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Ocupação 29 de março: Reconstrução a partir das cinzas

Com ausência do poder público, população e movimentos reerguem a vida da comunidade

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |

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 No natal, uma festa solidária aconteceu levando presentes e alegria para comunidade
No natal, uma festa solidária aconteceu levando presentes e alegria para comunidade - Giorgia Prates

Articulações, trabalho voluntário, organização e união são as chaves que marcam o processo de reconstrução da Ocupação 29 de Março, na CIC, incendiada criminalmente na noite de 07 para 08 de dezembro do ano passado, durante uma ação policial no local. Tão rápido quanto o fogo se alastrou e destruiu as casas, foi a reação de solidariedade da população da cidade, movimentos sociais organizados e entidades, que passaram a erguer às próprias mangas e as casas dos atingidos, diante da ausência de uma ação efetiva do Município e Estado.

“O processo de reconstrução foi sendo feito pela comunidade, pela população, por organizações que já nos acompanhavam e outras entidades não organizadas, engenheiros, professores e pessoas de várias profissões. Os parceiros da ONG Teto construíram 21 casas rapidamente e o MST segue aqui com a gente fazendo um trabalho fantástico de mapeamento das pessoas atingidas, medição do terreno, conseguiram doações e seguem construindo em mutirão. Já foram construídas 40 casas e outras 17 estão bastante avançadas em sua finalização”, conta Valdecir Ferreira da Silva, que mora na comunidade desde que ela surgiu.

Como aponta Joabe Mendes da direção estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a reconstrução significa enfrentar as mazelas do incêndio, mas também outras causas mais profundas e unificadas: “Desde o início das ocupações no complexo, há 7 anos, o MST está junto com o Movimento Popular por Moradia (MPM) e as organizações por luta pela terra urbana. No dia do incêndio ficamos muito tristes e logo já estávamos aqui ajudando com comida, lona, construção dos barracos improvisados. A nossa luta é a mesma: No campo fazemos a luta pela reforma agrária e contra o latifúndio, aqui a luta é pela reforma urbana e contra a especulação imobiliária”.

Mais por construir

Sem iluminação pública, saneamento, esgoto e com instalação de água precária, para além de seguirem o trabalho de reconstrução das casas, a população local, aliada à seus parceiros, realiza atos de pressão à Prefeitura Municipal para garantir os direitos básicos,  enquanto segue erguendo casas, colocando postes, construindo banheiros comunitários e organizando oficinas de biofossas, entre outras.

“A comunidade tá voltando a criar corpo, reconstruindo com um respeito muito grande ao MPM e as coordenações locais, com pessoas sérias e comprometidas que estão replanejando a comunidade. Mas tá todo mundo muito assustado, a indenização que as famílias mais querem é a consolidação da área, que a prefeitura regularize o terreno da Ocupação 29 de Março e das ocupações em volta”, aponta Joabe. Para quem deseja ajudar, a comunidade afirma que as principais necessidades são materiais de construção.

Edição: Laís Melo