Paraná

Opinião

Artigo | Um golpe não é, um golpe vai sendo

A derrubada de Dilma Rousseff era apenas o primeiro passo de um projeto que deseja implantar o que foi negado nas urnas

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
O efeito colateral do golpe é que as instituições brasileiras e os direitos sociais estão derretendo
O efeito colateral do golpe é que as instituições brasileiras e os direitos sociais estão derretendo - Vitor Teixeira

A frase que dá título a este texto é do jornalista Renato Rovai. Ela resume muito bem o atual cenário brasileiro. O golpe que retirou a presidenta Dilma Rousseff da chefia do poder executivo não terminou com sua queda. Na verdade, a sua derrubada era apenas o primeiro passo de um projeto que pretendia implantar o que foi negado pelas urnas.

A liberação da terceirização irrestrita, aprovada pela Câmara dos Deputados no último dia 22 de março e que agora deve ser sancionada pelo presidente Michel Temer (PMDB), é apenas mais um passo. Neste caso os direitos trabalhistas irão para o ralo. Esta pretensão não pode ser dissociada do fim da aposentadoria, chamada de Reforma da Previdência. São passos alinhados da mesma caminhada apressada.

Esse açodamento é típico de golpes. Como imaginar hienas saboreando, de forma calma e tranquila, a carne que acabaram de roubar dos leões? Quando pode-se perder tudo a qualquer momento, a pressa é aliada dos objetivos finais.

A carne, no caso, é a divisão do bolo financeiro. São os direitos sociais que fazem do Estado um instrumento de equilibro, colocando freios na camada abastada da sociedade e dando impulso para quem vem de baixo. O chamado estado de bem-estar social.

Mas não se trata apenas de ataques aos direitos sociais. Era preciso um grande acordo, com Supremo, com tudo, para estancar a sangria, não é mesmo? Que o diga Romero Jucá e sua foto de coraçãozinho com a camisa da CBF em um protesto contra a corrupção.

O efeito colateral do golpe é que as instituições brasileiras e os direitos sociais estão derretendo. Afinal, como manter os pactos sociais em vigência quando 54 milhões de votos foram desrespeitados? Ou é possível considerar normal o Procurador-Geral da República falar que um ministro da Suprema Corte sofre de “disenteria verbal”? Tampouco o responsável pela diplomacia brasileira batendo boca com seguranças no STF e querendo da “carteiraço”. Observem que falo do responsável pela diplomacia brasileira mundo afora.

*Gibran Mendes é jornalista, assessor de comunicação da CUT, do Instituto Declatra e colaborador do Brasil de Fato.

Edição: Ednubia Ghisi