Paraná

LITERATURA

A floresta dos devaneios

O fogo parecia trazer outra vez as trevas da tradição

Londrina (PR) |
Venôncio de Oliveira é autor de "Quando a chuva chega", livro bilíngue de contos - Vanda Moraes

Ela adentrava em meio à neblina dourada, porém perigosa. Ali buscava a floresta das trevas. Sorria e seguia o impulso de tesão que a fizera chegar até aqui. Mesmo que a escuridão medrasse os tolos.

Ali encontrara no estalar de línguas, o lugar de seu passado e vira a si mesma em meio aos jogos e brincadeiras. O ritmo alucinado do prazer inundara seu mundo. Eram jogos selvagens? Mas o selvagem tem algo de sacro? Ela viu a si mesma e teve medo da grandiosidade de seus próprios mortos.

Seus olhos brilharam com a cegueira da lua. Ali vivera tanta beleza. Fora desafiada e cegada pela navalha de seu orgulho. Quantas vezes ela fizera boas jogadas. Era destaque entre meninos. Depois deu seu primeiro beijo na menina que amara. Lembra, quando você apresentou teu primeiro show de rap. Logo seu primeiro filme. Resplandecente coloriu o bairro com possibilidades de alegria.

Ela era toda uma navalha e a árvore caía em meio à imensidão. O fogo parecia trazer outra vez as trevas da tradição, mas iluminava tanto que o precipício invocava o tesouro da grandiosidade do que ela ainda poderia ser. Ali o morcego bateu asas e ela sentira como a vaidade podia ser bela e grotesca.

Edição: Pedro Carrano