Paraná

PANDEMIA

Prefeitura de Curitiba confunde população sobre funcionamento do comércio

Após pressão de Associação Comercial, prefeito Rafael Greca incentiva a reabertura

Curitiba (PR) |
Greca durante anúncio da abertura do comércio em Curitiba (PR) - Reprodução

O prefeito de Curitiba, Rafael Greca, fez pronunciamentos nas duas últimas semanas sobre a reabertura do comércio que trouxeram insegurança e confusão. Apesar de decreto do governador Ratinho Jr determinar que apenas atividades essenciais devam funcionar no estado, enquanto durar o isolamento social contra coronavirus, em Curitiba isso vem sendo descumprido. Comércio, restaurantes e bares começaram a reabrir após solicitação da Associação Comercial do Paraná (ACP) à prefeitura.

Num primeiro momento, o prefeito negou pedido dos comerciantes, mantendo as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e o decreto do governador. Mas voltou atrás nos últimos dias. Após novo pedido da ACP, juntamente com o Sindicato das Empresas de Gastronomia, Entretenimento e Similares de Curitiba, no dia 15 de abril, Greca disse que nunca havia mandado fechar o comércio e anunciou regras para estabelecimentos comerciais abrirem.

“Os comerciantes devem entender que abrir uma loja é estabelecer corresponsabilidade comunitária para todos na sociedade. É preciso que o comerciante entenda que, além do dinheiro, existe o grande dever com a vida de todos“, disse. O anúncio chegou na mesma semana em que Curitiba alcançou mais de 400 casos de infectados e nove óbitos.

O prefeito tem sido questionado em suas redes sociais sobre as informações contraditórias e também sobre como o comércio será fiscalizado, já que não há informações da prefeitura. Para a vereadora Professora Josete (PT), líder da oposição na Câmara, “com as manifestações da Associação Comercial, o município acabou editando uma resolução que regulamenta o funcionamento dos estabelecimentos comerciais. Observando as situações em outros países, onde não se garantiu isolamento social rígido, como por exemplo, na Itália, chegou-se a uma situação bastante crítica. Acho que população de Curitiba corre grande risco a partir dessa flexibilização.”

REPETIR O “ERRO” DE MILÃO

Em entrevista para a Rádio Cidade AM 670, o presidente da Associação Comercial do Paraná, Camilo Turmina, disse que acredita que Curitiba não seguirá os passos de Milão, cidade italiana que foi adepta inicialmente do movimento “Milão não pode parar”. Porém, o que se viu após o anúncio de Greca foram aglomerações e falta de regras de prevenção no comércio aberto no centro da cidade (veja fotos na galeria).

O prefeito de Milão, Giuseppe Sala, admitiu à rede de TV RAI, que “errou” ao apoiar o Movimento “Milão não para” e ao não iniciar medidas de isolamento social. “No dia 27 de fevereiro, circulava nas redes o vídeo #Milãonãopara. Naquele momento, ninguém tinha compreendido a gravidade
do vírus”, afirmou Sala. A província de Milão é a mais atingida pela pandemia na Itália em termos absolutos, com 9.522 casos. A Itália contabiliza 110.574 contágios.

O QUE DIZ A SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE

Resolução 1, publicada na quinta-feira (16/4), estabelece as regras ancoradas nas normas da Vigilância Sanitária para aqueles estabelecimentos que estão em funcionamento na cidade. Há decretos estaduais disciplinando o comércio e a legislação municipal da capital baseada em recomendações que, até agora, têm sido acatadas pela maioria da população, com resultados satisfatórios.

O QUE DIZ O MINISTÉRIO PÚBLICO DO PARANÁ

Nesta quinta-feira, 16 de abril, em virtude do anúncio da prefeitura de Curitiba de flexibilização das condutas de isolamento social, com a liberação do comércio, a Promotoria manifestou-se no processo reforçando a necessidade de liminar para garantir que essa intenção do gestor municipal seja vedada e que a cidade siga respeitando as determinações da OMS e dos governos estadual e federal.

Além disso, expediu ofício ao município para que apresente justificativa por escrito indicando quais os critérios técnico-científicos
que embasaram a orientação pela liberação de serviços não essenciais.


 

Edição: Gabriel Carriconde