Paraná

Aposentadoria

Quem mais sofre com a reforma da previdência?

Mudanças mexem com a vida das pessoas, se passar reforma muita gente nem vai se aposentar

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |

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Isabel Aparecida Fernandes, aposentada com salário mínimo.
Isabel Aparecida Fernandes, aposentada com salário mínimo. - Giorgia Prates

Expectativa zero de viver com dignidade 

“Antes do Lula eu recebia de aposentadoria 250 reais, depois que ele ganhou, a primeira coisa que ele fez foi mexer nas aposentadorias, e aí recebi 450 reais. Agora, recebo salário mínimo porque minha aposentadoria é especial, porque me aposentei por que fiquei doente por causa do meu trabalho. 

Eu vivo com salário mínimo, moro com minhas duas irmãs e uma ajuda a outra. Mas seu eu fosse viver só com o meu salário, te garanto que não conseguiria. Eu preciso tomar remédios caros. Agora, com essas ameaças de congelamento do salário mínimo e mudanças na aposentadoria especial, a gente sai do nosso alivio e parece que vamos voltar nos anos 90 que a gente comprava um bife e dividia com a família toda. Agora, o jeito é ir levando porque não está sendo fácil. Minha expectativa é zero para sobreviver com dignidade.” 

Maioria das mulheres do campo não se aposentará 

A trabalhadora rural Solange Parcianello, que está assentada há 27 anos, diz que se a reforma da previdência proposta por Bolsonaro passar, a expectativa é que 80% das mulheres do campo não conseguirão se aposentar mais. “Estamos vivendo outro momento de luta. Já vivemos isso em 1980, 1990 quando lutávamos pelos direitos das mulheres do campo. Hoje a gente está prestes a perder estes direitos. Eu consegui minha aposentadoria faz um ano. Mas muitas mulheres ainda não conseguiram.” 

E ela diz que as mudanças são injustas, principalmente com as mulheres do campo, que trabalham mais. “A agricultora sempre tem muito trabalho. Trabalha na casa, sai para fora, cuida dos animais, da horta, do pomar. E ajuda nas lavouras, nas plantações. A mulher do pequeno agricultor contribui em todas as tarefas. Tem tripla jornada de trabalho.”

Vamos adoecer trabalhando 

“Trabalho como professora há 22 anos. Mas tenho 31 anos com a carteira de trabalho assinada. Minha expectativa como professora era ter estabilidade no emprego, um plano de carreira e uma expectativa de aposentadoria integral após 25 anos de trabalho. A ideia seria me aposentar com salário integral daqui uns 3 anos. Já tenho o tempo de contribuição, mas como professora eu teria que completar os 25 anos. Se passar a reforma, é desesperador, porque provavelmente terei que trabalhar mais uns dez anos.” 

E explica como as professoras têm um trabalho desgastante. “Na sexta feira eu já estou sem voz, as turmas cada vez mais lotadas e condições difíceis de trabalho. Estamos em uma situação de desilusão. Não foi suma vez só que eu pensei em desistir porque vamos adoecer trabalhando.” 

Vejo muita gente com doutorado desempregada

“Desde que me formei na graduação venho aprimorando meus estudos, buscando maior qualificação profissional. Desde que entrei na faculdade de História, os meus sonhos sempre foram muito condizentes as possibilidades que a profissão poderia me oferecer: ser professora no ensino básico ou no ensino superior e também como historiadora num órgão federal, estadual. 

Hoje isso está bastante difícil. O cenário se apresenta cada vez mais complicado para o profissional jovem. Eu, no caso, recém-comecei a trabalhar. Na minha área eu vejo muita gente com doutorado desempregada. E, das três instituições que já dei aula, boa parte fiquei sem ser registrada em carteira. Tenho 32 anos, pouco tempo de contribuição e com essa reforma vejo que a situação fica mais complicada. Vamos trabalhar muito mais, com menos. E, no futuro, uma geração não vai conseguir se aposentar.

Edição: Laís Melo