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Oriente Médio

Artigo | 50 anos da invasão de Israel à Palestina

Em 5 de junho, completaram-se 50 anos desde que Israel, após a Guerra dos Seis Dias, invadiu os territórios palestinos

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Jéssica Barbosa é feminista, advogada, assistente da equipe de direito das mulheres da Actionaid Brasil
Jéssica Barbosa é feminista, advogada, assistente da equipe de direito das mulheres da Actionaid Brasil - Celia Peterson/ActionAid

A resistência é local, mas a solidariedade é internacional. O mês de junho tem um significado importante para os palestinos. No dia 5 de junho completaram-se 50 anos desde que Israel, após a Guerra dos Seis Dias, em 1967, invadiu os territórios palestinos e iniciou a política de expansão dos seus assentamentos ilegais. Junto com essa expansão em territórios palestinos para além das fronteiras determinadas em 1948, há também uma crescente militarização da vida nesses territórios, que inclui a criminalização de crianças a partir dos seus 12 anos.
Para se ter uma ideia, nessa época a cidade de Jerusalém, que em 1948 foi declarada território sob administração internacional, foi paulatinamente sendo controlada pelos israelenses até que, em 1980, uma lei israelense a declarou como sendo a capital do Estado de Israel, a despeito da resolução do Conselho de Segurança da ONU que informa que a “Lei de Jerusalém” era nula e não deveria ser reconhecida. Infelizmente, até hoje a cidade continua dividida em lados oriental e ocidental e é controlada pelo Estado de Israel, que condiciona a concessão do status de residente a palestinos e palestinas do lado oriental da cidade à sua permanência no mesmo lugar de moradia e trabalho. Caso se mudem, perdem sua permissão de residência.
Nesse sentido, é impossível falar da vida nesse território sem falar das diversas privações que essa situação causa às pessoas de nacionalidade palestina. A situação da gritante diferença com que são tratados cidadãos e cidadãs de Israel e da Palestina no território é hoje entendida como um Apartheid, dada tamanha semelhança com o sistema de segregação imposto na África do Sul que diferenciava pessoas brancas e negras em seu direito à cidade e serviços públicos como moradia, transporte, saúde e, principalmente, acesso aos bens comuns como água. Para uma pessoa palestina, hoje, uma simples ida ao trabalho necessita diversas permissões israelenses para deslocamento, longas horas de espera em diversos postos de revista (os famosos check-points), isso tudo sem levar em consideração o alto nível de repressão que rege todas essas relações.
Essa situação ainda é agravada com o tensionamento gerado a partir da expulsão de centenas de milhares de palestinos e palestinas de suas casas por conta da violência do conflito desde 1948. Hoje são mais de 5 milhões de refugiados que são atendidos pela UNRWA, um organismo de assistência especializado da ONU direcionado exclusivamente para tratar do caso dos refugiados palestinos. São cerca de 60 campos de refugiados espalhados pela região do Oriente Médio. São vidas, famílias repartidas, histórias que se interromperam e que até hoje aguardam uma situação definitiva sobre seus retornos para suas casas.
Quando falamos do território da Faixa de Gaza a situação é ainda pior. O lugar é considerado uma prisão ao ar livre. Com a atual política israelense de bloqueio da Faixa de Gaza, a taxa de pobreza aumentou para 65%. Hoje, 80% de sua população depende de ajuda humanitária internacional para necessidades básicas diárias, como alimentação. Além disso, as crises elétricas são crônicas na região e, nos melhores dias, só se tem luz por 4 horas seguidas. Isso afeta a vida de cerca de 2 milhões de pessoas, pois não há eletricidade para o funcionamento de hospitais, escolas e sequer para o abastecimento de água.
Recentemente, inclusive, após desentendimentos sobre as taxas pagas pela autoridade palestina relativas ao fornecimento de energia (que chegam a mais de 10 milhões de euros por mês por energia elétrica para uma faixa de terra de 365km²), o governo de Israel anunciou a redução do fornecimento de energia. Essa decisão liga o alerta de emergência para o fornecimento de já sofridos serviços vitais para a população, principalmente o serviço de saúde. Estima-se que a redução será para apenas duas horas de energia elétrica por dia.
O tamanho, o tempo e as consequências desse conflito não podem deixar esquecer o quão importante é para as grandes potências ocidentais terem, dentro de um espaço tão valioso em recursos naturais como o Oriente Médio, um Estado com uma política tão aliadas a eles, como é o caso de Israel. Além disso, as táticas israelenses de policiamento, investigação, desrespeito aos direitos individuais e coletivos em nome da segurança têm servido como modelo para repressões a manifestações populares em todo mundo. O Brasil, por exemplo, tem diversos acordos de compra de armamentos e treinamentos militares com empresas israelenses, e, segundo o BDS (campanha civil internacional Boicote, Desinvestimento e Sanções a Israel), o país era o quinto maior importador de armamentos israelenses em 2011.
Dentro desse contexto, não há como negar que repressões, como as sucessivas investidas de expansão do território israelense, a política de Apartheid contra o povo palestino, embora tão distantes geograficamente, trazem consequências que refletem diretamente no nosso cotidiano.
Por fim, é importante ressaltar que, como todo lugar do mundo, o território ocupado palestino tem seus problemas internos. Divergências políticas e desigualdade social, de gênero, entre outras. Em poucos lugares do mundo, porém, talvez exista uma resiliência tão grande. Por esses e tantos motivos é preciso falar sobre essa ocupação. É preciso devolver a dignidade a essa população e sua liberdade para decidir seus próprios rumos.

Edição: Vinícius Sobreira