Paraná

Desmatamento

“Tivemos 1.800 alertas em julho e nenhuma ação do Ibama", denuncia ex-diretor do Inpe

Em palestra na UFPR, em Curitiba, Ricardo Galvão disse também que Inpe ficou mais conhecido após ataques de Bolsonaro

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Galvão considerou que sua exoneração, e todo debate sobre os dados do desmatamento da Amazônia, acabaram por fortalecer o Inpe
Galvão considerou que sua exoneração, e todo debate sobre os dados do desmatamento da Amazônia, acabaram por fortalecer o Inpe - Foto: Pedro Aguiar

Um auditório com estudantes e professores que sentaram no chão devido a superlotação da palestra do ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Ricardo Galvão, na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Como parte da programação do Seminário de Pós-graduação em Física, a palestra “O Inpe e o monitoramento dos Biomas brasileiros”, aprofundou conhecimentos sobre o Instituto e levantou o debate sobre a divulgação dos dados referentes ao desmatamento na Amazônia.

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Uma das primeiras afirmações de Ricardo Galvão foi considerar que sua exoneração e todo debate sobre os dados do desmatamento da Amazônia, acabaram por fortalecer o Inpe. “Muitas pessoas me encontram na rua e dizem que não sabiam da existência do INPE e tudo o que ele faz. Os ataques do governo contra o Inpe, acabaram por fortalece-lo”, relatou.

O físico de 71 anos foi exonerado no dia 2 de agosto do comando do instituto que é responsável por realizar monitoramento e estudos, por exemplo, do desmatamento na Amazônia e outro biomas. A exoneração aconteceu após a divulgação de dados de satélites do instituto que indicaram um aumento de 68% do desmatamento na primeira quinzena de julho em relação ao mesmo período do ano anterior. Bolsonaro desferiu críticas ao diretor e chegou a dizer que Galvão estaria a "serviço de alguma ONG".

Na palestra desta quinta, o cientista apresentou as inúmeras funções e atividades desenvolvidas pelo Inpe, além de cientistas e diretores premiados por seus trabalhos. “A ciência brasileira ainda é encastelada e pouco conhecida da população. A imprensa não trata do que fazemos nos governos. Isso ficou claro quando, após essa polêmica toda, percebemos que a sociedade desconhecia nosso trabalho e a obrigação que temos em divulgar dados”, afirmou.

Sobre a divulgação dos dados a respeito do desmatamento da Amazônia, ele explicou tratar-se de um das tarefas  corriqueiras do Instituto. “A regulamentação que determina a divulgação dos dados para a população. O Plano de Dados Abertos obriga toda instituição pública dar publicidade aos dados”, explicou.  

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O ex-diretor destacou que o mais preocupante foi que o governo brasileiro foi alertado e não tomou atitude: “Em janeiro foram 1.300 alertas de desmatamento e nenhum movimento feito pelo Ibama. Em julho, foram 1.800 alertas e nada foi feito”, contou.

“Foram 15 alertas por dia de abril a julho, sem nenhuma providência tomada pelo governo”, concluiu, afirmando também que uma das grandes causas do desmatamento são os discursos antiambientalistas do presidente. “As ameaças e as liberações do governo fragilizaram as inspeções, por exemplo, que deviam ser feitas pelo Ibama”, assinalou.

Por fim, Galvão considerou que a polêmica em torno de sua exoneração só fez crescer a importância do debate amplo na sociedade sobre a produção da ciência brasileira. “Tenho visto muita gente reconhecendo que quando se trata de questões científicas, não existe autoridade acima da soberania da ciência,” disse.

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O cientista aplaudido de pé  encerrou dizendo que continuará perseguindo o objetivo de fazer com que a sociedade não seja iludida e venha lutar junto. “É preciso, por exemplo, conscientizar a todos que apagar o fogo das queimadas é apagar o efeito. O que é preciso urgentemente é combater o desmatamento. Por isso, é preciso cobrar que o monitoramento seja feito e que os dados levem o governo a ação”, asseverou.

Edição: Rodrigo Chagas