Minas Gerais

Incoerência

Artigo | Sobre o discurso hipócrita da corrupção

"Classe média que vive reclamando do Estado e é composta majoritariamente por profissionais liberais também é corrupta"

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
"Um sistema de Justiça seletivo e não isonômico é azeite à máquina da corrupção"
"Um sistema de Justiça seletivo e não isonômico é azeite à máquina da corrupção" - Mídia Ninja

Vejo nas rodas de conversa, na mídia empresarial e nas redes sociais um retumbante discurso sobre a corrupção no Brasil. Há muita hipocrisia e cinismo nesse falatório. Será que a corrupção está somente na política institucional?
Vejamos: o cidadão que sonega imposto, fura fila e não respeita o direito alheio é corrupto. O empresário da indústria e do comércio que vive criticando a carga tributária e é responsável por uma sonegação fiscal anual na casa de 100 bilhões de reais é corrupto. 
A classe média que vive reclamando do Estado e é composta majoritariamente por profissionais liberais também é corrupta. Certamente, você conhece advogados, médicos, odontólogos, veterinários, professores e outros profissionais que prestam serviços e não emitem notas fiscais. São corruptos.
Há uma corrupção violenta fruto de um sistema econômico perverso: bancos que cobram taxas de juros como no Brasil estão no topo da corrupção. Empresários que exploram o trabalhador são corruptos.
Quando o sistema econômico se sobrepõe aos poderes públicos é sinal de corrupção institucional e generalizada. Esse é o caso do Brasil, onde uma horda de corruptos, a serviço do capital, tomou de assalto o poder.
Um sistema de Justiça seletivo e não isonômico é azeite à máquina da corrupção.
Para se combater a corrupção os discursos de nada valem. Mecanismos institucionais de controle público e privado, uma cultura cidadã e democrática, justiça isonômica e igualdade de direitos são os melhores remédios.
A Dinamarca, por exemplo, é um dos países menos corruptos do mundo. Com pouca desigualdade e bons salários para todos, o pedreiro, o parlamentar e o empresário vivem “num mesmo mundo”: usam transporte público e são tratados com os mesmos direitos e deveres por uma Justiça cujos juízes e promotores têm o mesmo padrão de vida dos demais cidadãos.

*Robson Sávio Reis Souza é militante social e professor
 

Edição: Joana Tavares