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Em semana decisiva, Túlio Gadêlha dá ultimato sobre candidatura a prefeito do Recife

Deputado expôs processo de sufocamento exercido pelo PDT em relação à sua candidatura, mas manteve seu nome no pleito

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Atualmente, Túlio Gadêlha é deputado federal pelo PDT/PE - Alexandre Amarante

Na última segunda-feira (9), o deputado federal Túlio Gadêlha (PDT) concedeu entrevista coletiva para falar sobre sua posição na disputa pela Prefeitura do Recife na eleição de outubro. O pedetista impôs, como condição para a continuidade de sua candidatura, que o partido rompa a aliança com o PSB no Recife e que cumpra prazos a partir desta quinta-feira (12), ou Túlio retiraria seu nome da corrida municipal.

O principal empecilho no caminho de Túlio está no seu próprio estado, o seu colega de bancada Wolney Queiroz (PDT), filho do ex-prefeito de Caruaru e hoje deputado estadual Zé Queiroz (PDT). O grupo dos Queiroz tem hegemonia sobre a sigla no estado há pelo menos 10 anos. Mas, desde que foi eleito em 2018, Túlio passou a ter força para encarar a disputa interna. Wolney é contra a candidatura própria do PDT no Recife, defendendo a manutenção da aliança com o PSB, que deve lançar o também deputado federal João Campos para a prefeitura.

Na última semana, numa reunião interna do seu partido em Brasília, Gadêlha teria anunciado sua desistência da disputa na capital pernambucana, já que o PDT estaria "sufocando" suas possibilidades. A declaração teria sido dada após o partido definir os nomes que assumiriam os postos de líder do partido na Câmara Federal e líder da minoria (grupo que inclui PDT, PT, PSB, PCdoB, PSOL). Gadêlha estava confiante que seria escolhido líder da minoria e teria mais projeção para dentro do partido, mas viu seus votos migrarem para o colega André Figueiredo. Para completar, Wolney Queiroz foi eleito líder do PDT.

Visivelmente frustrado na última segunda (9), Túlio destacou que a ideia de encabeçar uma candidatura própria do PDT no Recife não foi fruto de ambições pessoais, mas partiu de figuras como o presidente nacional da sigla, Carlos Lupi, além do candidato do partido à Presidência da República em 2018, Ciro Gomes. Questionado sobre a posição do presidenciável sobre o Recife, Gadêlha resumiu que "Ciro não pode ajudar tanto quanto gostaria". Na mesma tarde da entrevista coletiva de Túlio no Recife, o deputado federal pernambucano Wolney Queiroz (PDT) estava justamente com Ciro Gomes.

Túlio Gadêlha também cobrou que o PDT tenha uma vida partidária orgânica. "Wolney preside há 6 anos e nunca fez reunião da direção executiva estadual. Um líder partidário precisa reunir a direção do partido, porque é assim que se faz um partido orgânico", disparou Túlio, ladeado por pré-candidatos a vereadores do Recife e a prefeituras da Região Metropolitana. Gadêlha também disse que "sem organicidade o partido nunca conseguirá disputar a Presidência da República", em clara mensagem para que Ciro Gomes seja mais atuante quanto à democracia interna do PDT.
 


Túlio Gadêlha em coletiva na última segunda-feira (09) / ASCOM

Prazos
De acordo com Túlio, no último domingo (8) ele entregou ao presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, um documento estabelecendo prazos para manter seu nome na disputa do Recife. Gadêlha exige que até esta sexta-feira (13) o PDT entregue seus cargos na atual gestão do prefeito Geraldo Julio (PSB) no Recife.

O PDT tem Isabela de Roldão na Secretaria de Habitação, além de diversos cargos nesta secretaria. "Não faz sentido a gente discutir um projeto da cidade e estar dentro de um outro projeto", afirma. O parlamentar ressalva que a ruptura com o PSB na capital não deve significar a ruptura com o Governo de Pernambuco, também do PSB. Os partidos são aliados também nacionalmente, na bancada de oposição ao governo Bolsonaro.

Mas amanhã (12) vence o primeiro prazo dado por Túlio, para que o partido responda sobre a substituição da atual "direção provisória" municipal por uma direção eleita. Túlio tem esperança de realizar uma convenção partidária municipal do PDT até 28 de março para nomear uma nova direção municipal que "tenha autonomia e condições de liderar o projeto".

Há 8 anos, em 2012, quando o então deputado federal Paulo Rubem Santiago (hoje no PSOL) era pré-candidato a prefeito do Recife, o PDT viveu situação semelhante. A base do partido queria a candidatura própria, mas a ideia era rejeitada pelo grupo de dirigentes locais não eleitos, mas nomeados pela direção nacional. A convenção foi encerrada com troca de tapas e um tumulto generalizado. No fim a decisão coube à Direção Nacional, que optou pela aliança com o PSB do estreante Geraldo Julio. Em 2016 o PDT apoiou a reeleição do PSB desde o início.

Alguns líderes partidários lançam pré-candidatos para "medir força" ou para que a sigla tenha mais projeção eleitoral, mas sem necessariamente terem a intenção de disputar o referido cargo. É apenas uma forma de se colocar na vitrine e no tabuleiro para que o partido seja mais valorizado quando for chamado a uma aliança.

Já a próxima terça-feira (17) é a data-limite estabelecida por Túlio para que o PDT permita que seu grupo possa filiar nomes para a disputa municipal. Ele sequer tem acesso ao sistema de filiação junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Desde que foi eleito já realizou alguns eventos de filiação, mas a direção estadual do partido, encabeçada por Wolney, tem emperrado o processo. "Precisamos ter autonomia para filiar essas pessoas", se queixa Túlio.

O prazo de filiação partidária estabelecido pelo TSE vai até 4 de abril para quem quiser disputar a eleição. As convenções partidárias para escolha das candidaturas serão entre 20 de julho e 5 de agosto. As campanhas e propagandas eleitorais são permitidas a partir de 16 de agosto.

Vereadores
Pelo menos para a eleição de vereadores para a Câmara Municipal o deputado parece confiante. "Temos mais de 20 nomes com chances reais de vencer", afirmou. Túlio acredita que o partido pode fazer até 3 vereadores (o que significa ter mais de 50 mil votos na capital pernambucana), apesar de não possuir nenhuma cadeira.

Na eleição municipal de 2016 o PDT teve 36.768 votos, mas devido a coligação que integrava, ficou com apenas uma das 39 cadeiras da Câmara do Recife. No entanto, o eleito Jadeval de Lima migrou para o PMN e foi eleito deputado estadual em 2018. Na sua vaga na Câmara entrou Eduardo Chera, que também saiu do partido, entrando no PSB.
 

Edição: Marcos Barbosa