Paraná

ORGANIZAÇÃO POPULAR

Associações de Moradores na Cidade Industrial: por conta própria

Comunidades da CIC tocam a vida sem apoio do poder público

Curitiba (PR) |
Sebastião e José do Carmo, integrantes da associação comunitária dos moradores das Vilas Esperanças e Novas Conquistas - Giorgia Prates

A Associação comunitária dos moradores das vilas Esperanças e Novas Conquistas, fundada em 2008 e localizada na região do Sabará (Cidade Industrial de Curitiba), mantinha até pouco tempo a rotina de reuniões mensais, na sede onde já aconteceu de tudo: confecção de jornal de bairro, padaria comunitária etc. Organizava também rodas de conversa, com temas de interesse geral da população.

Neste momento de combate à covid-19 e necessidade de isolamento social, a associação de moradores mudou suas ações. Seu Sebastião Sampaio, José do Carmo, Olga de Souza e integrantes da direção buscam apoiar as famílias necessitadas – embora arrecadem pouco ou nenhum recurso enquanto entidade.

Num cadastramento de 50 pessoas, ainda possuem dificuldade para apoiar todos os moradores com donativos. Encaminhamentos para os Centros de Referência em Assistência Social (CRAS) da região também são feitos, além de apoio para ligação de luz e água.

Ação de Usucapião coletivo

Revoltante é também o fato de muitas dessas famílias já terem quitado as prestações com a Cohab, mas ainda não possuem a escritura da casa. Na década de 80, após a ocupação, moradores assinaram contrato com a Cohab para a compra dos terrenos. São cerca de 37 mil famílias em doze áreas da região sul da capital nesta condição, no chamado episódio da fraude da Cohab, quando se revelou, em 2010, que os terrenos pertenciam à empresa Curitiba SA. “Eu mesmo quitei no ano 2000, tenho o papel de quitação, carnê pagos, tudo guardado”, lamenta Seu Sebastião.

Em 2008, a Associação de Moradores das Vila Esperança e Vila Conquista, com apoio da Terra de Direitos, entrou com ação de usucapião coletivo contra a Cohab de Curitiba, devido à empresa ter feito um contrato de Concessão de Uso do Solo como se fosse um contrato de venda.

Comunidade Dona Cida: organização antes e depois

Lideranças se formam neste momento de resistência às crises econômicas, políticas e sanitária atuais. No complexo de quatro ocupações, ocorridas entre 2012 e 2016, em permanente ameaça de despejo forçado, Juliana é uma das lideranças da comunidade Dona Cida. Ela é atenta à necessidade de apoio às famílias, em tempo de políticas sociais limitadas e várias demandas da comunidade. Para ter uma ideia, o Instituto Democracia Popular informa que “30% das pessoas dessas ocupações que solicitaram o auxílio de R$ 600 aprovado pelo Congresso foram recusadas por problemas burocráticos”.

As distribuições a partir de doações solidárias, organizadas por entidades, são feitas na tenda principal da área e abrangem moradores das cinco áreas. Até antes da pandemia, a organização popular vinha acontecendo via Movimento Popular por Moradia (MPM) e grupos de lideranças organizados em cada comunidade. A comunidade Dona Cida possui registro como associação. Para Juliana*, ainda é cedo para dizer se a jovem associação contribui para a organização local:

“As pessoas têm confiança nas lideranças, já têm o conhecimento, é essencial, estou esperando passar a pandemia para iniciar projetos”, afirma.

A violência policial é uma marca constante neste espaço. Segue marcado na memória o brutal episódio do dia 8 de dezembro de 2018, quando casas foram incendiadas na área 29 de Março, no que foi denunciado como retaliação policial. Nesses dias, um jovem foi agredido pela polícia. “Estávamos trocando a fiação de luz e disseram que era roubo. Brigamos e denunciamos e agora está mais tranquilo”, afirma um dos moradores da região.

*Mantemos nossa política editorial de preservar o nome de lideranças

Solidariedade

A campanha “Resistindo com Solidariedade” é uma iniciativa de arrecadação financeira e de alimentos do Instituto Democracia Popular, da Casa da Resistência, do Sindicato dos Bancários de Curitiba, entre várias entidades. Outras iniciativas de solidariedade são as campanhas Periferia Viva e campanha 1 milhão de 1 real.

SERVIÇO

“Resistindo com Solidariedade”

Banco: Caixa Econômica
Ag 0891
Op 003
Conta corrente 431-6
CNPJ 20.999.012/0001-89
Instituto Democracia Popular

Edição: Gabriel Carriconde