Paraná

AUMENTO NO PARANÁ

Lideranças e pesquisadores denunciam contágio na periferia e falta de políticas

Ausência de regularização fundiária, falta de atuação dos órgãos públicos de urbanismo e assistência social

Curitiba (PR) |
A previdência e outras medidas foram aprovadas, mas o desemprego continuou - Giorgia Prates

A Plataforma “Paraná contra a Covid-19” reúne estudos, notas técnicas e coletas de dados de um grupo interdisciplinar com profissionais da sociologia, assistência social, Saúde, das universidades UFPR, UTFPR, IFPR, Ministério Público, pesquisadores, entre outros.

Ao longo dos mais de cem dias de alastramento do vírus Covid-19, os estudos desse agrupamento identificam aumento da incidência da pandemia nas periferias de Curitiba e região. Ao lado disso, também ocorrem mudanças das áreas de maior contágio, que já tiveram foco em bairros como Cajuru, em junho, e alcançam recentemente bairros como Sítio Cercado, Umbará, Tatuquara, chegando a 133 casos a cada 100 mil habitantes.

“Também ali na plataforma há a informação dos dados de cartório, com os óbitos registrados nesses cartórios e os anunciados pela Secretaria Estadual de Saúde. E você vai ver que esses números nos cartórios são muito maiores”, aponta Simone Polli, professora em Planejamento e governança pública na UTFPR e integrante do grupo gestor da plataforma.

Polli sugere relação direta entre disseminação do vírus, ausência de regularização fundiária, falta de atuação dos órgãos públicos de urbanismo e assistência social. De acordo com o estudo, há o agravamento da doença na região sul da cidade, chegando a onze vezes mais que em outras regiões.

Percepção do problema

A cabeleireira e militante social, Andréia de Lima, liderança do bairro Parolin e Promotora Legal Popular, analisa como este cenário impacta os moradores da periferia. Andréia é crítica à ausência de informação e políticas públicas. Diante disso, na transmissão ao vivo Brasil de Fato Onze e Meia, dia 13, ela apontou a solidariedade popular e a retomada da empatia pelo próximo. Aponta também a pressão de uma crise que é econômica, sanitária e social ao mesmo tempo.

“A prioridade, neste momento, é alimentar os seus. Porque ninguém fica em paz com os seus passando fome. E o bom de quem mora nas periferias, na favela, é saber que se bater na casa da vizinha, sempre vai ter um arroz, um açúcar, para dar suporte emergencial. Mas a dificuldade é porque tem uma boa parte do bairro que trabalha com reciclagem e, com o comércio fechado, que é onde produz a maior parte do material, isso reduziu muito. E por mais que a gente mobilize projetos, nunca vai conseguir atender todos dentro da comunidade”, reflete.

Neste cenário, Andréia de Lima reflete também sobre a pressão que recai sobre as mulheres trabalhadoras, o que aponta necessidade de assistência nesta área da saúde mental. “E a preocupação das mães vêm também porque estão diminuindo as doações, então como vou alimentar meu filho? Falo com muitas pessoas dentro do Parolin que a doença pode não acabar este ano, ir até o ao que vem, e há outras doenças que podem vir, e isso adoece a mente da comunidade, da população periférica que já tem milhares de demandas”, aponta.

Claudia Roberto: comunidade Figueiras sem apoio

Aárea de ocupação Figueiras, localiza em Pontal do Paraná, apresenta problemas semelhantes aos apontados pela liderança do Parolin. O medo diante da pandemia que chega à comunidade, a falta de assistência social por parte do poder público e, no caso do litoral, apenas um hospital de referência na região. O litoral é a quarta região com maior incidência no estado.

“O primeiro óbito que teve em Pontal foi aqui, hoje somos 146 casos em Pontal do Paraná, já com sete óbitos, nós não estamos sendo assistidos, só as famílias que já tinham cadastros do CRAS estão sendo assistidas, aquelas outras que trabalhavam de maneira intermitente, autônomos, hoje não são assistidos”, denuncia Claudia Antonio Roberto, uma das lideranças locais.

Solidariedade

Na plataforma temos também o Mapa da Solidariedade, que ajuda a identificar as ações de organizações nos bairros da capital. Para quem quiser fortalecer as campanhas, em meio à urgência de demandas, basta acessar o site:

https://sites.google.com/view/prcontracovid/apresenta%C3%A7%C3%A3o

Edição: Frédi Vasconcelos