Paraná

Demissões

Diretores suspeitos, funcionários punidos: quem paga o preço da Carne Fraca

Empresa investigada demitiu mais de 300 em Curitiba sem pagar direitos

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Ministério da Agricultura passou a fiscalizar a venda de produtos à base de carne em supermercados
Ministério da Agricultura passou a fiscalizar a venda de produtos à base de carne em supermercados - José Cruz/AgênciaBrasil

Esta semana, empresas investigadas pela operação Carne Fraca começaram a demitir funcionários em vários estados brasileiros. Um dos principais alvos da operação, a Peccin Agro Industrial teve os diretores presos e duas unidades interditadas. Com sedes em Santa Catarina e no Paraná, a empresa empregava 177 pessoas em Jaraguá do Sul e mais de 300 em Curitiba. No último dia 27, outros dois frigoríficos paranaenses foram fechados: uma unidade da empresa Souza Ramos, em Colombo, e outra da Transmeat, em Balsa Nova – ambas na região metropolitana de Curitiba.

A reportagem do Brasil de Fato conversou com ex-funcionários da Peccin logo após o anúncio da rescisão. Eles criticaram o não pagamento das verbas rescisórias e a falta de transparência nas negociações.

Receio

A maioria dos trabalhadores preferiu não ser identificada no texto, com receio de represálias. Apesar da insatisfação, eles desejam manter certa cordialidade na relação com os patrões, porque as negociações devem continuar nos próximos meses.

Andressa Moscatelli, que integrava o setor de controle de qualidade, afirma que os funcionários demitidos foram chamados a assinar o aviso prévio no dia 30. “Depois, vai ser marcado um dia para assinarmos a rescisão”, explica. “Vai ser incluída uma cláusula de que estamos assinando sem receber. O pagamento de março, as férias, o dissídio [reajuste] que desde novembro não veio, enfim, todo aquele acerto que é realizado pela empresa não tem previsão para recebermos”.

R. T., que trabalhava no setor de embalagem, acrescenta que o vale-alimentação também estava atrasado: “Estamos combinando pra ir no Ministério do Trabalho e ver o que é possível fazer. Porque não nos deram nenhuma explicação. Falaram que iam liberar logo o FGTS e o seguro-desemprego, mas até agora não tem previsão”.

Sindicato

A versão das ex-funcionárias coincide com o que foi informado pelo Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Carne e Derivados em Curitiba e Região Metropolitana (Stimalcs): não há prazo para o pagamento das verbas rescisórias. Quanto ao FGTS e ao seguro-desemprego, a empresa tentará negociar a partir do pressuposto da “rescisão indireta”. Assim, a Justiça pode interpretar que os trabalhadores não foram dispensados, mas sim, que se tornou “impossível a continuidade da prestação de serviços”. Nesse caso, um dos argumentos pode ser o bloqueio de bens da empresa.

“E o nosso aumento [salarial], que também estava atrasado? Eles queriam dar só 4%, e o sindicato não aceitou. Isso também vai ficar para trás?”, critica outro funcionário demitido.

Denúncias

A Peccin Agroindustrial é suspeita de “maquiar” carne estragada misturando um ácido à massa dos produtos, para evitar a contaminação de bactérias e diminuir o cheiro desagradável. Segundo a PF, a Peccin também é investigada por usar carne de frango em produtos à base de carne bovina, para reduzir custos.

Em nota, a empresa disse que “lamenta a divulgação precipitada de inverdades sobre o seu sistema de produção, sendo que as informações repassadas ao grande público foram no afã de justificar os motivos da operação Carne Fraca, modificando os fatos e comprometendo a verdade”. A reportagem tentou ouvir a versão dos diretores da empresa sobre a negociação das verbas rescisórias, mas não conseguiu contato até o fechamento desta edição.

Entenda a operação

Deflagrada no último dia 17 pela Polícia Federal, a operação Carne Fraca investiga empresas brasileiras acusadas de adulterar e vender carne estragada, imprópria para consumo. Fiscais do Ministério da Agricultura também integram a lista de suspeitos de participação no esquema, mediante o pagamento de propina.

Em um único dia, foram 27 mandados de prisão preventiva, 11 de prisão temporária, 77 de condução coercitiva e 194 de busca e apreensão. Até o momento, seis frigoríficos foram fechados. A Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) determinou no dia 24 que todos os produtos dos frigoríficos Souza Ramos, Transmeat e Peccin fossem recolhidos do comércio.

Edição: Ednubia Ghisi