Paraná

ANÁLISE

Bolsonaro profana o luto e debocha das mortes pela Covid-19

Guardar o luto nas camadas populares é uma questão sagrada

Curitiba (PR) |
O governo bolsonarista não vai cair de podre. É preciso afastá-lo do Planalto - Carolina Antunes/ Fotos Públicas

O presidente Jair Bolsonaro foi longe de mais neste fim de semana. É verdade que Bolsonaro é insensível, prepotente, que segue preocupado apenas com a manutenção de seu grupo extremista e genocida no governo.

Os nervos mais sensíveis e os vasos comunicantes de alteridade entre as pessoas exigem da conduta do líder de um país gestos mínimos de preocupação com a sorte da coletividade -, ainda mais quando se trata de sentimentos como o luto e o infortúnio econômico.

Nas duas situações, o comportamento de Bolsonaro é de um alheamento atroz. Na semana em que o país ultrapassou 10 mil mortes por coronavírus e mais de 600 casos fatais diários, Bolsonaro divulgou a realização de um churrasco no Palácio Alvorada (que depois foi cancelado) e foi passear de jet ski no Lago Paranoá durante a manhã de sábado (9). Ao mesmo tempo, que um pequeno grupo de bolsonaristas realizava um esvaziado ato golpista a favor do fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF) em Brasília.

O comportamento de Bolsonaro, com certeza, não passou desapercebido dos parentes das vítimas fatais da Covid-19 e dos milhares de brasileiros internados em hospitais e nos leitos improvisados de campanha nas capitais mais atingidas pela pandemia como São Paulo, Rio de Janeiro, Manaus, Belém, Fortaleza e São Luiz do Maranhão.

Guardar o luto nas camadas populares é uma questão sagrada. Até os bandidos mais hediondos e facínoras, como os traficantes, respeitam a morte dos membros da comunidade onde operam o seu criminoso negócio. Aliás, os bandidos até utilizam o momento de dor para impulsionar uma aproximação maior com a população da comunidade, pagando muitas vezes as despesas do enterro.

A boçalidade fascistoide de Bolsonaro tem despertado a atenção, cada vez maior, de segmentos da população brasileira que estavam fora do circuito do debate político nacional. Para além da polarização política em curso, milhões de brasileiros foram tangidos e tocados com violência pelos efeitos econômicos e sanitários da pandemia do coronavírus.

Todos enxergam o desprezo e o pouco caso de Bolsonaro, que não apresentou nem formalmente as condolências aos falecidos pelo coronavírus. Gesto que o Congresso Nacional e o STF adotaram formalmente neste fim de semana.

Nas famílias mais pobres pessoas morreram ou seguem contaminadas, com ou sem hospitalização, e milhões se encontram economicamente arruinadas – “sem eira, nem beira”, como diziam os mais velhos. Enfrentam filas quilométricas nas portas da Caixa Econômica e uma infernal burocracia digital para tentar acessar uma ajuda emergencial e insuficiente de R$ 600. Um caldo de dor e ressentimento que vai cobrar o seu preço político mais cedo ou mais tarde.

Neste sentido, ao lado da correta campanha da esquerda em solidariedade aos setores mais fragilizados da população, é imperativo impulsionar um vigoroso movimento político para pôr fim ao governo neofascista de Bolsonaro.

O governo bolsonarista não vai cair de podre. É preciso afastá-lo do Planalto, combinando todas as formas de lutas e com os meios legais e constitucionais que estão ao nosso alcance. Além disso, é preciso levar em conta, que apesar do crescente isolamento e desgaste político, o bolsonarismo reúne bolsões beligerantes e radicalizados que oporão uma dura resistência diante de uma insurgência para derrotá-lo.

Portanto, o “Fora Bolsonaro”, com a ampliação do protesto popular, é a única fórmula política que acumula forças para derrotar o projeto neofascista, genocida e de profanação dos sentimentos do povo brasileiro.

*Ativista político e social. Autor livro ‘A Política Além da Notícia e a Guerra Declarada Contra Lula e o PT’ (Kotter Editorial).

Edição: Pedro Carrano