Ceará

Justiça

No Cariri cearense, assassinato de jovem negro segue por seis anos sem solução

Eduardo Vieira Davi Dutra foi assassinado em 2014 quando voltava para casa após uma festa.

Brasil de Fato | Juazeiro do Norte (CE) |
Eduardo completaria 20 anos em outubro. - Foto: Acervo pessoal / Facebook

Este ano, a tradicional Expocrato teve sua realização adiada devido a pandemia. Enquanto para alguns a chegada de julho sem a festa pesa pela nostalgia dos bons momentos, para a família e amigos de Eduardo Vieira David Dutra, também conhecido como Eduardo Café, a época é marcada pela dor do seu assassinato que segue sem solução por seis anos recém completados hoje, dia 20 de julho de 2020. 

Crime sem solução

Eduardo foi assassinado no dia 20 de julho de 2014 quando voltava para casa após uma noite de festa no parque de exposição da cidade do Crato, a Expocrato, um dos maiores festejos da região do Cariri cearense. As investigações iniciais apontaram que Eduardo teria sido seguido pelo caminho até a sua casa, localizada no bairro Seminário na cidade de Crato, quando foi interceptado por um carro grande modelo Hilux de cor prata. De dentro do veículo foram disparados tiros que atingiram Eduardo e outro rapaz, Luesley Alencar Santos, que pilotava a moto que conduzia o jovem no caminho de sua residência. 

De acordo com informações divulgadas na época do crime, Eduardo foi atingido por três tiros. Mesmo sendo encaminhado para o socorro de emergência, não resistiu aos ferimentos e veio a óbito pouco tempo depois de ser atingido. Luesley também foi ferido, mas sobreviveu. Nenhuma das vítimas tinha qualquer antecedente criminal de acordo com informações da polícia.  

“Ele partiu tão jovem...

Que nem teve tempo suficiente para pensar em como seria sua vida, seu futuro...” diz emocionada Maria Eduarda Vieira, irmã de Eduardo. Ela define seu irmão como um rapaz quieto e brincalhão, que não gostava de brigas. O garoto servia no Tiro de Guerra, unidade do Exército Brasileiro para alistamento de jovens no serviço militar obrigatório. Apesar de acordar todos os dias as 5h da manhã, Maria Eduarda conta que seu irmão gostava de prestar o serviço militar. “Ele também gostava muito de malhar e iria prestar o vestibular para o curso de educação física já que gostava muito de esportes, foi o curso em que ele se identificou” completa Eduarda. Em seu perfil ainda ativo no facebook, muitas pessoas entre amizades e familiares prestam homenagem ao “Cafezinho” como era chamado em algumas das postagens. No dia 7 de outubro, Eduardo completaria 20 anos de vida.  

Violência racista

A morte brutal do jovem Eduardo dá corpo a uma estatística assustadora. Segundo o informativo “Desigualdades sociais por cor ou raça no Brasil” desenvolvido pelo IBGE, publicado em novembro de 2019 revela que a taxa de homicídios entre pessoas negras e pardas é de 43,4 mortes para cada 100 mil habitantes. Para pessoas brancas, a mesma taxa é de 15,3. Entre jovens negros entre 19 e 29 anos o número é de 200 mortes por 100 mil habitantes. 

A população negra também é a que mais morre vitimada pela violência policial. A Rede de Observatórios da Segurança, iniciativa de instituições acadêmicas e da sociedade civil da Bahia, Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo dedicada a acompanhar políticas públicas de segurança e a criminalidade nesses estados, publicou no dia 15 de julho um relatório apontando que 75% das mortes por violência policial nos estados são de pessoas negras. 

Rodrigo Leandro de Moura, um dos autores da pesquisa intitulada “Vidas Perdidas e Racismo no Brasil” realizada pelo Instituto de pesquisa Econômica Avançada (IPEA), afirma em entrevista ao Portal do Instituto da Mulher Negra – Geledés que 20% da mortalidade da população negra pode ser atribuída a questões socioeconômicas. No entanto “os outros 80%, podem ser explicados por uma variável socioeconômica que não observamos, mas, apesar de não conseguirmos imaginar qual seja, pensamos que um componente importante para explicar esse dado seja o racismo” completa.

Sem justiça sem paz

Em 2014 foram articuladas e iniciadas diversas manifestações pedindo por justiça para Eduardo Café. A família junto com populares, amigos e movimentos populares foram as ruas clamar para que as autoridades competentes a resolução do caso e a punição para os assassinos. 

Hoje seis anos após seu assassinato, ainda se ouve o clamor por justiça de quem nunca deixou a memória de Eduardo se perder no tempo dos arquivos judiciais. “É revoltante saber que quem fez isso com ele ainda continua aí vivendo a sua vida enquanto destruiu uma família toda. A justiça não o trará de volta, mas irá aliviar um pouco os nossos corações.” ressalta Maria Eduarda. Procurada pela reportagem, a defensoria pública de Crato informou que o caso segue para a segunda instância onde pode ir a júri popular. 
 

Edição: Monyse Ravena