DIREITA PARAIBANA

Estudante negro é impedido de entrar em evento audiovisual sobre golpe de 64

Exibição de filme aconteceu em recinto público, na UFPB, e racismo causou revolta

Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |
O filme '1964: o Brasil entre armas e livros' tem uma visão simpática do golpe, que seria, segundo sua narrativa, uma reação legítima.
O filme '1964: o Brasil entre armas e livros' tem uma visão simpática do golpe, que seria, segundo sua narrativa, uma reação legítima. - Reprodução.

No dia 2 de abril aconteceu na Universidade Federal da Paraíba, a exibição do filme 1964: o Brasil entre armas e livros, no entanto, além da comemoração por parte dos organizadores do evento, do que eles chamam de revolução de 64 e da reverência ao torturador Carlos Alberto Ustra, outro fato chamou a atenção durante o evento, um estudante negro foi barrado na entrada da exibição do filme, sendo impedido de participar. Por conta desta atitude, os estudantes, que se sentiram indignados com a situação, elaboraram, neste dia 3, uma nota de repúdio à exibição do filme.

“Dançamos côco, tocamos pandeiro, gritamos falas sobre Bolsonaro, enquanto eles nos chamavam de animais”, se posicionaram, em nota, os estudantes presentes no evento, que não concordaram com o racismo dos organizadores do evento. Os alunos também repudiaram o posicionamento unilateral do apresentador Sikêra Júnior, da TV Arapuan, que tratou os estudantes, contrários ao preconceito, como bardeneiros, assim como a Folha de São Paulo.

Exibição de filme sobre 1964 em João Pessoa (PB). /  Divulgação.

Confira a seguir a nota dos estudantes que se posicionaram contra o racismo:

NOTA DE REPÚDIO SOBRE O FILME 1964: ENTRE ARMAS E LIVROS

Os estudantes que foram até a exibição do filme no dia 02/04/2019 lançam esta nota de repúdio e também de esclarecimento.
Repúdio as mídias (Como a Folha de São Paulo e o programa televisivo da TV Arapuan, apresentado por Sikêra Júnior), que divulgaram notícias a partir de uma única fonte, mesmo sem saber as duas versões do acontecido, considerando verdades concretas as notícias e imagens distorcidas do ato.

Vamos aos fatos: Cerca de 10 estudantes entraram para assistir o filme (sem que fosse solicitado qualquer documento), com o intuito de fazer a discussão no final, quando dois de nossos colegas chegaram após 40 minutos de filme. Um era um senhor, branco, vestido de roupa social e o outro era um jovem, negro, de bermuda e sandálias. A organização do evento barrou a entrada APENAS do nosso colega negro, pedindo documento com foto para poder entrar no auditório do CCHLA, auditório este de uma universidade PÚBLICA e que todos têm acesso por direito, principalmente seus estudantes. A partir deste ato, que consideramos RACISTA, começou a se discutir sobre a entrada do mesmo, que não foi permitida. Novos colegas começaram a notar o tumulto sobre a entrada do jovem e começaram a aderir a causa, quando realmente IMPEDIMOS a exibição de um filme, que chama o golpe de 64, de REVOLUÇÃO, com fontes pouco ou nada confiáveis.

Dançamos côco, tocamos pandeiro, gritamos falas sobre Bolsonaro ,enquanto eles nos chamavam de ANIMAIS no microfone do auditório. Uma de nossas colegas conseguiu falar no microfone e pediu que a organização do evento pedisse desculpas (era o mínimo, pois eles deveriam ter sido presos, porque racismo é crime) ao jovem que sofreu racismo e foi vaiada. Filmaram cadeiras já quebradas do auditório tentando nos incriminar, porém um policial federal nos disse que existe um mapeamento das cadeiras quebradas do auditório, provando assim a manipulação de imagem deles.
Tentamos ouvir e ver a ideia deles com o filme, entretanto fomos BARRADOS DE FORMA RACISTA. Os vídeos que as pessoas , apoiadoras do movimento do dia 2 de abril, não mostram todo o acontecido. Por que a Folha de São Paulo não falou que eles clamaram por Ustra? Por que Sikêra Júnior não disse que nos chamaram de animais? Por que não mostram que eles estavam armados?
OS ESTUDANTES QUE NÃO DEIXARAM O FILME SER EXIBIDO NA UFPB, CAMPUS I ,REPUDIAM QUALQUER FORMA DE TORTURA, RACISMO, MACHISMO E QUALQUER TIPO DE PRECONCEITO QUE A DITADURA DISSEMINOU SIM!
#Resistir #DitaduraNuncaMais

Edição: Heloisa de Sousa