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Coluna

O olhar real da covid-19 na minha direção

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A fotojornalista, com prevenção e cuidados básicos, tem acompanhado diversas situações nas ruas, bairros e hospitais em tempos de pandemia - Giorgia Prates
A reorganização das estruturas foram pensadas para evitar o risco de contaminação das equipes

13 de Maio de 2020, acordei às 6 horas da manhã, apreensiva por saber que iria fotografar dois dos hospitais de Curitiba que estão atendendo pacientes e suspeitos de Covid-19. 

Na sala a espera pela gerente administrativa do Hospital de Reabilitação, começo a me dar conta dos perigos e a pensar na minha família, nas comunidades que tenho visitado. No primeiro contato com a ala interna do hospital, a gerente me posicionou sobre os cuidados necessários para adentrar onde os pacientes estão internados e me propõe uma visita guiada com o enfermeiro chefe para que eu pudesse ter o acesso com segurança aos locais da UTI do COVID. Um tom mais forte de realismo me despertava a medida em que me aproximava do quarto andar do hospital Ana Carolina Moura Xavier, o Hospital de Reabilitação.

Na saída do elevador, o silêncio. A placa na entrada da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) trazia a restrição com a palavra coronavírus. Pacientes entubados, médicas (os) e enfermeiras (os) se movimentavam com leveza e rapidez dentro do espaço após a porta de vidro. Por um breve momento vacilo. Penso nos familiares que não puderam entrar para estar com os seus, para ter esse momento de carinho com os que ali estão.

Antes de pegar a câmera, observo com um posicionamento de energias positivas e respeito para as pessoas nos leitos. Me lembro que dias atrás houve uma manifestação de pessoas nas ruas, em favor do presidente Bolsonaro, que estavam tratando do assunto com total desdém, bem como o próprio presidente, em suas ações irresponsáveis. Uma falta de empatia que tem consequências pesadas. De um lado, pessoas entubadas, familiares agoniados sem acesso aos seus, número de mortes e contaminação aumentando em todo o país mediante determinações levianas dos governantes e de outro, pessoas zombando, incrédulas colocando em risco a vida de outras pessoas. Contradições que aumentam a cada dia prolongando sofrimentos e o impacto econômico social, o menor dos nossos poréns neste tempo.

Nos dois hospitais, tanto no de Reabilitação quanto no Hospital do Trabalhador, a reorganização das estruturas foram pensadas para evitar o risco de contaminação das equipes médicas e de outros pacientes. Médicos e outros profissionais da saúde, a partir de lugares restritos nas unidades, falam sobre como o trabalho está sendo realizado e sobre a importância desse trabalho.
A médica intensivista Luiza, do hospital de Reabilitação, conta que estão com cinco pacientes em casos graves na UTI COVID-III, e que para ela a maior tristeza é a falta de possibilidade de permissão dos familiares nas visitas. O dia a dia também pesa, principalmente, quando as notícias para os familiares, que são passadas por  telefone, não são boas. Ela nos conta ainda que embora sinta essas angústias todas, diariamente faz o seu melhor e que se alegra muito com a alta de alguns pacientes, o que fortalece seu trabalho na linha de frente.

Já o técnico de enfermagem Elizeu, que opera na área de isolamento respiratório do Hospital do Trabalhador, atualmente com um número de 26 pacientes com COVID-19,  relata a indignação acerca da incompreensão das pessoas sobre o fato de estarem nessa linha de frente. Para ele, esse tabu precisa ser dialogado, uma vez que os profissionais da saúde, em Curitiba, estão mais seguros e protegidos dentro dos hospitais com todos os aparatos e os treinamentos, do que as pessoas nas ruas, em transportes públicos, etc.  Além de se sentir protegido, Elizeu se diz privilegiado pela escolha que fez já que essa escolha foi pautada pelo amor.

Edição: Pedro Carrano