Paraná

Nas ruas

Unidade e diversidade marcam protestos contra a reforma da Previdência no Paraná

A estimativa é de que 100 mil pessoas tenham ido às ruas em todo o Paraná neste dia 15 de março

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Confira um balanço sobre ações ocorridas em oito municípios, de todas as regiões do Paraná
Confira um balanço sobre ações ocorridas em oito municípios, de todas as regiões do Paraná - Leandro Taques

Pela segunda semana consecutiva, o governo Temer (PMDB) é alvo de uma onda nacional de protestos contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC 287) da reforma da Previdência, agora com adesão ainda maior da população. No Paraná, a estimativa dos organizadores aponta para cem mil pessoas: 40 mil na capital e outras milhares espalhadas mais de dez municípios. Em todo o país, cerca de um milhão de pessoas foram às ruas: 740 mil somente em 25 capitais, de acordo com a Frente Brasil Popular.

A ampla paralisação de categorias do serviço público e privado foi decisiva para o volume das manifestações no estado. Professores e funcionários da rede pública de ensino, por exemplo, cruzaram os braços em todo o estado. 

A unidade e a diversidade marcaram os protestos no estado, em protestos ocorridos em todas as regiões. A palavra de ordem "Fora, Temer" foi uma das unanimidades das ruas paranaenses. Confira um balanço feito pelo Brasil de Fato**: 

Curitiba

A paralisação integral de motoristas e cobradores de ônibus, desde as primeiras horas da manhã, deu sinal da força que as manifestações tomariam ao longo do dia. Os funcionários da limpeza pública da capital também aprovaram em assembleia a adesão ao protesto. Durante todo o dia, nenhum caminhão recolheu o lixo, ninguém varreu as ruas. Quem vestiu o uniforme laranja, fez para protestar.

Trabalhadores da Volvo, paralisaram a fábrica desde às 5h. Às 8h30, houve uma assembleia em frente à unidade, localizada da Cidade Industrial de Curitiba (CIC), com cerca de 2.500 funcionários. “Todos sabemos que essa reforma não trará nenhum benefício para os trabalhadores da forma como está sendo instaurada hoje”, garantiu Rogério dos Santos “Chacal”, metalúrgico da Volvo.

Além deles, diversas outras categorias paralisaram parcial ou totalmente durante o expediente desta quarta-feira e engrossaram a marcha de quase 40 mil pessoas: bancários, professores municipais, servidores e professores universitários, petroleiros, petroquímicos, metalúrgicos, policiais civis, motoristas e cobradores do transporte coletivo. A caminhada teve concentração na Praça Santos Andrade, às 9h, e seguiu para o Centro Cívico, em frente ao Palácio do Governo, destino alcançado perto das 12h.

Movimentos sociais e estudantes também integraram as marchas. Integrantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) das regiões Sudoeste e Centro-Sul do Paraná participaram das mobilizações de hoje na praça Santos Andrade, em Curitiba. Nívea Diógenes, representante da coordenação estadual do MAB, afirma que a reforma da Previdência pode representar o fim da aposentadoria: "Viemos aqui nos somar a toda a classe trabalhadora para dizer não". Durante a mobilização, o MAB também aproveitou para reivindicar a criação de uma política estadual que contemple os trabalhadores que tiveram os seus direitos violados durante a construção de usinas hidrelétricas.


(Foto: Leandro Taques, de Curitiba)


A greve dos professores estaduais deve continuar por tempo indeterminado, uma vez que não houve avanço nas negociações com o governo Beto Richa (PSDB) com relação à distribuição de aulas e outras pautas da categoria. Também sem conseguir resposta do prefeito Rafael Greca (PMN), professores da rede municipal de educação continuam em greve pela instituição do novo Plano de Carreira do magistério. Pelo menos 80% dos motoristas e cobradores permanecem paralisados, pelo reajuste salarial.

Já os servidores públicos municipais confirmaram nova paralisação no dia 31 de março, início da data-base. A parada deve durar 50 minutos nos locais de trabalho, como forma de pressionar para o reajuste não fique abaixo da inflação.

