Paraná

Denúncia

Alunas relatam assédio sexual de professor de universidade federal no PR

Reportagem entrevistou pessoas que fizeram denúncia contra Irã Dudeque, que era professor da UTFPR

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Este foi o primeiro caso de demissão por assédio sexual em uma universidade federal do Paraná
Este foi o primeiro caso de demissão por assédio sexual em uma universidade federal do Paraná - Reprodução

Alunas da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) denunciaram o professor Irã Taborda Dudeque, do curso de Arquitetura e Urbanismo, por assédio sexual, em outubro de 2017. No início deste mês, foi publicada no Diário Oficial da União a exoneração do professor. Este foi o primeiro caso de demissão por assédio sexual em uma universidade federal do Paraná.

Abaixo, confira trechos das entrevistas que o Brasil de Fato Paraná fez com as pessoas que denunciaram o professor. Os nomes foram preservados para que não sofram constrangimentos. 

Perguntas íntimas e passava a mão

“Comigo aconteceu em 15 de setembro de 2017. Irã se sentou do meu lado. Inicialmente foi uma conversa normal, depois começou a fazer perguntas bem invasivas: ‘se eu tinha namorado?’ ‘Como era nossa relação?’ ‘Ele beija o seu pescoço?’, ‘Ele te pega pela frente ou por trás?’...

Fiquei constrangida, mas tentei desviar o assunto. Continuamos conversando, mas, num certo momento, "esbarrou" a mão na minha coxa e chegou a fazer um comentário sobre minha pele estar fria. Achei que tinha sido sem querer e não me importei. Depois, aproximou a mão e começou a passar e apertar minha coxa de novo. Falei que aquilo era estranho e era pra parar. Ele disse que ‘coisas estranhas acontecem em Minas’, mas o assunto mudou. Depois de um tempo falou algo como ‘nunca, nem em 1 milhão de anos eu vou poder tocar sua coxa?’, insinuando que ia me tocar de novo... Depois de um momento de conversa, colocou a mão bem ao lado da minha perna e começou a acariciar com a parte de trás. Falei pra parar, porque aquilo era errado. Ele não me respeitou e continuou passando a mão. Falei de novo pra parar. Ele fez sinal de ‘silêncio’ com o dedo na boca, dizendo que não era pra eu gritar nem fazer escândalo...Dei um jeito de sair de lá com amigas que passavam".

Dança e perguntas íntimas

“Em setembro de 2017, eu estava no quarto período e não era mais aluna do professor Irã. Ele sempre organizava uma viagem por ano por conta da questão histórica/arquitetônica. Fui para Ouro Preto e cidades históricas, e a gente ficava hospedada numa república masculina.

No primeiro dia em Ouro Preto teve uma festa. O professor chegou completamente embriagado. Assim que me viu, veio em minha direção, me abraçou, em seguida escolheu uma música e me chamou pra dançar. Aceitei, constrangida, mas até então era uma situação amigável. Enquanto a gente dançava, ele pedia que eu me soltasse, que me aproximasse mais, passava a mão em mim, pedia que me soltasse e ficasse mais “tranquila” enquanto eu mostrava meu desconforto.

Soltei-me dele e desci para outro ambiente. Ele me avistou novamente, sentou do meu lado, bem próximo, começou a fazer perguntas pessoais, bastante íntimas. Ao mesmo tempo que se aproximava muito perto do meu rosto. Vi uma amiga passando e pedi para que sentasse perto de mim. Mas continuou falando de conquista, paixão, começou a me cantar. Estava totalmente desconfortável e me retirei dali”.

Outra Viagem

“Alguns semestres atrás fui a uma das viagens do curso para Minas Gerais, organizada pelo professor Irã. A hospedagem era numa república masculina em Ouro Preto, o que não configura em si um problema. A não ser pelo posicionamento estranho do professor, na época, que fazia a descrição para os moradores de cada menina que passava: ‘essa é solteira’, ‘essa outra também’. Lembro que quando eu passei, disse ‘essa aí não pode, pertence a tal garoto que está na viagem’. Essa atitude é bastante inapropriada, e faz parecer que nós, meninas, estávamos servindo de moeda de troca entre o professor e os donos da hospedagem...” 

Edição: Lia Bianchini