No dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, Luiz Carlos dos Santos, dirigente da Sindicato do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato), integrante da coordenação da Vigília Lula Livre e da Associação Conciência Negra de Maringá, reflete sobre os desafios do movimento negro no atual momento e frente a um governo de pautas e declarações de antipopular.
Brasil de Fato Paraná – Além de lutar pela data do dia da Consciência Negra, que capitais como Curitiba não reconhecem, quais são as pautas da população negra hoje?
Luiz Carlos dos Santos - O movimento negro pautou e escolheu essa data por ser a morte do Zumbi dos Palmares, que representava a luta pela liberdade, representava resistência pela permanência do povo negro que estava aqui, e hoje não é diferente: é uma luta por resistência, para garantirmos a permanência dos direitos que conquistamos ao longo de anos e anos de história, e também para a gente pautar novas lutas e novas demandas, para a promoção do povo negro e o combate ao racismo tão presente em nossa sociedade. Nesse momento fascista isso é mais gritante ainda.
Para a esquerda em geral, há o desafio de unidade. Como o movimento negro visualiza esse tema?
Todo movimento social em geral precisa ter essa integração. Na verdade a luta do movimento negro, como a de qualquer outro movimento, não pode se dar de forma isolada e deve ser transversal, passando por vários debates. Hoje o negro está no mercado de trabalho, e o recorte que fazemos desse debate é que o negro vive nas condições mais precarizadas, com relação à garantia de direitos. Numa escala, hoje uma mulher negra é a menos considerada no mercado de trabalho, então o movimento negro não pode se abster desse debate, e não tem propriedade sozinho para fazer isso se não estiver envolvido na luta do movimento sindical, que faz esse debate, como a questão de gênero etc.
Há uma ideia de que o Brasil é um país feito sem revoltas populares, mas nosso passado tem várias principalmente com a população negra, caso do malês. Qual a importância desse resgate?
Vivemos sob o mito da democracia racial, que permeou ideias e mentes, por conta de um racismo institucional, que está no meio da situação. Então, o negro se sentia ali no seu lugar de onde a sociedade o colocou, dentro desse racismo institucional impregnado na sociedade, que nos colocava nas periferias, na criminalidade, nas favelas, sem acesso à educação, com acesso precarizado à saúde, então você tinha essa conformidade. Então resgatar o momento em que negros tiveram suas lutas e revoluções, isso é importante para a gente novamente buscar o empoderamento do povo negro, resgatar essa força que a gente tem enquanto população, uma vez que somos a maioria da população do país, 54% da população, e somos a segunda população negra em número de pessoas, atrás da Nigéria.
Qual papel a escola deve cumprir nessa conscientização e os riscos nesse momento de propostas como o Escola sem Partido?
A escola, assim como a igreja e a mídia, sempre cumpriu o papel de manter relação de domínio da sociedade patriarcal sobre a população negra. Aqui no Brasil, a partir de 2003, uma das primeiras leis promulgadas pelo então presidente Lula foi a lei 10.389, que fala sobre a importância do debate na escola da história e cultura afrobrasileira e africana, a partir daí equipes multidisciplinares que organizam esse trabalho no sentido de fazer essa promoção e de levantar essa consciência da população, da juventude negra, valorizar essa história, cultura e visual, para que o jovem negro se sinta pertencente na capacidade de ascenção. O projeto da Escola sem Partido é uma ameaça a qualquer princípio de evolução que a gente tenha na escola, e lógico que é grande a ameaça à população negra, ele pode vir de forma mais agressiva ou sutil, com o discurso de que não temos o racismo, que precisamos fazer o debate tudo está consolidado. É uma grande ameaça. Combater isso não é uma tarefa só do povo negro, só do movimento LGBTI.
Como o movimento negro está se preparando para um governo Bolsonaro?
Organizamos debate da garantia de direitos que já tivemos, nós temos representatividade pequena nos espaços de poder, mas temos que começar a pensar em organizar a resistência mesmo. São jovens negros nas universidades que já pensam em movimentos para organizar a manutenção da políticas de cotas, manutenção da política de cotas, garantia de leis e políticas públicas, sabemos que vai ser um período difícil, mas vemos na população o empoderamento que nos vai dar força para fazer a resistência.
Edição: Laís Melo