Araucária

A ação na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar) e na Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen) ocorreu de maneira unificada, desde o começo da manhã. Trabalhadores petroleiros, petroquímicos, da montagem e da manutenção industrial paralisam as unidades por três horas, o que causou um grande congestionamento de caminhões na Rodovia do Xisto. A ação partiu os sindicatos das categorias, Sindipetro-PR/SC e Sindiquímica/PR.

Londrina

Cerca de 5 mil pessoas marcharam pelo Centro de Londrina, norte do Paraná. A composição do ato comprovou a ampla unidade entre categorias, movimentos sociais e centrais sindicais. Entre as entidades presentes estavam o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o Levante Popular da Juventude, a Força Sindical, a Central Única dos Trabalhadores, A Nova Central, Coletivo Mobiliza Londrina, Coletivo de Ação Direta, Núcleo da Auditoria Cidadã da Dúvida, além de dezenas de sindicatos e partidos.

Cascavel

No Centro de Cascavel, região Oeste do Paraná, cerca de duas mil pessoas marcharam contra a reforma da Previdência. A manifestação reuniu trabalhadores da iniciativa privada, professores da rede municipal e estadual, servidores municipais e da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), comerciários, frentistas, motoristas de ônibus, operários da construção civil, trabalhadores rurais, coletivos e estudantes. A marcha partiu da Catedral Nossa Senhora Aparecida, no Centro da cidade, e seguiu até em frente ao INSS, na Rua São Paulo.


(Foto: Julio Carignano, de Cascavel) 


Gracy Kelly Bourscheid, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos do Ensino Superior do Oeste do Paraná (Sinteoeste), aponta que, caso a PEC 287 seja aprovada, a aposentadoria ficará cada vez mais distante, obrigando os brasileiros a trabalharem praticamente até o fim da vida para conquistar o benefício. “É uma proposta nefasta para todos, tanto para o serviço público quanto da iniciativa privada, especialmente para os trabalhadores rurais e as mulheres”, afirma a dirigente, especificando o item da proposta que pretende igualar a idade mínima de 65 anos entre homens e mulheres.

Os dirigentes sindicais fizeram uma avaliação positiva do ato deste 15 de Março e destacaram a importância de expor a mentira que está por trás do suposto “déficit” da Previdência e os objetivos claros da PEC 287: aumentar a exploração dos trabalhadores e, ao mesmo tempo, garantir a continuidade de pagamento de uma dívida jamais auditada e que favorece apenas banqueiros, grandes empresários e investidores.

Campo Largo

Cerca de 1.500 trabalhadores de Campo Largo, região Metropolitana de Curitiba, lotaram a Praça Getúlio Vargas e percorreram o centro da cidade. Participam da paralisação o Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas Montadoras de Veículos, Chassis e Motores de Campo Largo (Sindimovec), Sindicato dos Trabalhadores no Saneamento (Saemac), Sindicato do Magistério Municipal de Campo Largo, o Sindicato dos Servidores Públicos da Administração Direta (SSPAD), o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Cerâmica (Sinpolocal), o Simencal, a NCST e a CNM CUT.

“O que se vê, em todas as cidades, é um descontentamento geral. E isso se reflete nas últimas pesquisas de popularidade de Michel Temer, uma queda abismal de popularidade”, explica Sérgio Domingos, diretor do Sindimovec.

Paranaguá

Petroleiros, amarradores, estivadores, vigilantes e professores estaduais bloquearam um trecho da BR 277, na pista do sentido Curitiba-Paranaguá, via de acesso ao Porto. A ação foi organizada pelos sindicatos das categorias.

Quedas do Iguaçu

Cerca de mil integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) trancaram temporariamente a rodovia PR-473, em frente ao acampamento Dom Tomás Balduíno, em Quedas do Iguaçu, região centro-oeste do Paraná. As famílias acampadas abordaram motoristas para debater a reforma da Previdência.

São Mateus do Sul

Operários da Usina de Xisto de São Mateus do Sul, região Sul do Paraná, atrasam por 1h30 a entrada na fábrica, em protesto contra a reforma da Previdência.

 

*Esta matéria foi produzida de maneira colaborativa, com participação de: Autieres Oliveira, Daniel Giovanaz, Davi Macedo, Ednubia Ghisi, Gibran Mendes, Luciano Palagano, Wellington Lenon, Julio Carignano, Pedro Carrano e Regis Luís Cardoso.

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Edição: Ednubia Ghisi