Paraná

UNIVERSIDADE E INTIMIDAÇÃO

Após ameaça de atentado na UFPR, professores cobram medidas concretas da reitoria

"Reitoria da UFPR se limitou a publicar um texto breve e vago em uma rede social, sem nenhuma conclusão ou orientação"

Brasil de Fato I Curitiba |
"Não é de hoje que a comunidade acadêmica da UFPR se sente desprotegida", diz nota.
"Não é de hoje que a comunidade acadêmica da UFPR se sente desprotegida", diz nota. - Divulgação UFPR

A Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná (APUFPR) – Seção Sindical do Andes SN; depois do episódio de ameaça virtual de atentado à UFPR, ontem (10), cobra em nota medidas efetivas por parte da reitoria e posiciona-se contra o que considera tentativas de intimidação ao ambiente universitário, no atual contexto no qual predomina “o discurso do ódio”. Os professores universitários também consideram que não há proteção efetiva por parte da instituição: "Não é de hoje que a comunidade acadêmica da UFPR se sente desprotegida", descrevem. 

Confira abaixo a íntegra da nota:

 

Nota da APUFPR-SSind: Ameaça de massacre na UFPR é reflexo da perseguição às liberdades
 

Na noite de ontem (10), uma postagem anunciando a realização de um massacre na UFPR causou pânico nos membros da comunidade universitária.
 

A mensagem original foi publicada em um dos muitos fóruns extremistas da chamada deep web (parte menos “visível” da internet), onde usuários anônimos destilam ódio contra minorias sociais e exaltam o discurso belicoso banalizado por grupos extremistas e políticos nos últimos tempos.

 

Esse tipo de ameaça é inadmissível no estado democrático. O medo e a coação vêm sendo utilizados como ferramenta de chantagem contra a comunidade universitária, numa tentativa covarde de calar as liberdades e diversidades de pensamento e de expressão.

 

Desde o massacre de Suzano, em março passado, várias universidades públicas receberam ameaças semelhantes, demonstrando que a investida dos discursos de ódio tem um alvo claro. É imprescindível analisar o fenômeno além do ato em si, e reconhecer o uso da violência como instrumento de intolerância e de perseguição política.

Na atual conjuntura, não só os espaços de produção de conhecimento, mas também seus atores (docentes, servidores técnico-administrativos e estudantes) são tratados como inimigos que devem ser abatidos. É preciso compreender que este tipo de discurso, proferido por atores políticos como arma de aglutinação de sua base de admiradores, tem reflexos trágicos na vida real.

O ataque retórico contra a universidade pública, ecoados sistematicamente por veículos de imprensa que compartilham a mesma agenda política e econômica desses grupos extremistas, embasam e reforçam o estímulo à ação.

Não podemos tratar essa ameaça, e nem o massacre de Suzano ou atos semelhantes que acontecem em outros países, como ações isoladas ou frutos de meros transtornos mentais de seus autores. São ações políticas, executadas sob o estímulo constante de atores políticos e sociais.

O anúncio do massacre deve ser investigado com a máxima seriedade pelas autoridades competentes e pela administração da universidade — que, até o momento, nada fez além de disseminar o pânico entre discentes, funcionários e professores.

Logo após tomar conhecimento das ameaças, a reitoria da UFPR se limitou a publicar um texto breve e vago em uma rede social, sem nenhuma conclusão ou orientação sobre o que estava acontecendo.

Em poucos minutos, a postagem recebeu centenas de comentários de acadêmicos desesperados, comprovando que a precipitação da administração não teve nenhum desdobramento efetivo, exceto servir como um canal para ampliar ainda mais o clima de medo e terror.

O silêncio da reitoria sobre um possível — e prudente — cancelamento das aulas também acentuou a sensação de despreparo para lidar com um problema dessa magnitude.

Não é de hoje que a comunidade acadêmica da UFPR se sente desprotegida nos campi da instituição, e se encontra sem nenhum tipo de suporte diante da popularização de discursos de ódio.

A APUFPR-SSind reitera seu repúdio a qualquer tentativa de utilizar o pânico e a violência como armas de ataque à democracia, ao mesmo tempo em que exige da reitoria uma ação com responsabilidade, dando orientações concretas e claras para docentes, técnicos-administrativos, funcionários terceirizados e estudantes.

Ao mesmo tempo em que a instituição não deve se dobrar ao terror, precisa ser responsável com a integridade e com a vida dos membros de sua comunidade.

A universidade tem a obrigação de não se limitar apenas a postagens nas redes sociais. Além de acompanhar a grave situação de perto, pressionando os órgãos oficiais para que as investigações sejam concluídas e os responsáveis identificados e responsabilizados criminalmente, a instituição precisa abrir urgentemente um canal de diálogo com a sociedade, para debater a fundo os motivos que estão levando ao crescimento da violência contra o conceito de universidade pública.

Por isso, urge a promoção de um debate ampliado sobre as reais motivações por trás desse tipo de ameaça, sobretudo aquelas direcionadas a professores, técnicos e alunos que compõem camadas sociais menos favorecidas.

Todos que frequentam um espaço público têm o direito de exercer suas atividades com total segurança e apoio. A APUFPR-SSind não irá descansar até que a administração tome todas as providências necessárias para fornecer amparo e resguardo a todos que vivem a UFPR diariamente.


Diretoria da APUFPR-SSind

Edição: Pedro Carrano