Paraná

ANÁLISE

Entre dois blocos extremamente conservadores

Entre um capitão fascista e o ex-juiz Moro, na prática a competição é para saber qual dos dois cometeu mais desmandos

Curitiba (PR) |
Bolsonaro simplesmente atira o país na falta de rumo e de projetos - Giorgia Prates

A crise política segue se aprofundando num ritmo impressionante. 
Entre um capitão fascista e o ex-juiz Moro, na prática a competição é para saber qual dos dois cometeu mais desmandos. 
Ambos compartilham do pouco apreço à democracia, à Constituição e aos direitos sociais. Representam neste momento uma polarização política entre a extrema-direita neofascista (o projeto do governo Bolsonaro) e a direita que se reorganiza, ainda dividida, entre vários nomes que tentaram se descolar do bolsonarismo, caso de Doria, Maia, Witzel, e Huck. Moro pode ser um reforço importante para este time que busca se cacifar para 2020. Em comum entre todos eles está a aplicação de um programa de retirada de direitos dos trabalhadores, privatizações e nenhum projeto de desenvolvimento industrial no país.  
Em comum, também os desmandos e violências. Devemos lembrar que Moro fez a condução coercitiva ilegal de Lula em 2016; prendeu ilegalmente agricultores familiares ligados ao Programa de Aquisição de Alimentando (PAA), no Paraná, absolvidos apenas em 2020. Em 9 de julho de 2018 manteve Lula preso, derrubando por telefone, de Portugal, uma ordem de instância superior para a qual não tinha poderes.

Mais que isso, Moro com a Operação Lava Jato desmontou a Petrobrás e a tirou do mercado sob pretexto de combate à corrupção. Atacou a imprensa e não os corruptos, como nos mostra o livro do jornalista Daniel Giovanaz. Bolsonaro, por sua vez, privatizou e fatiou importantes setores da Petrobrás, caso da BR Distribuidora, fechou o setor estatal de fertilizantes, ocasionando desemprego. É possível dizer que ambos – e Moro na vanguarda – são os responsáveis pelo enfraquecimento e dependência externa da principal empresa pública brasileira. 
Bolsonaro simplesmente atira o país na falta de rumo e de projetos, contabiliza com cálculo frio o número de mortos sem isolamento social; possui “N” fios de possíveis crimes não resolvidos: assassinato de Marielle, corrupção parlamentar de seus filhos, o caso Queiroz etc.
Recentemente, Moro era uma figura apagada e subalterna no governo, apesar do status de superministro, apesar de manter boa avaliação, mesmo um ano depois do forte desgaste das denúncias do site The Intercept. Sua jogada de renúncia e desembarque do governo mostra que o que se nomeou como "Partido Lava Jato" segue tendo um programa (discurso contra a corrupção), apelo e base social (a classe média alta), apontando para 2022.
Já Bolsonaro sem Globo, sem Moro, sofrendo perda do apoio da classe média, sem o Partido Lava Jato, sem o judiciário partidarizado, são as forças armadas que seguem dando o lastro para Bolsonaro, seu filho problemático. Até quando? O capitão aposta alto, força um posicionamento público desses setores, seu governo parece chegar perto de um momento decisivo. Um fator pouco presente nas análises é o apoio – ou ao menos a ausência de crítica pública -, por parte tanto da grande burguesia como de setores da burguesia brasileira, como acusa uma rodada pelas páginas das principais federações empresariais. Esse componente parece decisivo até aqui para a manutenção do capitão. 
É fundamental que as forças de esquerda - que tem apresentado um programa alternativo e emergencial para o país -, mas que ainda não se coloca no cenário político de polarização, consigam traduzir na sua crítica o vínculo entre os dois blocos conservadores e a retirada de direitos dos trabalhadores. Consigam apontar a incapacidade do governo resolver os problemas econômicos e imediatos dos trabalhadores. É fato que neste momento o povo se prejudica e agoniza na burocracia digital de programas sociais limitados. 
É preciso traduzir o vínculo entre o papel que a direita tem cumprido, a forma autoritária como os neoliberais governam e isso tem que ficar de aprendizado histórico, sem meias palavras. 
Ainda é pouco. Só a entrada em cena de trabalhadores de forma organizada (difícil neste momento de isolamento social) conseguirá mudar esse teatro de aparências e de máscaras. 
Em isolamento social e retomando a sua inserção paulatinamente, os setores progressistas ainda não sabem decifrar como está o ânimo e o apoio das massas a esse governo. Até agora temos apenas impressões e ensaios. 
A campanha Periferia Viva ganha maior articulação em todo o país e pode ser um fortalecimento de redes de contato e de pontos de organização popular, preparando-se para os próximos períodos de enfrentamento. É preciso que essa rede fortaleça a comunicação e a formação popular, a criação de novas lideranças, refaça a ponte entre o movimento sindical e popular. No entanto, a crise é de eixo longo. 

Sem uma opção popular, corremos o risco de – de forma inédita nos últimos 30 anos -, ficarmos assistindo o fortalecimento de dois blocos extremamente conservadores polarizando a disputa política. 

Edição: Lucas Botelho