Paraná

Violência

Em menos de um ano, cinco pessoas foram mortas por Guardas Municipais de Londrina

Após assassinato de jovem negro, coletivos reivindicam desarmamento da guarda

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Para evitar o registro de novos casos de assassinato, abaixo-assinado pede desarmamento da Guarda
Para evitar o registro de novos casos de assassinato, abaixo-assinado pede desarmamento da Guarda - Reprodução

O assassinato do jovem negro Matheus Ferreira Evangelista, de 18 anos, morto por ação da guarda municipal de Londrina no dia 11 de março, integra um dado alarmante: em onze meses, cinco pessoas foram mortas por agentes da Guarda da cidade.

Segundo testemunhas, Matheus foi assassinado com um tiro, após o jovem  se recusar a erguer os braços, durante uma abordagem em uma festa que acontecia na Zona Norte da cidade. O laudo do Instituto de Criminalística divulgado na nesta terça-feira (27), aponta que o tiro não saiu da arma apresentada pelo Guarda Municipal. O advogado da família da vítima, no entanto, declarou que o resultado do laudo não é surpresa, uma vez que a cena do crime foi adulterada. A família segue acreditando na responsabilidade do agente.

Esse foi o terceiro caso envolvendo mortes relacionadas à ação da Guarda Municipal de Londrina em menos de um ano. Em abril de 2017, um agente assassinou três pessoas próximas à ex-namoradas, e, em novembro, outro guarda matou um homem de 40 anos, após confusão em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). 

Para o promotor de Justiça da Promotoria de Direitos Humanos de Londrina, Paulo Tavares, esses casos apontam para a falta de preparo da Guarda Municipal, que passou a ter autorização para o uso de armas de fogo no fim de 2015. O promotor revela que há relatos da utilização de abordagens mais violentas pelos agentes, envolvendo, inclusive, situações de racismo.  "Infelizmente a concepção cultural das nossas polícias é uma concepção mais militarizada. E o racismo institucional também é uma realidade que precisa ser combatida", avalia. 

Para garantir o melhor preparo dos agentes, um coletivo de entidades criou no início de março, dentro do Ministério Público do Paraná, um grupo de trabalho que irá propor uma nova estrutura de formação dos Guardas Municipais da cidade. Conteúdos voltados aos Direitos Humanos, à igualdade étnico-racial e ao combate ao racismo devem ser incorporados na nova grade.

Segundo dados da CPI do Senado sobre o Assassinato de Jovens, divulgados, em 2016, um jovem negro é morto a cada 23 minutos, no Brasil. Em 2017, o Paraná registrou 275 mortes em confrontos com policiais.

Desarmamento 
Para evitar o registro de novos casos de assassinato, integrantes do Coletivo de Combate ao Genocídio de Jovens de Periferias de Londrina pedem o desarmamento da Guarda. O grupo realiza um abaixo-assinado online, onde critica as ações violentas da corporação e o despreparo dos agentes. O guarda suspeito de assassinar Matheus chegou a ser reprovado no teste psicológico promovido pela instituição, mas foi aprovado após apresentar um laudo de um teste particular. "Isso prova que o armamento da Guarda Municipal de Londrina além de errôneo foi malsucedido, e evidencia o despreparo dos mesmos e dos profissionais que estão à sua frente", denuncia o coletivo no abaixo-assinado.

Essa é a segunda petição promovida pelo grupo que está disponível na internet. A primeira foi retirada do ar após ameaças feitas por um guarda municipal nas redes sociais. O caso foi denunciado para a Ouvidoria-geral da Prefeitura de Londrina. 

A família do jovem Matheus Evangelista também está sendo vítima de ameaças, de acordo com denúncias realizadas pelo jornalista José Maschio, em seu perfil nas redes sociais. Maschio acompanha o caso através do Sindicato dos Jornalistas do Paraná, que também faz parte do Grupo de Trabalho criado para debater a formação da Guarda.

Relembre os casos
Em abril de 2017, um guarda municipal de Londrina assassinou três pessoas em dois locais diferentes. Após voltar de um afastamento por atestado médico, o guarda saiu do trabalho armado e matou a tiros a sócia de uma ex-namorada no escritório delas, e foi até a casa de outra ex-companheira onde assassinou o pai e o filho de 16 anos da mulher. 

Em novembro do mesmo ano, um guarda matou um homem de 40 anos, após confusão em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Uma nota emitida pela prefeitura de Londrina conta que José Vilmo da Silva estava agitado exigindo atendimento imediato, e após embate com a Guarda Municipal, levou dois tiros enquanto fugia do local.

Os agentes foram afastados dos cargos, e os casos estão sendo investigados. O Guarda acusado de matar Matheus também está preso desde o dia 15 de março, para não atrapalhar as investigações.

Edição: Ednubia Ghisi