorro econômico do poder público e um planejamento mais claro para o combate à pandemia.

Em entrevista ao Brasil de Fato Paraná, Janaína Santos, empresária do ramo da gastronomia e uma das líderes do movimento, explica as principais reivindicações feitas aos governos estadual e municipal.

Brasil de Fato PR – Como e por que vocês formaram este movimento?

Janaína Santos – É porque a gente não se via representado pelas falas de alguns grandes empresários paranaenses e até mesmo de entidades que representam a nossa categoria. Pois eles estavam lá, em abril, brigando para abrir. E, do nosso lado, víamos que não existiam dados de órgãos da saúde que balizassem esse pedido. Tínhamos um pensamento em comum: que não era hora de flexibilizar e defendíamos manter a quarentena. Mas
também precisávamos de recursos para conseguir nos mantermos fechados. Nossa existência é também para cobrar dos governos uma política de apoio aos empresários que desejam contribuir com o distanciamento social, mas que precisam sobreviver. Não somos nós, empresários, que temos
que ditar medidas de flexibilização. Isso deve ser feito por especialistas da Saúde.

Brasil de Fato PR: Como vocês que defendem o fechamento neste momento mais crítico da pandemia, estão se mantendo? 

Janaína Santos: Eu tenho um restaurante que foi preparado para atender público. Então, meu aluguel é mais caro, eu tenho uma equipe maior. Mantive minha equipe para trabalhar para o delivery, com os mesmos custos que são altos.  Tem sido bastante difícil porque a maioria das pequenas empresas não te conseguido crédito. Segundo o SEBRAE, 605 das pequenas empresas brasileiras não conseguiram acesso á linhas de crédito. Sem isso, fica difícil se manter. Outro ponto é que a maioria dos negócios migrou para delivery aumentando a concorrência e também com um modelo ainda não preparado para o momento atual. Acho então que a falta de planejamento do poder público que não fez um lockdown mais rígido pode nos manter nessa situação sem um momento de reabertura seguro.    

BDF - Quais são as principais reivindicações do movimento?

Janaína Santos – Nossa pauta é ampla. Vai desde exigir que o poder público cumpra os seis critérios para permitir a flexibilização determinados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a nosso pedido de socorro econômico para que possamos continuar contribuindo com o distanciamento social. Tentamos de várias maneiras diálogo com os governos estadual e municipal. Porém, aqueles que defendem e pressionam pela reabertura foram atendidos e, nós, não. Importante destacar que também enviamos ofício para o Ministério Público pedindo que a Prefeitura de Curitiba mostrasse dados técnicos que embasassem a reabertura e pedido de fiscalização. Nossa última ação foi um abaixo-assinado que conseguiu 15 mil assinaturas em apoio às nossas pautas.

Brasil de Fato PR: Esta pandemia trouxe que lições aos donos de bares e restaurantes? E para Curitiba?  Janaína Santos: Esta situação da pandemia escancarou para nós o quanto pagamos enormes impostos e na prática o governo é minúsculo em ação. No momento que mais precisamos, não houve planejamento, só ausência de ação. Para mim, acho que a maior lição é prestar mais atenção nos governos e continuar cobrando que cumpram sua função de fazer politicas publicas em todos os níveis.  

Edição: Gabriel Carriconde