Paraná

DENÚNCIA

"Primeiro salvemos as pessoas, depois pensamos na economia"

Saúde, Educação, Assistência Social precisam de investimento, não de congelamento

Curitiba (PR) |
curitiba coronavirus
Centro de Curitiba no domingo, dia 22 - Pedro Carrano

Estamos em um momento de isolamento social, mas não silenciaremos quando se fizerem necessárias análises e denúncias. A prefeitura de Curitiba tem acertado em algumas ações, mas errado feio em outras.
Hoje o número de ônibus foi diminuído na cidade, pelas empresas, e um usuário do transporte público gravou o tumulto no Terminal do Portão. Nele podíamos ouvir: "Os patrões estão protegidos: e nós?"
Trabalhadores da saúde de Curitiba denunciam falta de condições de trabalho há meses, que agora é agravada pela pandemia do coronavírus.
Hoje, de acordo com o Decreto 421 assinado por Rafael Greca, foi definido o cancelamento de vários contratos de trabalho e "bolsas" de trabalhadores da PMC. Será que isso ajuda? Ou coloca mais tensão, ansiedade e responsabilidade nos pais e mães, responsáveis pela sobrevivência de suas famílias?
O governo, em seus três níveis, possui reservas, fundos emergenciais, e esse é o momento dos mais ricos se comprometerem com uma maior parcela nesse momento, que pede tanto sacrifício de todos. Não é hora de redução de impostos ou auxílio aos grandes empresários: todos os recursos do governo devem ser destinados diretamente às famílias e, assim, podemos garantir a segurança econômica da população e a manutenção da economia como um todo.
Reiteramos que o mais importante é salvaguardar a vida das pessoas, mas se preocupar com as consequências destas medidas da PMC não é oportunismo eleitoral, uma vez que nos colocamos em oposição ao governo municipal. É também preocupação com a vida e a prevenção.
"Todos farão sacrifícios". Será? Quando reduziu o número de ônibus, os donos de empresa estariam se sacrificando ou só estão minimizando seus prejuízos?
Os muitos recursos empregados em obras - em regiões privilegiadas - e em publicidade, hoje teriam resultado se fossem aplicados em favor das pessoas.
Saúde, Educação, Assistência Social precisam de investimento, não de congelamento de gastos. Servidores públicos estão aqui para, justamente, garantir que os serviços públicos sejam garantidos à população.
As categorias que compõem estes serviços essenciais não são parasitas ou privilegiados. Infelizmente, precisamos de uma crise desta dimensão para entendermos a importância dos serviços e dos servidores públicos.
É fato que a pandemia seja diferente para ricos e pobres. Os ricos e a classe média conseguirão se isolar, pagar por algumas precauções. Mas, e para a população das favelas, locais onde nem água o Estado consegue garantir com regularidade? E as cerca de 2,3 mil pessoas em situação de rua em Curitiba - segundo a base de dados do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) de julho de 2019? Como exigir que fique em casa quem não possui um teto?
Como falar em álcool gel para quem mal consegue garantir a comida dentro de casa? Frascos são vendidos a R$ 8,00 ou a R$ 50,00. Sendo assim, para grande parte da população o valor é indiferente e esse gasto inviável. Os municípios sabem exatamente onde localizar essa população. No caso de Curitiba, os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) são os locais responsáveis pelo Cadastro Único para Programas do Governo Federal. A essa população mais vulnerável deve ser dada prioridade, com a distribuição de alimentos e material de limpeza e higiene.
A crise, que já era imensa antes do coronavírus, agora ficou incontrolável. Os pobres - e os trabalhadores informais -, se não morrerem pelo vírus, podem morrer pela fome. Por isso defendemos no âmbito federal a taxação das grandes fortunas, o controle e taxação dos capitais especulativos e a não redução de salários dos mais pobres, além da ampliação imediata dos valores das políticas de transferência de renda, como o Programa Bolsa Família.
Que neste momento de pandemia, os “super ricos”, que provocam desigualdade, sejam os mais sacrificados. Que neste momento tenhamos mais Estado, e não menos. Hoje nossa esperança reside nos trabalhadores da Saúde Pública - do SUS - espalhados por todo país, e no trabalho de cientistas e pesquisadores de Universidades e Centros de Pesquisa, boa parte deles vivendo com bolsas com valores entre R$ 400 e 2,2 mil reais mensais.

*frase recente de Luiz Inácio Lula da Silva 

** os autores são professores na Rede Municipal de Ensino (RME), e membros do #coletivoEnfrente
 

Edição: Pedro Carrano