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Sudoeste paranaense teme impactos do método fracking, usado na exploração de xisto

Método é criticado por trazer danos ambientais e sociais e foi proibido em lei estadual

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |

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Comboio de caminhões vibradores percorreram estradas vicinais no Oeste do Paraná
Comboio de caminhões vibradores percorreram estradas vicinais no Oeste do Paraná - COESUS/350Brasil

O som dos caminhões pesados, indo e vindo pela cidade, dia e noite. Foi através desse movimento incomum que os moradores da região Sudoeste do Paraná souberam que estavam sendo realizados estudos no subsolo em busca de gás de xisto, um gás natural encontrado em uma camada profunda da terra. As pesquisas foram realizadas no final do ano passado pela empresa Global Geophysical Services (Global Serviços Geofísicos), que justificou estar levantando dados geológicos e geofísicos do subsolo dos municípios da região.

O medo da população é a extração pelo fracking, método de fraturamento de rochas para exploração do gás. O problema são os impactos ambientais e sociais desse processo: há contaminação dos lençóis de água e do solo. Há relatos de danos em plantações e rebanhos de áreas próximas às zonas de exploração do gás na Argentina e nos Estados Unidos.

Ilustração sobre a aplicação do método fracking (Reprodução/Não ao Fracking Brasil) 

De acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), o Brasil ocupa o 10º lugar na lista de estimativas de reservas mundiais. Já a maior concentração de gás de xisto no país está na Bacia Sedimentar do Paraná, que abrange os três estados da região sul, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Goiás.

“A empresa veio dizendo para os agricultores que eles poderiam ter uma mina de dinheiro na propriedade, já que teriam direito aos royalties se houvesse exploração do gás. Vinham com todo o discurso que a exploração traria desenvolvimento e nós não conhecíamos esse método, fomos descobrindo aos poucos o que ele significava”, lembra Lisa Loss engenheira agrônoma da equipe técnica da Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural (Assesoar) que também integra o movimento contra o fracking na região. Ela ressalta que poços de exploração tem durabilidade de cerca de três meses, período em que os royalties são pagos. “Depois restam só os danos para a comunidade”, opina.

Impactos de explorações próximas   

Em leilão realizado no final de setembro pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), foram 287 blocos ofertados, dos quais 177 tinham algum tipo de entrave ecológico, de acordo com informações do jornal O Globo. Apenas 37 blocos foram arrematados, incluindo áreas no Mato Grosso do Sul (MS) que integra a Bacia do Paraná. Lisa comenta que mesmo que não haja exploração no Paraná, se o método fracking for usado no MS haverá impactos. “Há estudos que registram chuva ácida no raio de 80 quilômetros do local onde é usado o método fracking”, informa.

Ela comenta que na Argentina também há áreas nas quais estão sendo realizados estudos para extração do gás de xisto que estão próximas ao sudoeste paranaense e também trariam consequências negativas para a região. “Nosso medo não é só com a liberação dos nossos lotes, é porque estamos sendo cercados”, diz a engenheira.

“Com o método fracking é muito possível contaminar as águas do subsolo, porque há vários relatos de vazamentos de produtos tóxicos durante a extração”

Entre os maiores impactos listados por Lisa, caso o método seja empregado no MS, está a contaminação das águas do Rio Paraná e do Aquífero Guarani, a maior reserva de água doce do mundo. “Com o método fracking é muito possível contaminar as águas do subsolo, porque há vários relatos de vazamentos de produtos tóxicos durante a extração”, diz.

Lei estadual

Em dezembro de 2016, o Paraná se tornou o primeiro estado brasileiro a proibir o fracking. A lei estadual nº 18.947/2016 suspende por dez anos as licenças ambientais para qualquer atividade de perfuração ou exploração com tal método.

Rasca Rodrigues (PV) foi um dos deputados responsáveis por apresentar o projeto de lei, aprovada por unanimidade pela Assembleia Legislativa. Ele explica que isso foi devido à combinação do aspecto econômico (porque prejudicaria áreas importantes para a produtividade agropecuária do estado), social e ambiental. “Atualmente o Paraná tem uma posição muito forte em relação a esse método”, considera o deputado.

Já os movimentos sociais da região tem receio da lei estadual ser derrubada por uma lei federal. “O nosso medo é que, com essa conjuntura na qual se acentuou os leilões, haja uma nova lei que derrube a lei estadual e as municipais”, informa Lisa. Os movimentos reivindicam a proibição da exploração por fracking com uma lei federal, ao mesmo tempo, atuam junto às câmaras municipais para pressionar para a criação de leis municipais que dificultem a exploração por esse método. De acordo com o movimento, dos 42 municípios da região, 24 já aprovaram leis contra o fracking e outros seis estão em tramitação.

Edição: Ednubia Ghisi