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Manipulação

Artigo | Qual corrupção?

Não se trata de considerar desimportante a crítica à corrupção, mas perceber qual verdade interessa a mídia

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
É o que mais se ouve falar na televisão: a corrupção é o maior problema do Brasil. Mas será que esta é uma situação nova?
É o que mais se ouve falar na televisão: a corrupção é o maior problema do Brasil. Mas será que esta é uma situação nova? - Reprodução

É o que mais se ouve falar na televisão: a corrupção é o maior problema do Brasil. Mas será que esta é uma situação nova? Basta olhar para nossa história e perceber que não. Mais do que isso, o argumento costuma servir de desculpa para que as elites derrubem governos mais próximos dos interesses populares. 

Na verdade, corrupto significa corrompido. Poderia haver coisa mais corrompida do que fazer um acordo e depois enganar a outra parte? Pois é, assim começou a História do Brasil, quando portugueses faziam acordos com os habitantes originais destas terras e, em seguida, para conquistar seu território, dizimavam ou escravizavam a população indígena.  

Outro grande exemplo foi o que aconteceu com os africanos. Diga a verdade, leitor, você acha justo prender, expulsar e depois escravizar em país distante alguém só por conta de sua cor? Mais foi o que aconteceu no Brasil, que teve quase 400 anos de escravização e cerca de 5 milhões de pessoas negras vítimas da corrupção do ocidente. 

E o que dizer de um mundo onde 95% das pessoas vivem do trabalho, mas mais da metade da riqueza está concentrada nas mãos de ricos herdeiros e grandes empresários capitalistas? É ou não é corrupção o sistema econômico no qual o Brasil está inserido? 

A história do Brasil teve outros momentos em que a corrupção se revelou mais grave do que agora, como na ditadura militar ou no período das privatizações que quebraram o país nos anos 90. Mas as classes dominantes só se preocupam com corrupção quando o Estado brasileiro sinaliza que vai distribuir – mesmo que minimamente – a riqueza, como ocorreu com Getúlio Vargas.  

Não se trata de considerar desimportante a crítica à corrupção, mas perceber o quanto a mídia está falando a verdade e quais interesses ela está defendendo – os do povo ou os das elites?

*Ricardo Prestes Pazello é professor da Universidade Federal do Paraná e militante da Consulta Popular.

Edição: Frédi Vasconcelos