Paraná

Reação

Em resposta ao autoritarismo, MST faz da arte uma ferramenta de resistência e luta

Em roda cultural na Vigília Lula Livre, militantes falam sobre importância da arte no debate político

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |

Ouça o áudio:

Desde a prisão de Lula, em abril, o espaço da Vigília tem sido usado para debates, rodas de conversa e manifestações artísticas
Desde a prisão de Lula, em abril, o espaço da Vigília tem sido usado para debates, rodas de conversa e manifestações artísticas - Joka Madruga / PT Nacional

“A despeito de todo ódio, seguimos firmes! A despeito de todo ódio, o amor resiste!”. Os versos são da poesia “É sempre tempo de amor”, de Bruna Matos de Carvalho, militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Nesta segunda (19), eles foram lidos na Vigília Lula Livre, em Curitiba, antecipando a saudação de "boa tarde" ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 

No poema, Bruna fala sobre a coragem para resistir às violências do cotidiano e a esperança para construir um mundo novo, “com mulheres e homens novos”. “Podem nos bater, nos perseguir, nos ameaçar. Não podem nos impedir de sonhar e lutar!”, escreve. 

Quem deu voz aos versos na Vigília foi Luana Oliveira, integrante do setor de comunicação e cultura do MST do Paraná. Ela conta que o movimento enxerga na arte e na cultura importantes ferramentas de luta e resistência, pois têm o potencial de alcançar diferentes tipos de pessoas. Esse papel ganha ainda mais relevância em um contexto de avanço do autoritarismo, que levou à prisão de Lula e à eleição de Jair Bolsonaro (PSL).

“Como a gente dialoga com a sociedade de uma outra forma? Às vezes, uma peça de teatro dialoga com as pessoas e abre caminhos para que a gente vá falar sobre as questões sociais, políticas, raciais. É dessa forma que a gente entende que vai conseguir passar essa mensagem e dizer que a gente precisa resistir, a gente não pode dar o braço a torcer, a gente não pode desanimar”, diz.

A poesia “É sempre tempo de amor” é uma das cerca de 50 que compõem o caderno “Versando a rebeldia”, fruto do Festival Nacional de Artes do MST, realizado em 2017, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Além do caderno, a partir do festival foi produzido o disco “Da luta brotam vozes da liberdade”, com cerca de 20 canções compostas e cantadas por militantes do MST. 

Segundo Daniel Rodrigues, integrante do MST no Paraná, é preciso fortalecer a cultura popular para se contrapor ao discurso hegemônico propagado pelos grandes meios de comunicação. Para ele, a arte faz parte das “necessidades dos seres humanos, que vão muito além de comer, beber e dormir”.

“A gente tem que fazer o nosso povo reavivar a cultura que existe dentro deles, que está internalizada e que jamais morre. Nunca morre uma cultura, porque ela é passada de geração em geração. Ela é apenas silenciada pela opressão, pela repressão do Estado e de todos os aparatos que a burguesia tem de dominar a classe trabalhadora”, afirma. 

Luana, Daniel e Roberto Gaiado, integrante da frente de massas do MST do Rio Grande do Sul, fizeram uma roda cultural na Vigília Lula Livre nesta segunda. Eles declamaram e cantaram poesias e músicas de militantes do MST e conversaram com as pessoas presentes na Vigília sobre a importância de usar a arte para além da diversão. 

Na visão de Roberto, antes mesmo de iniciar seu governo, Bolsonaro se mostra contrário às manifestações culturais. O presidente eleito já defendeu o fim do Ministério da Cultura (MinC), rebaixando-o à uma pasta do Ministério da Educação, sob alegação de que “tem recursos sobrando” para a Cultura. 

“Períodos de repressão sempre trouxeram períodos de grandes artistas. Esse governo [Bolsonaro] já está se mostrando um governo contra a cultura, contra a arte. Então, nossa ferramenta de arte, que nós já usamos como luta, vai ser muito mais usada, porque é uma forma de nos expressarmos e fazermos uma batalha de ideias também”, explica. 

Desde a prisão de Lula, em abril, o espaço da Vigília tem sido usado para debates, rodas de conversa e, principalmente, para manifestações artísticas e culturais, que fortalecem os laços entre a militância e mantém acesa a chama da resistência.

Edição: Daniel Giovanaz