Paraná

Reconhecimento

MST recebe Voto de Louvor na Assembleia Legislativa do PR por ações de solidariedade

Comunidades do MST do Paraná doaram mais de 84 toneladas de alimentos desde o início da pandemia do novo coronavírus

Curitiba (PR) |
Ao todo, 19 acampamentos e 28 assentamentos participaram das ações de solidariedade no estado - Marilene Hammel

A Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP) aprovou Voto de Louvor e Congratulações ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) pelas ações de solidariedade a quem já sofre com a falta de alimento por consequência da pandemia do coronavírus. Desde o início da pandemia no Brasil, o MST do Paraná doou mais de 84 toneladas (84 mil quilos) de produtos em todo o estado. Ao todo, 19 acampamentos e 28 assentamentos participaram das ações de solidariedade.

A entrega virtual da homenagem da ALEP será nesta terça-feira (28), às 10h, com participação do autor da proposta, deputado estadual Tadeu Veneri (PT); de Natália Bonavides, deputada federal pelo Rio Grande do Norte; e Roberto Baggio, integrante da direção nacional do MST pelo Paraná. A transmissão será pela página do Facebook do deputado Tadeu Veneri.

“A generosidade e a humildade merecem ser valorizados nestes tempos difíceis. Os trabalhadores Sem Terra, em seus atos de solidariedade e em sua fartura na produção de alimentos, demonstram que há esperança para a construção de um modo de vida mais lúcido, em uma sociedade justa e sem exploração”, afirma Veneri.

Para Roberto Baggio, este período de grande dificuldade para milhões de brasileiros exige solidariedade e partilha com as pessoas mais vulneráveis, desassistidas pelo Estado, seja em âmbito municipal, estadual ou nacional. “Essa atitude das famílias da reforma agrária, das famílias Sem Terra, é muito bonita, muito louvável, porque mostra que são pessoas dignas, e por isso estão preocupados com os outros, pois não tem diferença entre nós, trabalhadores do campo e da cidade. Esse alimento repartido é fruto de muita luta”, diz.

O voto de louvor foi aprovado por unanimidade no dia 14 de abril, durante sessão virtual. O reconhecimento da Assembleia Legislativa destoa da onda de despejos realizadas pelo governo do estado ao longo de 2019, quando nove comunidades do MST foram destruídas. Mais de 500 famílias ficaram sem moradia e terra para trabalhar e viver. 

“Passando essa crise que atinge a todos nós, precisamos que a paz chegue no campo. Precisamos de paz para as nossas áreas e nossas famílias. Chega de ameaças e de despejos. Chega da polícia cercando as áreas. Precisamos de paz para seguir produzindo alimento”, finaliza o coordenador do MST.

Cerca de sete mil famílias vivem em acampamentos do MST no Paraná, comunidades consolidadas, com quatro, 10, 20 ou mais anos de trabalho e organização em cima da terra. O estado tem outras 24 mil famílias assentadas e 21 cooperativas da reforma agrária.


Colheira coletiva no acampamento Maria Rosa do Contestado, que já fez doações em Castro (PR) / Arquivo MST

Leia o texto do voto de louvor:

REQUERIMENTO

Requer o registro em ata e envio de Votos de Louvor e Congratulações ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra no Paraná e em outros estados brasileiros, pelos atos de humanidade e solidariedade expressos em doações em prol de comunidades socialmente vulneráveis e impactadas pela crise decorrente de pandemia de coronavírus.

TADEU VENERI, Deputado Estadual que o presente subscreve, no uso de suas atribuições regimentais, requer, após ouvido o Soberano Plenário, o registro na ata dos trabalhos da presente sessão e o envio de VOTOS DE LOUVOR E CONGRATULAÇÕES ao MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA, pelos atos de solidariedade e humanidade expressos pelas doações de alimentos, produzidos de forma agroecológica, para comunidades carentes e que se encontram em especial situação de vulnerabilidade devido à pandemia de coronavírus.

Vivemos momento ímpar na história da Humanidade. Uma ameaça invisível aos olhos, mas facínora em seus impactos, leva-nos a repensar sobre aquilo que teimamos em carregar e que não precisamos mais. Vivíamos livres para ir e vir, mas sem tempo para viver, em meio a uma multidão, mas sem enxergar o ser humano que sentia e sofria. Nesse momento o sofrimento não pode mais ser ignorado e a ação é demandada.

Com solidariedade, humildade e verdadeira caridade, os Sem-Terra foram exemplo para toda a sociedade. Nos dias que antecederam a Páscoa o movimento distribuiu mais de 20 toneladas de alimentos para comunidades carentes. Em plena crise pelo coronavírus, produziram em suas cooperativas litros de álcool em gel para doações. Além de prestar a ajuda material, os Sem Terra durante as entregas buscaram acolher e acalentar aqueles que aguardavam ansiosos o alimento que estava fazendo muita falta.

