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Coluna Conflitos: atos antirracistas marcam mês de junho

Confira os protestos ocorridos em Curitiba e Região Metropolitana

Curitiba |
Mais de mil pessoas participaram de manifestação antirracista - Giorgia Prates

Esta é a coluna do Observatório dos Conflitos Urbanos de Curitiba, que apresenta o resumo dos principais protestos ocorridos em Curitiba e Região Metropolitana. O Observatório é composto de professores e pesquisadores da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Desde março, o Brasil enfrenta o cenário da pandemia causada pelo Covid-19. Neste contexto, há modificação nas formas de organização e manifestação política analisadas pelo Observatório de Conflitos Urbanos devido às recomendações de distanciamento social para combater a propagação do vírus. 
Parte das manifestações é motivada pelas ações contraditórias em relação às ações emergenciais na saúde e na economia tomadas pelas três esferas de governo e por empresas. Diversas pesquisas revelam um agravamento das desigualdades no Brasil nesse período, e o conjunto de manifestações indica a necessidade da defesa da vida. Evidenciam, também, a conexão presente nas manifestações entre o autoritarismo e a desconsideração das demandas sociais, como a repercussão do Black Lives Matter no Brasil no início do mês.

Vidas negras importam - atos antirracista e antifascista em Curitiba
No dia 1º de junho, mais de mil pessoas foram às ruas, em uma manifestação antirracista, acompanhando uma série de protestos ao redor do mundo, após o assassinato de George Floyd pela polícia dos Estados Unidos. Diversas entidades e coletivos organizaram a manifestação, que teve sua concentração na Praça Santos Andrade, de onde partiu em passeata pacífica até o Centro Cívico.
O protesto era contra o racismo estrutural presente na sociedade brasileira e a política de extermínio da população negra. Conforme noticiado, o ato terminou com excessiva força policial após atos de vandalismo. Os organizadores dizem que a depredação pode ter ocorrido por infiltrados, com a intenção de criminalizar o movimento. Além disso, também afirmam que os policiais cercaram e dispararam tiros contra jovens e, mesmo após a dispersão do ato, continuaram a coagir grupos que encontravam pelas ruas. No final da noite houve a prisão de seis manifestantes.
Após serem veiculadas, em redes sociais e imprensa, críticas e acusações de vandalismo por parte dos manifestantes, os organizadores, por meio de uma carta, declararam que utilizaram proteção a fim de evitar a propagação do coronavírus, que se comportaram de maneira ordeira em defesa da democracia e contra o racismo.
Após o ato antirracista do dia 1º, o lutador Wanderlei Silva convocou uma manifestação para demonstrar repúdio contra as depredações que aconteceram. O ato aconteceu na terça-feira, dia 2, e contou com a participação de lutadores e profissionais de academias, que se reuniram na Praça 19 de Dezembro e foram em passeata até o Palácio Iguaçu, onde hastearam uma bandeira, cantaram o hino e rezaram. Além disso, o reitor da Universidade Federal do Paraná também declarou repudiar os atos de depredação ocorridos em frente à universidade.
No dia 3 de junho, foi realizado ato simbólico, em que representantes do Movimento Negro Organizado de Curitiba entregaram uma bandeira nacional ao chefe da Casa Militar do Governo do Estado, tenente-coronel Welby Pereira Sales, repudiando a queima da bandeira do Brasil, que ficava hasteada em frente ao Palácio Iguaçu.
Uma segunda manifestação antirracista e antifascista ocupou as ruas curitibanas no domingo, 7, com concentração e destino iguais ao ato anterior, contando com grande aparato policial, incluindo Rotam, Rone, Guarda Municipal e um helicóptero sobrevoando baixo. A polícia cercou a Praça Santos Andrade e os manifestantes eram revistados antes de chegar ao ato. Os manifestantes carregavam cartazes, com nomes das vítimas do genocídio negro e periférico. Entre os alvos do protesto estava justamente a Polícia Militar, que, em suas operações, é responsável pela morte de considerável parcela da população negra assassinada.
Em 22 de junho, aconteceu um protesto de um grupo contrário às manifestações antirracistas e antifascistas, que sob o canto do hino brasileiro e dizeres “A nossa bandeira jamais será vermelha” saíram da Praça da Mulher Nua até o Centro Cívico.

