Paraná

Jornada de Agroecologia

Para Lirinha, ser artista no Brasil é uma atividade política

Após show na Jornada de Agroecologia, Lirinha fala sobre importância do evento e sua ligação com o MST

Curitiba |
Lirinha apresentou-se no dia de encerramento da 18a Jornada de Agroecologia, em Curitiba
Lirinha apresentou-se no dia de encerramento da 18a Jornada de Agroecologia, em Curitiba - Wellington Lenon

José Paes de Lira, o Lirinha, é mais conhecido por sua participação na banda Cordel do Fogo Encantado, mas sempre esteve ligado a movimentos de cantadores, poetas e a movimentos sociais. Após o show que fez no dia do encerramento da 18a Jornada de Agroecologia, em Curitiba, falou com exclusividade ao BDF. 

Brasil de Fato – Qual a importância de participação na Jornada de Agroecologia?
Lirinha – São muitos elementos que fazem esse encontro de hoje ter uma importância muito grande, ter um poder muito grande. Um deles é essa reunião em praça pública. Estamos aqui num lugar de todos e trazendo não só as nossas idéias sobre um mundo melhor, mas também nos divertindo, trazendo a poesia, a música, sendo um espaço também de mostrar e dividir com a população as produções dos assentamentos. É realmente um dia especial e eu fico honrado com esse convite do MST.

BDF – Você falou no show dessa sua ligação com o MST, de visitar escolas do movimento, como é isso?
Lirinha – Tudo começou em Arcoverde, no interior de Pernambuco. Existe um assentamento muito antigo do Movimento lá, chamado Pedra Vermelha. E eu fui convidado por um mestre de samba de coco chamado Lula Calixto, que já faleceu, pra ir conhecer a escola desse assentamento. Fui e todas as crianças estavam tendo aula de português com um mamulengo na mão, e aquilo me deixou encantadíssimo, porque era uma pedagogia que nunca tinha visto nas escolas da cidade. Outro elemento que me trouxe curiosidade sobre o movimento é que esse mestre, Lula Calixto, foi convidado para dar aula de samba de coco, e eu sei que ele é um detentor, profundo conhecedor da formação de nosso País. Depois desse contato, descobri  a ligação da minha avó com as primeiras lutas por uma reforma agrária popular, ligação com Gregório Bezerra, Francisco Julião (dos movimentos por reforma agrária na década de 1960), e isso só me fez assumir mais esse desejo de também ser um instrumento, de trazer os anseios dessa população do interior de nosso país.


BDF – E como é ser artista nos tempos atuais?
Lirinha – Olha, ser artista no Brasil é uma atividade política, porque o que entendemos por política é a idéia de trabalhar no coletivo, é ser da resistência, é nadar contra a maré, e isso nos dá uma força muito grande e um entendimento de que precisamos sempre lutar por nossos sonhos e esse trabalho coletivo.


BDF – E como encarar esse momento atual?
Lirinha – É um momento difícil, porque a luta teve de ir para a rua e estamos praticamente desde o período do golpe contra Dilma na rua, mudou completamente a nossa atividade artística. Ela traz hoje esse elemento da denúncia, do testemunho, de sempre ressaltar a importância da história, da memória, e através da poesia trazemos essa história, essa memória.
 

Edição: Redação