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Artigo | Cota não é esmola*

"Através da ação afirmativa vamos resgatar a nossa história e ser protagonista dela"

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
"Vamos ter outros sonhos, outra visão, vamos nos libertar do trabalho subjugado que sempre foi imposto a nós"
"Vamos ter outros sonhos, outra visão, vamos nos libertar do trabalho subjugado que sempre foi imposto a nós" - Giorgia Prates

As pessoas negras viveram quase 400 anos escravizadas. Nosso povo foi capturado como bicho no continente africano, acorrentado, muitos morreram nos navios negreiros. Aqui foi vendido como mercadoria, morto e explorado. As mulheres negras, além de servirem à casa grande, eram estupradas pelos "senhores" brancos.

Só em 1888 ocorreu a abolição da escravatura. Mas a abolição veio e não nos libertou. A população negra é a maioria abaixo da linha da miséria, segue morrendo na mão da polícia, sendo encarcerada em massa, sem trabalho, arte, cultura ou direitos; ao mesmo tempo em que é a minoria nas universidades. Um reflexo do passado de dor e exploração de um povo que passou muito tempo sem ter oportunidade.

Nessa falsa abolição, nada nos deram, em nada nos incluíram, tiraram nossas vidas, nossas almas e nos deixaram sem nossa história e nossa identidade. O Brasil tem uma dívida histórica com o povo preto e já passou da hora de acertar as contas.

Eu, Dani Black, sou estudante de ciências sociais na Universidade Estadual de Londrina. Entrei em 2015 pelo sistema de cotas. A implantação das cotas não foi uma iniciativa da UEL, mas sim do movimento negro, a partir da luta encabeçada pela Dona Vilma Yá Mukumby que questionava porque não tinha negros em uma universidade pública e defendia que pretas e pretos deveriam ocupar aquele espaço e produzir conhecimento.

Após grande movimentação, as cotas foram aprovadas em 2004 e entraram em vigor em 2005, sendo 40% das vagas destinadas a alunos cotistas. Em 2016, o processo foi reavaliado e a grande vitória foi a manutenção pelos próximos 20 anos.

As cotas vêm no intuito de diminuir a desigualdade. Através da ação afirmativa vamos ter outros sonhos, outra visão, vamos nos libertar do trabalho subjugado que sempre foi imposto a nós. Vamos resgatar nossa história e ser protagonistas dela. 

*trecho da música de Bia Ferreira

Daniele Barbosa é estudante membra do conselho universitário da UEL em 2016 

Edição: Laís Melo