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Eletricitários lutam contra venda de unidade da Cemig em Belo Horizonte (MG)

Se concretizado, fechamento da unidade pode prejudicar cerca de 1 milhão de consumidores

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |

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Parlamentares, movimentos sociais, sindicatos e eletricitários se reuniram em audiência pública na ALMG na terça (20)
Parlamentares, movimentos sociais, sindicatos e eletricitários se reuniram em audiência pública na ALMG na terça (20) - ALMG

Parlamentares, movimentos sociais, sindicatos e eletricitários se reuniram em audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, na terça-feira (20) para debater o futuro da base operacional da Cemig no bairro São Gabriel, região nordeste de BH. A unidade, que funciona desde a década de 80, está sob ameaça.

Recentemente a gestão da Cemig anunciou a venda da base que atende mais de 10 municípios da região metropolitana de Belo Horizonte, o que representa cerca de 1 milhão de pessoas. Além dos consumidores, 115 trabalhadores vão ser diretamente afetados com a medida. A expectativa é que os funcionários sejam remanejados para a unidade do bairro Camargos. No entanto, os trabalhadores apontam que a unidade do bairro Camargos não vai comportar o remanejamento. “Na base do Anel, os trabalhadores precisam fazer revezamento para utilizar o vestiário porque ele não comporta todo mundo. Agora imagina se deslocar mais 100 trabalhadores para lá”, ressaltou o diretor do Sindieletro Jairo Nogueira.

Durante a audiência os trabalhadores também afirmaram que estão sofrendo coações da empresa por lutarem contra o fechamento da unidade. A gestão ameaçou descontar da folha de pagamento dos eletricitários o tempo que eles passaram em assembleia para debater o tema. Além das coações os trabalhadores também temem ser dispensados após o fechamento da unidade.

Apesar de convidado, o presidente da Companhia, Cledorvino Belini não compareceu à audiência e não justificou a ausência. O que foi extremamente questionado pelos trabalhadores e parlamentares “Eu não consigo acreditar que com equipe de gestão deste tamanho não haja ninguém que possa vir debater sobre um assunto tão relevante para os trabalhadores e para Minas Gerais. Não é a primeira vez que o presidente se ausenta do debate aqui na Assembleia”, denunciou a deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT).

O prefeito de Jaboticatubas, Eneimar Adriano Marques (Patriota), que também esteve na audiência, afirmou que o município já sofre os impactos com a extinção da unidade da Cemig na cidade, que foi vendida recentemente. Agora, o gestor teme pelo fechamento da unidade São Gabriel. “Nossos trabalhadores já foram remanejados para o São Gabriel e agora vão para mais longe ainda. Nós já percebemos que o tempo de atendimento aumentou e agora pode piorar ainda mais. Nos preocupa, por exemplo,  o caso do hospital  que se ficar muito tempo sem energia coloca a vida de pessoas em risco e também as granjas da região que se forem prejudicadas vão trazer prejuízos financeiros para região”, destacou.

Privatização parcelada

As vendas de unidades da Cemig tem sido uma prática comum desde a nova gestão da empresa. Segundo o Sindicato dos Eletricitários mais de 50 unidades foram fechadas no último período. “Ele está passando a perna nos deputados, na ALMG. Ele está vendendo a CEMIG aos poucos. Privatizando sem ter que passar pelo trâmite legal que rege a Constituição do nosso estado”, afirmou Jairo Nogueira, que lembrou ainda que além de encarecer a tarifa para os consumidores, a privatização do setor também coloca a população em risco. Ele citou como exemplo os crimes da Vale em Brumadinho e Mariana que só aconteceram após a empresa ser privatizada.

A justificativa da gestão da CEMIG para encerrar os trabalhos na base são os cortes de custos. No entanto, a manutenção anual da unidade é de aproximadamente R$ 1 milhão, já o lucro que a unidade gera à empresa é de quase R$ 2 bilhões, segundo cálculos do Sindieletro. O sindicato denuncia ainda que a empresa tem realizado um programa de desligamento dos gerentes da empresa, oferecendo um benefício de seis vezes a remuneração dos gerentes, despesa que, segundo o sindicato, garantiria a manutenção da base por pelo menos 25 anos.

O sindicato também questionou a legalidade da venda do imóvel que sedia a base. Para o diretor do Sindieletro, Jairo Nogueira, há indícios de que a venda da unidade seja um esquema de compra casada, já que o valor do imóvel está abaixo do preço de mercado. “Essa é uma localização estratégica, onde será a nova rodoviária de Belo Horizonte. É uma área que muito em breve vai se valorizar, então quem comprar além de pagar um valor menor do que o de mercado ainda pode lucrar muito” afirmou.

Próximos passos

Como encaminhamento da audiência, a Comissão requereu uma visita técnica à unidade, para conversar com os trabalhadores e também uma nova audiência pública, onde o presidente da Cemig será convocado a participar. As datas ainda vão ser divulgadas.

Edição: Elis Almeida