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Cohab faz pagamento parcial de salários e trabalhadores mantêm greve em Curitiba

Os funcionários estão há 13 dias com salários atrasados e completam o segundo dia de paralisação

Curitiba (PR) |
Servidores da Cohab decidem permanecer em greve até que todos os salários do mês de maio sejam quitados
Servidores da Cohab decidem permanecer em greve até que todos os salários do mês de maio sejam quitados - Ednubia Ghisi

Após pagamento de parte dos funcionários, os servidores da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab) decidem permanecer em greve até que todos os salários do mês de maio sejam quitados. A decisão ocorreu por unanimidade, em assembleia encerrada por volta das 16h30 desta terça-feira (12), com presença de, aproximadamente, 100 pessoas. Os trabalhadores estão há 13 dias com salários atrasados, e completam o segundo dia de paralisação. 

Durante a assembleia, as diversas categorias reiteraram a necessidade da apresentação de solução permanente para as finanças da Cohab, para além da quitação dos salários de maio. A leitura do conjunto dos funcionários é de que a falta de recursos para um setor tão estratégico, como é o da habitação popular, reflete o desmonte das políticas públicas que ocorrem também em outras áreas. 

No final da manhã, uma comissão de cinco representantes dos trabalhadores se reuniu com o presidente da Companhia, José Lupion Neto, que garantiu o pagamento, ainda nesta terça-feira, de 126 trabalhadores que recebem menores salários. Apesar de alguns trabalhadores terem identificado o recebimento do salário, até o fechamento desta matéria a Companhia não confirmou quantos pagamentos foram realizados. 

Com relação aos demais funcionários, a promessa é de que sejam pagos de maneira gradativa: 77 deveriam receber entre esta terça e quarta-feira; em seguida viriam os 30 funcionários cedidos a outros órgãos da Prefeitura; por fim, seriam feitos os pagamentos dos ocupantes de cargos comissionados e da diretoria da Cohab. No total, de acordo com informações da empresa, a Companhia tem 233 empregados.

Para os 126 funcionários que deveriam receber ontem (12), o presidente da Companhia garantiu o pagamento retroativo de reajuste de 3,6% para os meses de junho, julho e agosto de 2017, conquistado em Acordo Coletivo. Este reajuste não será aplicado para gratificações e complementos.

Leandro Grassmann, vice-presidente do Senge e que esteve na reunião, relata que, apesar do compromisso firmado, o presidente José Lupion Neto afirmou ainda não ter caixa para efetuar os pagamentos e reconheceu a dificuldade financeira da Companhia. “Ele [Lupion] garante não haver previsão de entrada de recursos para pagar os funcionários neste mês, nem para os próximos. É uma situação de colapso, extremamente preocupante. A Cohab é uma empresa com papel indispensável e de interesse social, mas que está sendo desmontada”, lamenta Grassmann.

Em reunião realizada com 12 vereadores, também na manhã desta terça-feira, a presidente do Sindicato dos Assistentes Sociais do Paraná (Sindasp), Kristiane Plaisant Marcon, servidora da Cohab, defendeu independência na administração da empresa e cobrou responsabilidade dos gestores públicos. “Essa gestão [municipal] pode ficar marcada pelo fechamento ou venda da Cohab e o compromisso desse prefeito [Rafael Greca] era levantar [a empresa]”, disse. “Também somos prefeitura”, complementou.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Urbanização do Estado do Paraná (Sindiurbano-PR), Valdir Mestriner, evidenciou aos vereadores as dificuldades na relação com a diretoria da Cohab. “O sindicato sempre busca o diálogo, mas a diretoria da Cohab e o prefeito não estão dispostos a respeitar os sindicatos e os trabalhadores pagando os salários. Nós estamos sempre dispostos a buscar soluções para manter os direitos dos trabalhadores e também da população”, disse.

Ficou confirmada também uma reunião com os sindicatos e a diretoria da Cohab para esta quarta-feira (13), às 15h, a respeito do atraso salarial e das reivindicações para o Acordo Coletivo de Trabalho referente a 2018/2019, que está em processo de negociação.

Pedido de informação e reunião com vereadores

Os oito vereadores da bancada de oposição na Câmara de Vereadores (cinco do PDT, dois do PMDB e uma do PT), formalizaram um pedido de informação à Prefeitura a respeito da situação da Cohab. Entre as questões a serem respondidas está a razão dos atrasos salariais, os números da dívida da Companhia, e os números do quadro funcional (estatutários, celetistas, comissionados). A Prefeitura terá que responder ainda quais medidas têm tomado para regularizar a situação da Companhia. Conforme aponta a Lei da Transparência, a Prefeitura é obrigada a responder o pedido dos vereadores em um prazo de 15 dias, que pode ser prorrogado por mais 15.

De acordo com a vereadora Professora Josete (PT), a solução para a situação da COHAB deverá passar por duas questões: a definição de medidas para impedir novos atrasos salariais e a construção de um projeto de recuperação da empresa a longo prazo. Para tanto, Josete sugeriu que seja criado um grupo de trabalho na Câmara com o objetivo de reunir informações e definir soluções para o futuro da Cohab e para a política de habitação de Curitiba.

Os sindicatos que representam as categorias protocolaram um ofício em que detalham a situação por qual passa a Companhia, com relação aos atrasos salariais. Assinam o documento o Sindicato dos Engenheiros (Senge-PR), Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas (Sindarq-PR), Sindicato dos Trabalhadores em Urbanização (Sindiurbano) e Sindicato dos Assistentes Sociais (Sindasp).

Apoio da população

Do lado de fora da Câmara, funcionários da Cohab e moradores do Parolin se somaram à pressão pela regularização da situação da Cohab.

A Companhia é responsável pela construção de cerca de 700 empreendimentos habitacionais populares, em 40 dos 75 bairros de Curitiba. No total, ao longo de 53 anos de criação do órgão, 139 mil habitações foram construídas.

“Moro com muita dificuldade, pagando aluguel, sofri também um  infarto em 2013. Tá muito difícil, porque estou ganhando pouco e uso para comprar remédio”, contou Domingas Lopes da Rosa, 58 anos, moradora do Parolin. “Mesmo assim vim aqui apoiar a Cohab para ganhar a nossa casa. Peço a Deus muita força e para pagarem o salário atrasado que o pessoal está esperando”. Atualmente, há 51 mil pessoas inscritas na fila da Cohab, pelo acesso à casa própria.

De acordo com os moradores, foram três enchentes somente no ano passado na região do Parolin, sendo que algumas famílias estão em abrigos por não terem condições de voltar para suas casas. 

Atrasos constantes

Desde junho de 2017, o pagamento ocorreu em dia apenas em dois meses. A média de atraso tem sido de 10 dias. No caso dos vencimentos referentes a maio, não foram pagos até agora.

A decisão da greve foi tomada em assembleia geral dos funcionários, na última sexta-feira (8). Os trabalhadores pretendem seguir paralisação até que todos os salários sejam pagos.

Edição: Laís Melo