Na manhã desta quarta-feira (18), uma missa comemorou os 23 anos do Pré Assentamento Padre Josimo, em Cruzeiro do Sul, no Paraná. A cerimônia reuniu moradores da comunidade, pessoas das cidades de Cruzeiro do Sul e de Paranacity, e foi celebrada pelo administrador apostólico da Arquidiocese de Maringá, Dom João Mamede Filho, junto a oito padres, diáconos e seminaristas.
A ocupação da fazenda Dora Lucia se deu em 7 de dezembro de 1996, por dezenas de famílias agricultoras integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Tal fazenda possuía um decreto federal de improdutividade. Diversas protelações judiciais de várias naturezas fizeram com que o processo de arrecadação da área para fins de reforma agrária não fosse concluído, mesmo depois de mais de duas décadas. Atualmente, 70 famílias vivem na área e produzem leite, carne, mandioca, milho, hortaliças, frutas, urucum (colorau) e bicho da seda. As mulheres do pré-assentamento também possuem uma padaria que funciona de forma associativa.
Durante a celebração, Dom João Mamede disse que o cenário nacional atualmente carrega um misto de indignação e revolta, mas mergulhado na esperança. Para Dom João, experiências como a da resistência das famílias da comunidade Padre Josimo enchem o mundo de esperança por ser uma batalha sem violência. "Violência é a que priva pela concentração da propriedade ao não cumprir sua função social. Essa, sim, é violenta e gera famintos e desalentados", refletiu na homilia.
Dom João também lembrou sobre as diversas tentativas que os bispos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) regional Sul 2 realizaram para sensibilizar o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), na intenção de que cessassem os despejos. Em 2019, ocorreram nove despejos, sendo o último no dia 3 de dezembro, no acampamento Companheiro Sétimo Garibaldi, localizado no município de Querência do Norte. O despejo ocorreu de forma violenta e deixou pessoas feridas, com pertences destruídos, enterrados ou queimados pela Polícia Militar. O bispo lembrou que o governador se coloca de forma limitada para evitar os despejos e que não utiliza de sua atribuição de máxima autoridade do Estado para realmente evitá-los.
Ao final da celebração, num bosque coletivo das famílias situado no centro comunitário, o bispo, os padres e demais presentes plantaram 23 mudas de árvores nativas - cada uma simbolizando um ano de existência do acampamento. Tal ação também se conecta à Campanha Nacional de Plantio de 100 milhões de árvores para os próximos 10 anos, lançada pelo MST neste mês. O desafio é envolver todos os assentamentos do Brasil e criar um debate de contraponto na sociedade quanto ao avanço do desmatamento, sobretudo na Amazônia.
Edição: Lia Bianchini