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Artigo | Educação e Pandemia – A mudança é a única constante

A história da educação no Brasil foi moldada a partir da necessidade da velha elite que ansiava por se manter no poder

Porto Alegre | BdF RS |
Infelizmente não seremos um país de todos, para todos e com todos enquanto tivermos governantes que não sabem o que realmente significa educação - Evelson de Freitas/FolhaPress

A educação realmente é para todos? Me fizeram esta pergunta na semana passada, em meio as turbulências do MEC em prorrogar ou não o ENEM 2020. Como professor, muitas pessoas imaginam que é fácil responder a esse questionamento, no entanto, há mais pontos negativos do que positivos sobre a educação brasileira, ainda mais no atual cenário que estamos presenciando.

Se você parar para analisar a história da educação no Brasil perceberá que ela fora moldada a partir da necessidade da velha elite que ansiava por se manter no poder e não permitir que a população tivesse contato com a educação. Dados do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas nos diz que, no início do século XIX a população analfabeta do Brasil era de 75% da média nacional, pois a educação básica não era algo que sensibilizasse a elite brasileira. Além desse cenário, temos que lembrar que o Brasil neste século era totalmente agrário, dando espaço assim a uma sociedade sem espaço para educação. Já no século XX, percebemos um grande avanço com os governos republicanos, desde Getúlio Vargas até a década de 1980, quando se percebe que o Brasil teve como taxa de analfabetismo 17%.

Não estou aqui tentando mostrar que governos autoritários são a resposta para a educação brasileira, mesmo porque, sabemos que durante as ditaduras no Brasil, o Estado forte não só censurou as mídias como também aquilo que era ensinado nas escolas, um momento obscuro para a nossa história e que não devemos deixar que isso seja repetido (Ditadura nunca mais!).

Atualmente, nosso sistema de educação tem sofrido um desmonte por parte do atual governo, pois ciência, educação e tecnologia não estão entre os principais objetivos do alto escalão da República, o que percebemos é que, o governo Bolsonaro tem sua própria agenda e nela, infelizmente, não há espaço para aqueles que necessitam de assistência. O ano de 2020 tem sido uma grande provação para todos nós, pois empatia, solidariedade, generosidade, bondade e outras virtudes não têm aparecido em nossa sociedade, as pessoas estão mais interessadas em saber de seus próprios objetivos e o outro não existe.

Sabemos que o formato de educação a distância tem se mostrado o caminho para conseguirmos dar atenção para os alunos e não perdermos a oportunidade de aprendizagem neste ano. No entanto, como professor e gestor escolar fico refletindo, será que os alunos de outras regiões têm tido as mesmas oportunidades que os meus? Será que o governo está conseguindo imaginar o tamanho da “bomba” que terá quando tudo isso terminar? Ao meu ver, o problema maior depois desta pandemia vai ser nos tornarmos novamente sociáveis, esse “novo” que todo mundo anda dizendo não irá acontecer até que nós possamos enxergar que o outro necessita de nossa ajuda e isso não é mais prática educacional, isso é o aluno da periferia pedindo que possa ter as mesmas oportunidades que os seus iguais.

Tivemos o adiamento do ENEM, mas será que isso irá conseguir manter a educação democrática? Não, não irá... pois o Brasil está longe de ser um país igualitário, infelizmente não seremos um país de todos, para todos e com todos enquanto tivermos governantes que não sabem o que realmente significa educação.

Vou usar este final para dizer... Lutemos por um país que prestigie a educação, a ciência, a tecnologia, pois estas áreas são as únicas capazes de transformar o mundo. E sim, estou com muitas saudades dos meus alunos.

* Professor de História

Edição: Katia Marko