Paraná

Nova batida

Janine Mathias: cantar é sua missão ancestral

Lançando clipe com Rincon Sapiência, lamenta ser, muitas vezes, a única negra do espaço

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Em Curitiba, o show de lançamento do disco "Dendê" será no dia 21 de setembro no Teatro Paiol
Em Curitiba, o show de lançamento do disco "Dendê" será no dia 21 de setembro no Teatro Paiol - Renato Nascimento

Nascida em Brasília e com influência do pai cantor, ela escreve poesias desde criança. Janine Mathias mudou para Curitiba em 2008, onde seu caminho, com belezas e desafios, foi construindo sua carreira e reconhecimento como cantora. Já dividiu palco Karol Conká, Tássia Reis, Karla da Silva, Orquestra Friorenta, Criolo, Tuyo, Cida Airam, As Bahias e a Cozinha Mineira, e tem o projeto Samba da Nega onde celebra suas raízes. Agora preparando-se para soltar seu primeiro álbum solo, “Dendê”, em setembro, Janine Mathias libera o videoclipe (veja aqui) para a faixa-título do projeto. Feito de forma colaborativa e embalado pela estética funk entre versos, batidas e movimento com crítica social, o clipe também conta com a participação de Rincon Sapiência.

Brasil de Fato - Quais são suas principais influências e como desenvolveu seu estilo?

Amo a música brasileira e devo meu estilo a minha trajetória de vida: pai carioca, mãe baiana, minha ação com RAP veio da rua e o samba é minha memória ancestral.  De Lauryn Hill  à  Katinguelê,  de John Coltrane à Ivete Sangalo,  de Dominguinhos à Racionais, eu sou um mar de influências.

BdF -Como surgiu a ideia da música e do clipe Dendê e como se deu a parceria com Rincon?

Eu queria muito fazer uma música ligada ao funk e que eu pudesse falar da superação diária, o Renato Parmi (produtor musical) já gravava com Rincon Sapiência, então sugeri que mostrassem pra ele e, logo, uma surpresa bonita aconteceu: ele se tornou a única participação do disco e trouxe pra letra da música uma força ao tempero que eu já dizia que o disco teria. Para a gravação apostei em um grupo feminista que me deu toda colaboração, já que o disco foi feito com parcerias e financiamento coletivo. Conheci a Maria Spector, da Caetana Filmes, que fez a proposta e montou uma equipe linda que produziu tudo, eu fiquei responsável por procurar o figurino, assinado e patrocinado pela marca Curitibana Higness. Gravamos em São Paulo, no Sítio Borboleta Azul. O processo do disco me deu muitas alegrias e, principalmente, está me dando uma postura profissional e acessos que sem a música eu não teria.

BdF - Você canta sobre empoderamento, força, ancestralidade do povo preto, qual é a importância de usar a arte para trazer esses temas?

Eu canto a minha vida ela se torna importante quando sai da porta pra fora e o mundo ouve a minha historia. Eu sou o que eu canto, não é um tema é a minha realidade e nisso está minha responsabilidade. 

BdF -Como tem sido se desenvolver como mulher negra no cenário da música independente? Quanto artista-trabalhadora, quais são os principais desafios?

A Mulher Preta progredir ainda é uma barreira pois mexemos em estrutura social. O maior desafio é o entendimento externo de que esse é meu maior privilégio, ter pautas pela cantora que eu sou é mesmo intrigante. Não existe obviedade no que eu sou porque são tantas as barreiras unidas ao aprendizado, que é quase que imediato a tudo que está acontecendo, realmente é preciso muito amor pra fica perto; é preciso saber que ainda escolho o ‘busão’ no final do show pra poder fazer a feira da semana. Eis a ironia, á final você é uma mulher preta e não tá no cronograma como você vai e volta pra casa. Nunca esteve.  Essa coisa de independente eu questiono, ser dependente dos que me consomem não me coloca á baixo de nada, o artista precisa do seu público então precisamos repensar, porque assim as pessoas nunca te entendem como sucesso.  Entendo que é tênue, por questões mil esperam que você esteja na grande mídia e eu pisarei lá porque representatividade transforma, já tive uma cabeça de que eu não precisava aparecer e essa é uma das maiores armas pra nos destruir, a invisibilidade. É duro acordar todos os dias e entrar em espaços onde as vezes sou a única, brigar pra receber á altura do seu trabalho e trajetória. Sempre que posso eu explico pras pessoas a importância de ir ao show, de compartilhar a música, de comprar produtos direto. Meu crescimento como cantora não é só meu, tem músicos, produção e toda uma equipe em jogo que é o que garante saúde e principalmente o sucesso da cantora, eu já quis fazer tudo sozinha e hoje meu foco é estruturar minha carreira.  Agradeço imensamente esse caminho porque ele me colocou em contato com pessoas revolucionarias isso é fato e me mantém de pé.

 

Em Curitiba, o show de lançamento do disco "Dendê" será no dia 21 de setembro no Teatro Paiol.

 

Edição: Laís Melo