Paraná

CRÔNICA DA VIDA REAL

A água que irriga uma comunidade

A bica de água acompanhou o passo a passo da ocupação da área, desde o começo dos anos 1980

Curitiba (PR) |
Sem ela, não teria sido possível cozinhar, misturar o cimento, viver - Giorgia Prates e Vanda Moraes

Uma água que abasteceu a construção de casas. Que abastece vidas. E que ainda abastece todos os dias uma comunidade sempre em luta pela regularização fundiária.

Desde o começo da ocupação que resultou nas vilas Jardim Eldorado, Vila Cruzeiro, Esperança e Nova Conquista, na área do Sabará, Cidade Industrial de Curitiba, uma fonte natural de água permitiu a construção das casas e segue indispensável à comunidade em tempos de crise econômica, racionamento e pior seca de água no estado desde os anos 1980.

Em tempos de aprovação nacional para privatização da água e saneamento, a crônica dessa fonte jorrando para milhares de pessoas ganha mais importância ainda.

Os integrantes da associação de moradores Esperança e Nova Conquista recordam que a bica, como chamam, acompanhou o passo a passo da ocupação da área, no começo dos anos 1980. Sem ela, não teria sido possível cozinhar, misturar o cimento, viver.

“Não entrava caminhão-pipa na vila, foi a salvação de muita gente, o saneamento veio muito depois, foi uma luta muito grande de todos os moradores aqui”, relata Élio dos Santos, aposentado, ex-conferente de cargas.

“Ali era uma terra bem acidentada antes que a Cohab fizesse a medição dos lotes e nós usávamos a bica. Meu primeiro barraco foi ali, a uns seis metros para baixo, hoje eu moro em lugar mais central na vila”, completa Élio.

Marco zero

Já o presidente da associação de moradores, Sebastião Sampaio, teve contato pouco depois, em 1989, quando chegou por lá e já havia uma mínima rede de encanamento. O acesso à água por parte dos moradores sempre foi ou precário, ou então caro. “Eu cheguei e já havia encanamento da vila, usei para construção, para não gastar muito com água. As pessoas usam até hoje, para lavar carro, é uma fonte que nunca secou”, conta. Por tudo isso, Sebastião defende que ali se torne um marco da vila e chegou a sugerir a medida para vereador local.

Água de qualidade

Olga Ferreira , diretora da associação de moradores, afirma que a fonte é útil em tempos de rodízio e “cortes constantes, dia sim, dia não, de água por parte da Sanepar. Já passamos quase três dias sem água”, critica. Por coincidência, na condição de vendedora de filtros de água purificada, ela confirma que a qualidade da água da bica do Sabará é ótima. “O PH da água é sete e meio, então é bem alcalina, boa para a saúde”, atesta.

Edição: Frédi Vasconcelos