Paraná

CONTO LITERÁRIO

Sobre liberdades

"Eu me sentia constrangida a libertá-las"

Londrina (PR) |
Mais um conto do escritor Venâncio de Oliveira - Pedro Carrano

As aves voam. Façanhas se rabiscam no céu. Há dias eu as queria libertar. O pio doloroso. Apenas eu as alimentava. No primeiro dia morri de medo, mas depois me senti corajosa. A casa proibida do assassino da vendinha. Ele havia fugido. Era um tipo sem ninguém na vida. Dizem que matara o velho por uma brincadeira boba, num dia de cachaça. Eu me sentia constrangida a libertá-las, mas isso já seria demais.  

Imagina se o assassino voltasse. Nenhum pássaro… A única coisa que o ligava à humanidade... Talvez estivesse perdido para sempre.  

Chamara amigos. Ninguém. Aumentava meu ódio à covardia. Um dia vadiava pela rua. E o Boca mole me grita. - Ei! (...) – Não sei a razão de odiá-lo tanto. Aquele jeito entediante. A voz meio amarelichatinha. Ele causava uma mistura de repúdios complexos em mim. Ninguém gostava dele. Já era gata. E ele, quem era ele? Mas naquele dia eu e o Boca mole iríamos romper os céus. Sua boca mole e cheia de tédio se converteria em algo alucinante.  

Edição: Pedro Carrano