Paraná

Jovens assassinados

Morte de quatro jovens do Parolin ainda sem solução

Moradores do bairro afirmam que polícia executou rapazes entre 14 e 21 anos. Polícia fala em confronto

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Moradores da comunidade dizem que os jovens não estavam armados e foram executados
Moradores da comunidade dizem que os jovens não estavam armados e foram executados - Giorgia Prates

Na última sexta de setembro (27), Eduardo Augusto Damas, de 21 anos, Elias Leandro Pires Pinto, de 17, Felipe Bueno de Almeida, de 16, e Gustavo Bueno de Almeida, de 14, moradores de uma comunidade no Parolin, bairro no centro de Curitiba, foram mortos após a polícia perseguir e parar o carro em que estavam, no Hauer, outro bairro da capital. A polícia alega que houve perseguição e troca de tiros e que o carro era roubado.

No entanto, moradores da comunidade dizem que os jovens não estavam armados e foram executados. O que causou grande revolta, levando a um protesto, no dia seguinte, reprimido pela polícia com tiros de bala de borracha. E a um segundo protesto por conta das mortes e da repressão da polícia. 

Para a mãe de um dos jovens mortos, a execução foi a sangue frio. “Eu tenho vídeo gravado, eles executando meus filhos. Estavam num carro que era roubado, mas não sabiam. Emprestaram o carro. Fazia quatro dias que esse carro estava roubado e não sabiam. A polícia nem abordou, fez perseguição. Meu filho tem 14 anos e o outro tem 16 anos. Quero justiça.”  

Repressão violenta 

Na noite seguinte às mortes, quando os moradores faziam protesto fechando ruas do bairro, há relatos de que a polícia chegou atirando com balas de borracha e feriu várias pessoas. Uma jovem moradora, que não quis se identificar, relatou que foi ferida no braço e nas costas e disse que o local virou uma praça de guerra. "Neste momento, a polícia está entrando e atirando dentro da vila", disse à reportagem. Imagens chegaram também com ferimentos de outros moradores. 

Foto: Giorgia PratesFoto: Giorgia Prates

 

MP garante que investigação acontecerá 

Dona Solange, mãe de Gustavo (14 anos) e de Felipe (16 anos), Franciele, irmã de Elias (17 anos), e Calita, esposa de Elias - que deixou dois filhos, de 1 e 2 anos - foram ouvidas em reunião convocada pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR). 

O procurador e coordenador da área de Direitos Humanos do MP-PR, Olympio de Sá Sotto Maior Neto, disse às famílias que a investigação está garantida e que o contato com a Polícia Militar e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) já foi feito e todo o acompanhamento e transparência serão dados aos familiares. “Estamos aqui fazendo o que é nossa obrigação. É responsabilidade do MP investigar e, identificado o crime, seja de que lado for, buscar a punição”, afirmou. 

Passeio de carrão 

A advogada Tânia Mandarino, do Coletivo de Advogadas e Advogados pela Democracia, que tem feito a mediação com o MP-PR e outras entidades, afirmou na audiência que os meninos tinham combinado de passear de “carrão” e que não estavam armados. O advogado Rodrigo Motta, representando Dona Solange, disse que é preciso que, por exemplo, digam se no Instituto Médico Legal (IML) foi feito exame de corpo delito para comprovar que os jovens estavam armados. “Até agora, não temos essa informação dos procedimentos no IML”, informou o advogado. 

O Coronel Péricles, comandante da Polícia Militar e representante da corporação na audiência, disse que defenderá, sobretudo, os direitos humanos e que o Gaeco já está recebendo depoimentos dos dois lados. “Não admitirei nenhum cerceamento, por parte da polícia, voltado para a comunidade. E já peço que isso seja denunciado, se acontecer. Reitero que estou e estarei ao lado dos direitos humanos, são seres humanos envolvidos”. 

Edição: Lia Bianchini