Em entrevista, Vó Maria, acampada em Ponta Grossa, falou sobre a ação da comunidade Padre Roque onde vive: “Eu estou feliz de poder compartilhar com os que estão na cidade. Está sobrando aqui, então vamos dividir com os que estão precisando”. Em suas palavras Vó Maria ensina sobre a caridade que vem não apenas de dar o que se tem, mas de mostrar que há modos de vida em que o povo pode ter tudo. Os trabalhadores rurais sem terra colocam em questão o modo de ser da atual sociedade, que assombra nesse momento de crise, e merece ser reconhecido pela grandeza de seus atos de solidariedade em plena comoção social, bem como pelos ensinamentos de verdadeira caridade que, com seus atos, propiciam a todos nós.

Pandemia, em uma tradução literal do grego significa “todo o povo”. Vemos que esse ser acelular, sem vida independente de seu hospedeiro, causador da enfermidade de coronavírus, representa muito bem o sentido de pandemia, pois pode se hospedar em qualquer um, independente de seu status social ou de seu “merecimento”. Somos todos iguais, mas o coronavírus mata só os mais fragilizados se é que simplesmente se morre por uma doença tratável. Talvez o problema seja que em relação a muitos se deixa morrer. E isso diz muito sobre esse momento em que o sofrimento não poder mais ser ignorado. O coronavírus diz muito sobre nossa sociedade.

A formação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra ocorre na luta pela vida, meio a uma questão agrária que é estruturante da história brasileira e que é também uma das principais fontes dos problemas e sofrimentos sociais que vivemos hoje. Trabalhadores da terra, mas ironicamente sem propriedade, pareciam unir-se, naquele momento de formação, apenas para lutar pelo seu meio de vida e de trabalho: um pedaço de terra. Talvez nem eles dimensionassem a grandeza de sua luta, mas a realidade é que no fim, demonstraram que quando a peleja para não morrer é construída com irmandade, não apenas se sobrevive, mas se faz viver os demais e assim renascer a si em prática que constrói um outro sujeito social.

Os Sem Terra em seus atos de solidariedade e em sua fartura na produção de alimentos demonstram que há esperança para a construção de um modo de vida mais lúcido, em uma sociedade justa e sem exploração. Coincidentemente o MST também merece a congratulação por no período de vivência da páscoa permitir pensar sobre o real sentido da data: a edificação do ser e a ressurreição para a nova vida.

Foram doados pelo MST no Paraná:

· 03 toneladas doadas pelos acampamentos Maria Rosa do Contestado e Padre Roque Zimmermann, de Castro, no dia 07/04. Os alimentos foram doadas a cinco Centros de Referência de Assistência Social (CRAS)

· 02 toneladas doadas pelo pré-assentamento Emiliano Zapata, de Ponta Grossa, no dia 07/04. Os produtos foram destinadas ao Banco de Alimentos do Serviço de Obras Sociais (SOS), da Prefeitura Municipal

· 02 toneladas doadas no dia 10/04, por comunidades do Oeste do Paraná: assentamento Valmir Mota e os acampamentos 1º de Agosto, Dorcelina Folador e Resistência Camponesa, todos de Cascavel; os assentamentos Sepé Tiaraju e Olga Benário, de Santa Tereza do Oeste; e o acampamento Nova Semente, de Catanduvas. As doações foram destinadas povos indígenas da etnia Guarani de Guaíra e Terra Roxa

· 14 toneladas doados pelo acampamento Maila Sabrina, de Ortigueira (PR), para quatro ocupações da Cidade Industrial de Curitiba (CIC). A distribuição ocorreu na manhã deste sábado (11), para moradores das comunidades 29 de Março, Tiradentes, Dona Cida e Nova Primavera

· 7,5 toneladas doadas pelo assentamento Eli Vive, de Lerrovile, Londrina, no dia 11/04. Os alimentos foram distribuídos a famílias da região sul da cidade

· 02 toneladas doadas Assentamento 8 de Junho, de Laranjeiras do Sul-PR, nos dias 9 e 11/04. As doações foram destinadas à população urbana mais carente

· 05 toneladas doadas pelo MST estadual em parceria com a Terra de Direitos, destinadas a famílias indígenas das aldeias Kakané Porã, de Curitiba, e Araçaí, de Piraquara. As doações ocorreram nesta segunda-feira (13)

· 60 litros de álcool 70% doados pela Cooperativa de Produção Agropecuária Vitória Copavi), do assentamento Santa Maria, em Paranacity (PR). A doação foi destinada ao Hospital Municipal Doutor Santiago Sagrado Begga, no dia 02/04

Curitiba, 14 de abril de 2020.

Deputado Estadual Tadeu Veneri

 

Edição: Lia Bianchini