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Opinião | Mulheres no futebol: "Quem comanda o mundo, Brasil?"

Que outras 'Martas' tenham a possibilidade de brilhar no futebol, e melhor ainda se a oportunidade surgir de Pernambuco

Brasil de Fato | Recife (PE) |
O que se espera é que a copa tenha retomado a discussão sobre o futebol feminino no Brasil
O que se espera é que a copa tenha retomado a discussão sobre o futebol feminino no Brasil - CBF

O título é uma intertextualização da música "Who Run The World", da cantora estadunidense Beyoncé. A canção sugere que quem comanda o mundo são as mulheres. Comandar, no entanto, não é a ideia principal que este artigo pretende seguir. Trata-se de estar frente à frente e lado a lado. Muito antes de 1991, ano de realização da primeira Copa do Mundo de futebol feminino, as atletas de futebol enfrentam dificuldades que, hoje, mais do que se sabe, estão acima da aceitação de mulheres jogarem bola ou não.
A Copa daquele ano, que teve a China como país anfitrião, foi a primeira competição internacional de seleções, jogada por mulheres, a ser reconhecida pela Federação Internacional de Futebol, a FIFA. Na ocasião, a seleção dos Estados Unidos se sagrou campeã do torneio. As norte-americanas já contavam com a apoio de sua federação esportiva e de patrocinadores. O Brasil foi eliminado da competição ainda na fase de grupo e voltou para casa com apenas uma vitória, por 1 a 0 em cima do Japão.
Antes disso, em 1941, as brasileiras sofreram com o decreto-lei, sancionado no governo Getúlio Vargas, que proibia as mulheres de exercerem qualquer prática esportiva que estivesse em "desconformidade" com seu porte físico. Dentro dos esportes proibidos estava o futebol. Na época, de forma simbólica ou por meio de decretos como esse, a mulher ainda era proibida de exercer plenamente suas vontades e de pôr em prática sua moral. Via-se, então, através do impedimento de práticas esportivas, a tentativa de consolidar na sociedade o lugar da atleta de futebol como "outsider" - sujeito que se encontra à margem de outro sujeito considerado "superior". Nesse caso, a mulher era, e, em muitos espaços sociais continua sendo, colocada como um sujeito inferior ao homem, simplesmente por ser mulher.
De qualquer forma, é importante ressaltar as reviravoltas da história. Todos esses fatores apontados acima fizeram parte de dois contextos centrais: a falta de reconhecimento do futebol exercido por mulheres, exemplificado também na ausência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) nas primeiras competições femininas, e da falta de investimento dos clubes na categoria. A passos de tartaruga isso tem mudado. Além da Band, que desde a segunda Copa do Mundo, realizada em 1995, veicula jogos da seleção brasileira, outros veículos midiáticos tradicionais enxergaram na Copa de 2019, por interesse ou não, a importância de dar visibilidade ao evento. Esse processo se estende, também, aos torcedores e torcedoras franceses e do mundo todo que estão acompanhando o torneio de perto, nos estádios e na TV.
Ainda falta muito para a equiparação entre mulheres e homens no futebol, mas ao que parece, os clubes brasileiros, de forma mais visível, também estão começando a enxergar atletas e torcedoras como consumidoras do futebol. Esse reconhecimento pode ser mais facilmente enxergado no eixo Sul-Sudeste.
Os times de Pernambuco por enquanto, engataram nesse desenvolvimento, mas parecem não estar acompanhando o ritmo. Vitória/Santa Cruz e Sport disputam a Série A1 do Brasileirão. O time rubro-negro ocupa a lanterna da competição, com apenas um gol marcado no torneio até o momento. O time tricolor, ocupa a 12° posição, com oito pontos e não faz uma campanha de encher os olhos, mas pode-se dizer que é uma campanha regular se comparada  a do rival e aos times de alto nível, como Corinthians, Santos e Internacional que disputam a ponta da tabela. Por outro lado, o Náutico disputou a Série A2 do Brasileiro, mas não conseguiu avançar para as oitavas de final. O cenário esportivo na categoria feminina é ainda pouco visível no estado e sofre com a falta de estrutura, investimento e patrocínio. Que a Copa do Mundo demonstre que, também por meio do futebol, os tempos mudaram.
O que se espera é que essa seja a Copa da redenção. Redenção dos veículos de mídia tradicionais. Redenção dos clubes nacionais e do público brasileiro. Que saibam que não à toa Marta é a maior artilheira de todas as Copas do Mundo. O nome da jogadora virou até adjetivo. E que assim seja. Que outras 'Martas' tenham a possibilidade de brilhar no futebol, e melhor ainda se a oportunidade surgir de campos pernambucanos.

Edição: Monyse Ravenna