Paraná

Resistência

Festa de 11 anos de comunidade do MST reúne mais de mil pessoas em Londrina, PR

Assentamento comercializou 880 mil litros de leite e 200 toneladas de hortifrúti em 2019

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Mais de mil pessoas foram à festa. Um bolo de 11 metros de comprimento foi preparado com doações das próprias famílias e oferecido gratuitamente aos participantes - Wellington Lenon

O domingo (23) foi dia de festa no assentamento Eli Vive, localizado no Distrito de Lerroville, em Londrina, norte do Paraná. Cerca de 1.100 pessoas participaram da comemoração dos 11 anos de ocupação, resistência e organização da comunidade.

Os festejos começaram logo cedo, com a tradicional cavalgada, em que pessoas de todas as idades partiram em comitivas desde o centro de Lerroville até o assentamento, num percurso total de nove quilômetros. Além dos próprios moradores da comunidade e do distrito, participaram da cavalgada pessoas vindas das cidades de Mauá da Serra, Tamarana, Ortigueira e do distrito de Guairacá.

O ato político da festa contou com a presença de autoridades políticas e religiosas da região, que destacaram a importância de ter um assentamento como o Eli Vive em Londrina - que é o maior assentamento localizado em região metropolitana do Brasil.

Uma missa marcou o momento de agradecimento pelas conquistas e pela fartura de produção conquistadas pela famílias e pela comunidade. A diversidade de alimentos produzidos pelos Sem Terra foi levada até o altar organizado no barracão da comunidade.

O almoço servido aos convidados contou com 700 quilos de churrasco, além dos complementos como saladas, mandioca e arroz. Um bolo de 11 metros de comprimento foi preparado com doações das próprias famílias e oferecido gratuitamente aos participantes.


Os festejos começaram logo cedo com a tradicional Cavalgada / Wellington Lenon

Trajetória de luta pela terra

A área onde hoje está o assentamento era dividida em duas fazendas: Guairacá, com 5.826 hectares, e Peninha, com 1.486 hectares. Os imóveis foram ocupados em fevereiro de 2009, por cerca de 120 famílias Sem Terra, mas a luta naquele território vinha desde 1991.

A aquisição das fazendas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) ocorreu em agosto de 2010, quando foram criados os assentamentos Eli Vive I e Eli Vive II. A elaboração do Plano de Desenvolvimento do Assentamento (PDA) foi um processo coletivo com a realização de um seminário que contou com a participação das famílias, da equipe de assistência técnica e representantes do Incra. Naquele momento, ficou definido que a agroecologia seria a matriz produtiva. A partir do PDA, o Incra distribuiu a área em 501 lotes.

Quando se cria um assentamento, algumas infraestruturas devem ser viabilizadas pelo Governo Federal, como habitação, estradas e crédito para investimento inicial na produção da unidade familiar. Embora o assentamento Eli Vive tenha sido criado oficialmente em 2010 e o PDA elaborado em 2013, parte das políticas públicas ficaram pela metade.

Até hoje, o Incra não realizou a readequação de todas as estradas. A precariedade das estradas dificulta o escoamento da produção e o acesso à saúde e à educação. Em dias de chuva, por exemplo, o transporte escolar não circula porque as estradas não oferecem condições adequadas. O resultado são atrasos para o início da aulas ou mesmo dias de estudo perdidos. As famílias também não tiveram acesso a nenhum projeto de habitação e à crédito de investimento.


A aquisição das fazendas pelo Incra ocorreu em agosto de 2010, quando foram criados os assentamentos Eli Vive I e Eli Vive II / Wellington Lenon

Frutos da organização coletiva

Apesar das falhas nas políticas públicas do Estado para a comunidade, as famílias avançam na consolidação da comunidade. Há três anos, foi criada a Cooperativa Agroindustrial de Produção e Comercialização Conquista (COPACON), que realiza a comercialização da produção para mercados institucionais como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e mercados comuns.

Em 2019, foram comercializados 880 mil litros de leite, 200 toneladas de hortifrúti para o PNAE, 75 toneladas de fubá para merenda escolar do município de São Paulo. E para 2020, a perspectiva é de ampliação da comercialização, já tendo alguns contratos assinados com vários municípios e com o Governo do estado para a merenda escolar.

Além da Cooperativa, as famílias comercializam diretamente em feiras livres, supermercados e Ceasa de Londrina e em uma banca no Feirão da Resistência e Reforma Agrária, que acontece uma vez por mês. O grupo Camponesas do Eli Vive II também entregam 200 cestas agroecológicas em universidades e órgãos públicos. Atualmente, uma família está certificada e outras 25 estão em processo de certificação orgânica pela Rede Ecovida.

Outra importante conquista no campo da produção é a agroindústria de derivados de milho e produção de ração, que será inaugurada no segundo semestre e terá capacidade de processamento de 18 toneladas de milho por dia.

Desde o início do acampamento, as famílias organizaram uma escola itinerante, viabilizando acesso à educação a todas as crianças desde a educação infantil ao ensino médio. Após a oficialização do assentamento, foram criadas a Escola Municipal do Campo Trabalho e Saber, no Eli Vive I, e Escola Municipal do Campo Egídio Brunet, no Eli Vive II, que atendem da Educação Infantil ao 5º ano do Ensino Fundamental. As famílias também conquistaram a implantação da Escola Estadual do Campo Maria Aparecida Rosignol Franciosi, que atende do 6 ano ao 3º ano do ensino médio. Apesar dos avanços, as estruturas das Escolas continuam as mesmas erguidas coletivamente pelas famílias, em madeira. 

 

Edição: Lia Bianchini