Paraná

Pandemia

Trabalhadores de call center no Paraná denunciam descaso na prevenção ao coronavírus

Manifestações aconteceram nos últimos dias, reivindicando mudanças nos métodos de trabalho

Curitiba (PR) |
Manifestação em frente à empresa BTCC - Divulgação

Em Curitiba, empresas de médio e grande porte de call center continuam funcionando com poucas medidas de adequação à pandemia do coronavírus. Apesar de o governador Ratinho Junior (PSD) não ter excluído o trabalho de call center das atividades essenciais, os trabalhadores reivindicam por mudanças afim de evitar aglomerações e que o público de risco seja contaminado.

Na última semana, antes do expediente, no horário das 08h da manhã, funcionários da  BTCC (BT Call Center, originária da antiga Brasil Telecom e atual empresa do Grupo Oi), realizaram manifestações em frente à empresa pedindo mudanças urgentes para garantir a saúde dos trabalhadores. No sábado (21), dia que as equipes aumentam, variando de 400 a 600 funcionários, a manifestação foi maior.

"Nos últimos dias, a única mudança que vimos foi eles abrirem as janelas. Algumas dispensas de público de risco aconteceram. Mas o problema é que estamos trabalhando em uma grande aglomeração", conta João Gabriel Novitzki, que trabalha há mais de um ano na empresa. Ele diz se preocupar em levar a contaminação para casa, já que seu irmão e mãe têm asma. Novitzki cita que, apesar das várias manifestações, a empresa não abriu diálogo e, por enquanto, não apresentou nenhum tipo de proposta.

A empresa NEOBPO, terceirizada que atende o Banco Bradesco, também mantém suas equipes com cerca de 70 funcionários trabalhando, ainda sem nenhuma adequação. A funcionária Maria Vitória conta que solicitaram o atendimento via home office ou com escalonamento de equipes, para diminuir o número de pessoas trabalhando juntas, mas não obtiveram resposta. "Não queremos parar de trabalhar, queremos apenas garantir nossos direitos diante de uma pandemia", diz.  

Pausa como protesto

Nesta segunda (23), pela manhã, os funcionários fizeram uma paralisação dentro da empresa. Pausaram o atendimento e prometem que aumentarão as pausas gradativamente, caso a empresa não apresente uma regulamentação para o funcionamento e trabalho. "Tem casos de mães com filhos em casa que não foram dispensadas, além de outras pessoas do público de risco. Ouvimos algo do tipo: quem quiser ser demitido, não precisa esperar muito", conta Maria Vitória.

Regulamentação

O Sindicato dos Bancários e Financiários de Curitiba e Região oficiou a empresa, também nesta segunda feira (23), solicitando medidas de readequação do trabalho. Por meio da COE, comissão que representa os funcionários nas negociações com os bancos, o ofício lembrou que os trabalhadores bancários estão tendo acesso a medidas adequadas de contingenciamento, sendo o mesmo necessário às empresas terceirizadas. A entidade pede que os trabalhadores de telemarketing terceirizados sejam colocados em home office, tal como os bancários contratados diretamente pelo banco, pela atividade não ser considerada essencial.

"É um absurdo esse descaso com trabalhadores que dividem o mesmo prédio num contexto de pandemia, que coloca a vida das pessoas em risco. Estamos pedindo que o banco estenda tratamento a esses colegas de teletrabalho", diz Cristiane Zacarias, representante do Paraná na COE Bradesco.

Para o advogado trabalhista Victor Mazura, as normas de segurança de trabalho, neste caso de epidemia , deveriam ter sido já elaboradas e publicadas pelo órgão responsável , que é a Secretaria do Trabalho, em âmbito federal. "O Governo Federal está silente quanto às normas de segurança de trabalho, neste caso. Não existindo normas nacionais para tal situação, ficará bastante difícil  para fiscalizar", aponta. 

Mazura destaca, porém, que os funcionários podem se utilizar da recente portaria publicada pela Prefeitura de Curitiba com o Protocolo de "Curitiba contra o coronavírus" para estabelecimento de Teleatendimento/telemarketing. "Nesta orientação, além das que são de senso comum, há outras específicas, incluindo ampliação dos espaços físicos e, quando não for possível, reduzir o número de trabalhadores ao mesmo tempo para adequar a necessidade de distanciamento. Além destes itens, também a adoção do sistema de home office", explica.

 

Edição: Lia Bianchini