Rio de Janeiro

Petrobras

“Temos de gritar todos os dias: o Brasil não está à venda”, diz Lula aos petroleiros

Ex-presidente apontou a sua prisão e o golpe de 2016 como partes do plano de retirar o pré-sal do controle do país

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Em sua fala, Lula ainda afirmou: “a única luta que a gente perde é aquela que a gente não tem coragem de fazer” - Reprodução

“Nós estamos nos tornando uma republiqueta. Exportando óleo cru e importando derivados, de péssima qualidade como foi o caso da gasolina estragada de avião”, afirmou o ex-presidente Luiz Inácio nesta quarta-feira (15), durante a mesa de abertura virtual do 18º Congresso da Federação Única dos Petroleiros (Confup). O ex-presidente ainda complementou que a privatização da maior empresa nacional precisa ser entendida como um risco para todos os brasileiros. “Defender a Petrobras é uma coisa de 210 milhões de brasileiros. Temos de gritar todos os dias: o Brasil não está à venda, o Brasil não é mais colônia”, avaliou.

Lula também chamou atenção para o entendimento que promoveu sobre a companhia durante seus governos, nos quais a presença se estendeu dos poços de exploração aos postos de combustíveis. “Eu nunca tratei a Petrobras como empresa de petróleo. Eu sempre tratei como uma indústria geradora de desenvolvimento, como carro chefe em pesquisa, inovação e produção de novas tecnologias”, pontuou.

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Nesse sentido, o ex-presidente apontou a sua prisão e o golpe sofrido pela ex-presidenta Dilma Rousseff, em 2016, como partes de uma estratégia para retirar o pré-sal do controle do Estado brasileiro. “Eles prepararam uma mentira com a Lava Jato. Era preciso desmoralizar a Petrobras para atender aos interesses dos norte-americanos de desmontar o regime de partilha. Por isso, era preciso desmoralizar o PT e tirar a Dilma, para que o Lula não pudesse ser candidato de novo. Tudo para privatizar a Petrobras aos pedaços e fazer o país  importar gasolina dos Estados Unidos”, explicou.

Durante sua fala, o recém eleito coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, reforçou essa relação entre o judiciário brasileiro e o governo norte-americano. “Acompanhando o Twitter do Lula, verificamos que hoje foi feita uma postagem com uma provocação interessante sobre a Lava Jato e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Na minha opinião, faz todo o sentido, há um relacionamento íntimo da Lava Jato e o governo norte-americano. Isso fica comprovado quando analisamos a linha do tempo dos últimos anos, de 2003 até hoje”, assegurou Bacelar.

No ano seguinte ao golpe, em 2017, a Petrobras diminuiu a produção de derivados e as importações dispararam. De acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), houve um crescimento nas importações de gasolina e diesel de 53% e 63%, respectivamente. Por outro lado, o fator de utilização das refinarias da Petrobras foi de apenas 72,5% - com capacidade de 2,4 milhões de barris por dia de petróleo, produziram somente 1,74 milhões. Essa tendência se mantém no governo de Jair Bolsonaro (sem partido).

Desafios

Diante deste cenário, Lula acredita que a categoria petroleira precisa fazer um esforço para estender a luta contra a privatização da Petrobras a toda população brasileira. “Os petroleiros têm o dever de contar essa história para a sociedade brasileira. Os petroleiros não podem falar apenas com os petroleiros, têm que falar com o país. Não produzam boletins para petroleiros, produzam boletins para a sociedade. Para que todos saibam o que está acontecendo na maior empresa estratégica desse país”, opinou.

Apesar da conjuntura difícil, Lula saudou o papel de resistência que a categoria petroleira tem desempenhado e foi enfático na mensagem que deve prevalecer na luta popular no próximo período: “a única luta que a gente perde é aquela que a gente não tem coragem de fazer”.

A saudação da ex-ministra Tereza Campello, que também participou do debate, caminhou no mesmo sentido. “Vocês, petroleiros e petroleiras, são orgulho muito grande para nós no Brasil, pois sempre tiveram à frente da luta nesse processo de resistência”, afirmou Campello.

O ex-coordenador da FUP, José Maria Rangel, complementou que a entidade tem três desafios principais para a próxima gestão. “A direção da FUP que assume tem desafios fundamentais. Primeiro, a luta da democracia no Brasil, já que hoje o país namora com o fascismo. E lutar pela democracia é lutar também pela retomada dos direitos políticos do ex-presidente Lula. Ainda temos o dever de lutar pelos direitos, que foram retirados nos últimos anos pela reforma trabalhista e da previdência, por exemplo. E, por fim, lutar pela defesa da Petrobras”, elencou Rangel.

Devido à pandemia do novo coronavírus, pela primeira vez na história, o congresso está sendo realizado de forma totalmente digital. Pela manhã, os delegados habilitados votaram na chapa única que ficará à frente da entidade nos próximos três anos (2020-2023). A responsabilidade da coordenação foi assumida pelo diretor do Sindipetro Bahia e petroleiro da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), Deyvid Bacelar.

Fonte: Sindipetro Unificado - SP

Edição: Mariana Pitasse