Por excesso de estoques e baixa demanda, a direção da BRF, uma das maiores empresas brasileiras de alimentos, comunicou aos funcionários da planta de Carambeí (PR), município vizinho a Ponta Grossa (PR), que pretende suspender a produção por 60 dias, a partir de junho, medida que pode chegar a até cinco meses.
O acordo coletivo para suspensão temporária dos contratos de trabalho, conhecido como lay-off, foi aprovado nesta segunda-feira (22) em assembleia. Nesse período, os colaboradores receberão uma bolsa qualificação profissional, modalidade de seguro-desemprego concedida ao trabalhador com contrato de trabalho suspenso. Se as vendas aos países árabes, principais compradores, não voltarem ao normal, cerca de 1,5 mil pessoas podem perder o emprego.
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O secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Carambeí e Região, Wagner do Nascimento Rodrigues, explica que 90% da produção dessa planta é vendida para o "mundo árabe", com o chamado abate Halal, que segue preceitos muçulmanos.
Embora a empresa não declare os motivos do excesso de estoque, Rodrigues atribui à postura do governo Bolsonaro boa parte da perda de mercados. “Na minha leitura, há reflexo da política externa do atual governo, da aproximação com Israel e por ter deixado de lado a política neutra que o Brasil tinha em relação aos conflitos dos árabes”, diz.
Dos 1,5 mil trabalhadores contratados, apenas 300 seriam mantidos em atividades de manutenção e limpeza.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de comunicação da BRF, que confirmou que "a decisão de suspensão da produção na unidade reforça a estratégia já anunciada de manter os estoques em níveis adequados para a operação da companhia, ao mesmo tempo em que priorizará gestão da oferta para assegurar o equilíbrio do sistema produtivo".
Reflexos no Paraná
A paralisação da unidade em Carambeí, além do risco aos empregos diretos, traz danos a toda a cadeia produtiva da região -- a cidade tem pouco mais de 22 mil habitantes. O deputado estadual Tadeu Veneri (PT) afirma que o risco de desemprego pode ser multiplicado por três, por afetar as famílias que fornecem frangos para o abate, a maioria da agricultura familiar.
“Para o Paraná foi terrível quando a BRF encerrou a planta de perus em Francisco Beltrão; 400 aviários da região foram fechados. Se parar a produção de frangos em Carambeí, muitos vão quebrar. A cadeia é integrada, não tem para quem vender", argumenta.
Outro ponto destacado por Veneri é a inoperância do governo do estado do Paraná. “Até onde tenho conhecimento, há total ausência do poder público nisso, da Secretaria de Indústria e Comércio, da Agricultura, do governador, etc, em resolver esse problema”.
O governo estadual não respondeu ao contato da reportagem.
Edição: Laís Melo