Protesto finca cruzes em praça contra medidas da Prefeitura de combate ao Covid-19
Na manhã de segunda-feira (22/6), empresários manifestaram-se contra as medidas tomadas pela Prefeitura para o controle do coronavírus. No movimento nomeado “Covidão do Greca”, cruzes brancas de madeira foram posicionadas na Praça 29 de Março, no bairro Mercês, com frases provocativas direcionadas ao prefeito. Além de criticar o fechamento das atividades comerciais, determinado pelo decreto 774/2020, o ato também criticou a restrição de algumas atividades, como igrejas e templos religiosos, enquanto outras atividades seguiram funcionando plena ou parcialmente. A manifestação ocorreu logo após Curitiba registrar recorde no número de óbitos causados pelo vírus.

Movimento “Fechados pela Vida” pede lockdown
O movimento “Fechados pela Vida”, composto por 200 pequenos empresários de Curitiba dos setores de gastronomia, entretenimento, bares e lojas, começou abaixo-assinado no dia 17 de abril com o objetivo de pedir às autoridades lockdown e outras medidas de combate à pandemia. O documento foi entregue ao poder público com mais de 15 mil assinaturas (o grupo esperava coletar 5 mil), com o argumento de que em breve o sistema de saúde iria colapsar. Outra reivindicação foi que a Prefeitura apresentasse um plano econômico para assegurar a sobrevivência das pequenas empresas.

Protestos para reabertura após bandeira laranja
Diversos protestos foram registrados após o decreto da Prefeitura de Curitiba. Com o alerta laranja, foi ordenado o fechamento de academias de práticas esportivas; igrejas e templos religiosos; praças e parques públicos. Entre os agentes reclamados, estavam donos e frequentadores dos locais, protestando no sábado, dia 13, em frente ao prédio em que mora o prefeito Rafael Greca. Na segunda, 15, profissionais de Educação Física se reuniram em frente à Prefeitura pedindo a reabertura das academias. No mesmo dia, foi cancelado um protesto devido à determinação da Justiça de proibir manifestações com aglomerações em Curitiba, que reuniria empresários, trabalhadores e colaboradores de bares, restaurantes, casas noturnas.

Confira mais manifestações que ocorreram no mês de junho
•    Funcionários dos Correios, em São José dos Pinhais, decretaram greve após uma funcionária testar positivo para Covid-19 e constatarem negligência com as normas de segurança.
•    ONG BPW Curitiba, em conjunto com mulheres profissionais de diversos seguimentos, enviaram pedido para a Superintendência Regional do Trabalho fiscalizar discriminação salarial entre mulheres.
•    Observatório de Justiça e Conservação realizou ato em frente às sedes dos poderes Legislativo e Executivo do Estado pela preservação ambiental.
•    Artistas de Curitiba enviaram carta ao prefeito Greca para demonstrar a importância do setor da cultura na economia e reivindicar ações emergenciais, como a liberação do recurso do Fundo Municipal de Cultura para o setor.
•    Alunos da UniCuritiba protestaram contra a nova matriz curricular e a demissão de professores da universidade em meio à pandemia.
•    Empresas de fretamento fizeram carreata para chamar atenção sobre a situação financeira do setor. O sindicato, Sinfretiba, afirmou que não existir pauta justificável para apoiar a manifestação.
•    Grupos políticos antifascistas realizaram manifestação na Praça Santos Andrade contra o baixo investimento na saúde no combate ao Covid-19.
•    Família do bairro Fazendinha é ameaçada de despejo no período de pandemia, após decisões contraditórias, que em 2016 reconhecia a permanência da família no local e em 2019 deixou de reconhecer tal direito.
 

Edição: Frédi Vasconcelos